Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
castilho@jc.com.br
Coluna JC Negócios

PAIXÃO PELO VINHO - No Douro, a Quinta Maria Izabel aposta no contemporâneo

Maria Izabel tem 140 hectares, dos quais 80 estão plantados com vinhas de, ao menos 17 castas, e mais 14 hectares de oliveira

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Fernando Castilho

Publicado em 20/01/2024 às 0:02 | Atualizado em 20/01/2024 às 11:12
A Quinta Maria Izabel na região do Douro em Portugal - Fernando Castilho

O empresário João Carlos Paes Mendonça costuma dizer que virou produtor de vinho em Portugal, junto com o irmão Reginaldo, por acaso. Quando decidiu estabelecer uma morada em Lisboa, em 2009, o objetivo era o de ter um ponto de apoio para poder conhecer melhor a Europa a partir de Portugal, além de descansar.

De fato, como líder do setor de supermercado por décadas ele já esteve na Europa ao menos 50 vezes. Mas sempre a negócios. Foi um período em que visitou as empresas líderes do setor de cada país, participar de eventos do segmento, congressos e feiras internacionais sem muito tempo para “arruar pelas belas cidades dos diversos países” relembra hoje João Carlos.

 

O empresário Joao Carlos Paes Mendonça na Quinta Maria Izabel. - Divulgação

“Nessa época, não havia a Internet e o empresário que desejasse se manter atualizado tinha que ver tudo de forma presencial. Fiz isso na Europa e nos Estados Unidos, mas sempre para ver o que tinha de novo no setor, numa espécie de bate volta internacional”, lembra.

A venda da rede Bompreço, saindo da rotina acelerada de acompanhar aquela que chegou a ser a terceira maior rede de supermercados do País, a nova operação concentrada em shopping, lhe possibilitaram ter mais tempo para viajar. E ele decidiu ter um endereço em Lisboa.

“E, de fato, durante algum tempo eu ao lado de Auxiliadora (sua esposa há 58 anos) pude ver cidades e países com mais atenção”. E, naturalmente, as amizades surgiram enquanto fui tomando conhecimento sobre vinho, bebida que trocou depois de décadas de degustação do uísque Black White.

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Ele conheceu mais de perto a região do Douro, passou a frequentá-la com assiduidade, até que um amigo português lhe apresentou uma proposta de aquisição de uma quinta, localizada do distrito de Folgosa (Portugal), cujo dono faleceu após estruturá-la como vinícola, sem sequer degustar sua primeira colheita como empresa. Nasceu a Maria Izabel, numa homenagem às mulheres do Brasil e de Portugal.

Menos de uma década depois, a empresa virou um negócio estruturado, moderno e que se incorporou dentro do movimento de renovação da atividade vinícola da região. O Douro Contemporâneo tem um perfil de produção marcado pela inovação no campo, sustentabilidade, rigor na produção industrial, atenção na guarda da produção e criatividades de novos produtos com a característica de vinhos pouco alcalinos mais agradáveis ao paladar.

A quinta Maria Izabel produ 17 rótulos de vinho na Região do Douro em Portugal. - Fernando Castilho

A Maria Izabel tem hoje 140 hectares, dos quais 80 estão plantados com vinhas de, ao menos 17 castas, e mais 14 hectares de oliveiras depois que a empresa decidiu entrar no ramo de azeites de alto padrão. Ela está numa propriedade com altitude entre 200 e 680 metros ao nível do mar, voltada para o Rio Douro na margem direita. João Carlos se uniu ao enólogo Dirk Niepoort, reconhecido como um dos mais criativos estruturadores de vinhos da Europa.

Segundo o diretor geral e de marketing da Maria Izabel, Thiago Dias Silva, a empresa que, em 2016, produziu pouco mais de 50 mil garrafas, chegou às 300 mil unidades na safra de 2022 (considerada uma das melhores em todo setor vitivinicultor de Portugal) e com uma linha de produtos que vem se destacando no mercado.

Ele oferece um total de 17 rótulos de vinhos de qualidade onde alguns chegam aos 95 euros, caso do Sublime, um branco estruturado com seleção castas que teve a consultoria de Dirk Niepoort consultor da empresa construiu um relacionamento profissional e afetivo com a Maria Izabel e com o empresário que dura até hoje.

