Sejamos razoáveis. Alguém acredita que sem os principais acionistas da Americanas S.A. - o poderoso trio formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira -, a empresa vai sobreviver?
Certamente que não. Uma Recuperação Judicial tem chances de sucesso quando quem pede se prepara e engorda o caixa e o estoque. No passado, empresas de varejo e no atacado que enfrentaram uma concordata (como a atual RJ se chamava) sempre fizeram isso. Não raro, deliberadamente.
Entretanto, a Americanas S.A. é um caso novo porque, no fundo, o que ela roda é, em grande parte, o estoque dos seus parceiros. Que nem sempre estão nas suas centrais de distribuição. E porque é grande demais para ser deixada à própria sorte.
Isso torna central o papel de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira no processo e praticamente os obriga a capitalizar a empresa.
Primeiro, para salvar o negócio gigante. Segundo, para cuidar da própria biografia, porque, se a Americanas S.A. não sobreviver, a partir de agora o chamado "grupo 3G" ficará conhecido internacionalmente como os homens mais ricos do Brasil que quebraram a Americanas.
Todo o sucesso e a mística que eles construíram ao longo de décadas será esquecida.
O que torna a questão da Americanas mais desafiadora é que o segmento de e-commerce que ela disputa trabalha um mercado onde não tem gente pequena. Esse novo modelo depende que os parceiros coloquem seus produtos para vender sobre o guarda-chuva da Americanas S.A.
Esse modelo não é uma coisa que o parceiro deseja. Ele precisa das plataformas para crescer e até sobreviver. Mesmo que eles entreguem e até financiem, antecipando os recebíveis.
Daí porque, numa situação como a enfrentada pela Americanas, apenas há uma semana, as empresas tomam cuidados para continuar a tratar com a varejista.
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Isso pode, no primeiro momento, ampliar os prazos de entrega, depois reduzir os estoques que eles precisam colocar nos Centros de Distribuição da Americanas S.A. por medo deles ficarem presos na RJ.
E num segundo momento, pela consequência disso, do "produto" Americanas S.A no mercado de e-commerce. Naturalmente, a compra no site americanas.com tende a se reduzir por medo do consumidor não receber o produto.
Isso impacta na loja física, que também depende de fornecedores. A Americanas tem, hoje, 3.500 pontos de venda física, sendo 1.021 lojas clássicas e 786 Americana Express. Então, numa RJ, é natural que o parceiro resista em entregar parte de seu estoque no CD da companhia.
Tudo isso torna essencial que Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira se apresentem e liderem a capitalização. Até porque eles sabem que uma empresa com a marca Americanas é grande demais para sair do mercado.
Claro que a empresa terá que, necessariamente, seguir o caminho da Recuperação Judicial. Não está no radar dos bancos que a empresa continue funcionando sem alguma proteção e sujeita às regras normais.
Nos últimos anos, a Lojas Americanas fundiu-se com a plataforma B2W, que nasceu como uma empresa de internet unificando suas operações numa única plataforma.
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Isso também pode levar a que ela se desfaça de outros negócios consolidados nos dois últimos anos, entre eles a rede Hortifruti Natural da Terra (79 lojas), além da criação da VEM Conveniência, joint venture com a Vibra (antiga BR Distribuidora), para unir BR Mania, rede de lojas de conveniência franqueadas em postos BR e rede Local, operada pela Americanas S.A.
Além disso, a empresa comprou o grupo Uni.co, dono de Imaginarium, Puket, MinD e Lovebrands, avançando na criação de uma plataforma de franquias. São negócios que os seus concorrentes já estão de olho e que a RJ pode ajudar.
Mas depois de uma semana do vendaval criado na manhã do dia 12 de janeiro, ninguém no mercado, inclusive com a frustração da apresentação de Sergio Rial na sede do BTG Pactual e ruidosa briga na justiça deflagrada pelo banco liderado por André Esteves, acredita que sem a participação firme de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira a empresa vai sobreviver.