Criptografia do WhatApp não garante sigilo de mensagens em nenhum grupo com mais de duas pessoas

Seja no celular, no whatApp ou no Instagram, o ser humano é gregário. Gosta de falar com outras pessoal, se apresentar como bem informado perante o interlocutor e contar segredos dos outros
Fernando Castilho
Publicado em 23/08/2022 às 17:30
Alexandre de Moraes presidente do TSE Foto: NELSON JR./SCO/STF


O velho líder do MDB, Ulysses Guimarães costumava dizer que as chances do conteúdo de um telefonema em segredo entre duas pessoas se tornar publico eram de 100%, uma vez que cada um dos interlocutores não resistiram à tentação de contar para alguém.

O jornalista Eugênio Coimbra Júnior que, por muitos anos, foi secretário de Redação do Jornal do Commercio era conhecido por vazar qualquer segredo que alguém lhe contasse.

Certa vez, ao repassar a informação de uma traição amorosa que um colega estava sendo protagonista na equipe de política do JC, ele foi interpelado pelo rapaz que lhe confiara o segredo ao que respondeu de bate pronto: Meu filho, se você que está colocando esse chifre num companheiro não é capaz de guardar seu segredo, quer que eu leve isso para o túmulo?

As histórias servem de advertência para os cuidados que qualquer pessoa deve ter ao participar de grupo de WhatsApp e acreditam que o que afirma ali ficará em segredo entre todos os participantes.

Não vai. E para quem não sabe, basta um simples Exportar Conversa, nas Configurações do mensageiro para que o destinatário tenha não uma, mas todas as conversas copiadas segundo a segundo num arquivo de texto, áudio e vídeo.

Aliás, esse se tornou o procedimento padrão da Polícia Federal e do Ministério Público Federal em todas as apreensões de celulares o que torna impossível qualquer negativa do investigado.

Por isso, o caso dos oito empresários bolsonaristas suspeitos de compartilharem mensagens golpistas em um grupo de WhatsApp e objeto de uma ordem do ministro Alexandre Moraes que ainda ordenou o bloqueio das redes sociais deles e, até a quebra dos sigilos bancários, é bem ilustrativo.

Há uma tendência natural das pessoas que formam grupos no WhatApp em achar que o que falam ou escrevem ficará entre os amigos. E embora a decisão de Alexandre de Moraes posse ser interpretada como desproporcional a ponto de o o procurador-geral da República, Augusto Aras só ter sido informado na véspera da ação da PF, isso apenas mostra a fragilidade a que pessoas comuns estão expostas.

É natural. Seja no celular, no WhatsApp ou no Instagram, o ser humano é gregário. Gosta de falar com outras pessoal, se apresentar como bem informado perante o interlocutor e contar segredos dos outros.

Pouca gente lembra que o WhatApp foi o grande aliado do MPF e da Polícia Federal nas investigações na Lava Jato. O ex-juiz Sergio Moro é apontado como um dos primeiros a sistematizar o procedimento de captura de mensagens e de usá-las nas suas decisões pela força que elas adquiriam quando na transcrição.

O problema das defesas dos oito empresários não será o constrangimento da exposição de seus clientes em terem documentos levados de seus endereços. Mas explicar o contexto das suas afirmações no grupo cujo conteúdo foi vazado. Inclusive entre os seus pares.

Até porque a legislação enquadra claramente os crimes que eles teriam cometido quando disseram que preferiam que o presidente Bolsonaro liderasse um golpe de Estado a ter que conviver com num país governado pelo ex-presidente Lula da Silva.

O problema é, essencialmente, a exposição e, certamente, o silêncio de seus amigos e colaboradores e até do próprio Jair Bolsonaro que cuidou de dizer nesta terça-feira (23), durante almoço oferecido pelo fundador do Grupo Esfera Brasil, João Camargo, que não é golpista e não quer qualquer tipo de golpe no Brasil.

Na verdade, os oito apoiadores do presidente, no máximo poderão contar com o apoio dos filhos do presidente Flávio e e Eduardo que se queixaram da desproporcionalidade decisão de Moraes que determinou até o bloqueio das redes sociais desses empresários e a quebra dos sigilos bancários.

Mas, independentemente, do que possa acontecer de mal aos acusados, inclusive em termos de imagem de suas empresas nominadas pela imprensa, o fato serve para mostrar a fragilidade das pessoas nesses tempos digitais.

E lembrar uma velha frase de Tancredo Neves quando lhe perguntaram por que não costumava falar de assuntos mais sérios por telefone (que eram analógicos). "O telefone é uma invenção extraordinária. Serve para marcar uma conversa presencial".

O que nos leva a uma pergunta com texto, imagem em tempo real de uma videochamada e áudio de boa qualidade: Como seria a convivência de Tancredo Neves nesse tempos de WhatsApp, Tiktok, Facebook, Twitter e Instagram?

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