Como exige a legislação do Douro, toda quinta da região precisa produzir, ao menos, um rótulo de Porto de modo a preservar a tradição e marca de um produto que virou sinônimo de Portugal. As empresas, entretanto, podem vender parte de sua produção de uvas para grandes produtores donos de marcas tradicionais no mercado internacional.

Hoje, a Maria Izabel tem no mercado os títulos Bastardo, Vinhas da Princesa, Maria Izabel, M. I. Porto e Sublime, um vinho que ficou pronto em 2016 e que une as casta Tinta Roriz - Fonte do Toiro, Tinta Francisca - Cruz, Tinto Cão, Touriga Nacional - Carrascal e resulta num Vinho de cor rubi profunda e aroma intenso.

O Quinta Maria Izabel Douro Sublime 2020 recebeu, em 2023, a pontuação 95 (cinco estrelas) no ranking no respeitado site do James Suckling que avalia os melhores vinhos do mundo. Outros vinhos da Maria Izabel também receberam premiações de quatro estrelas.

Em ocasiões especiais, ela produzirem seu próprio Porto. A Maria Izabel fez isso na safra 2015, um ano de inverno rigoroso que proporcionou uma tonalidade rubi profunda da vinha Cima Corgo, de grande concentração, fazendo a empresa colocar no mercado um Porto vintage que teve uma grande aceitação pelo que entrega ao cliente.

Mas ela já se propôs a produtos mais elaborados, a partir de colheitas especiais como fez em 2017 ao lançar uma edição especial de apenas 1.000 garrafas do Bastardo, um tinto entregue em embalagens de luxo. O Bastardo é um vinho de cor vermelho Ruby, apresenta a frescura jovem de um vinho muito aromático, com notas de fumo, café, tabaco, erva seca e ameixas e foi rapidamente, comercializado em Portugal ao preço de 199 euros.

Diretor geral e de marketing da Maria Izabel, Thiago Dias Silva. - Fernando Castilho

Tiago Dias da Silva revela que a estratégia de vinhos com menor teor alcoólico resulta de uma opção de colheitas efetuadas em vindimas no começo da temporada anual do Douro, em meados de agosto, de modo a ter um gerenciamento melhor da qualidade de taninos e de açúcares da safra adequado aos objetivos de linha de produtos de tonalidades mais claras.

“Isso nos permite ter controle dos processos até porque trabalhamos como a média de seis anos para colocar nossos produtos no mercado, embora sempre estejamos inovando com vinhos de consumo imediato. Em 2019, por exemplo, fizemos o Glou Glou, um vinho jovem que estagiou cerca de 10 meses em cuba e cerca de 5 meses em garrafa. que foi bem aceito pelos nossos clientes”, diz o executivo.

A Maria Izabel cresceu e nos últimos anos, ampliou sua capacidade industrial, seu potencial de guarda na adega em barris de carvalho francês, barricas de média tosta e novas ações de marketing de modo a referendar o trabalho de campo do enólogo Nuno Santos.

É ele quem cuida dos tratos agrícolas e da ampliação das áreas de cultivo uma vez que foram adquiridas duas novas áreas onde estão as oliveiras e castas destinadas a novos produtos. A também enóloga Rosa Borges gerencia a adega hoje como mais de 100.000 garrafas em maturação.

Na vindima, Nuno Santos lidera o trabalho de ao menos 40 pessoas contratadas temporariamente. Eles se somam aos oito que atuam de forma permanente na empresa que, pelo seu perfil, também tem um centro de visitação com degustação e venda de produtos direto ao consumidor.

João Carlos tem uma casa na propriedade voltada para o rio de onde se descortina uma bela imagem do Douro nas manhãs e, especialmente, ao entardecer.

Nela, o empresário tem recebido amigos e produtores de vinhos com quem acabou construindo um ciclo de amizades que o fizeram ser convidado para fazer parte da respeitada Confraria de Vinhos do Douro.

Ele agora está programando a construção de um pequeno hotel, com 16 quartos. O projeto está em análise da Câmara local também dentro do conceito de hotel boutique focado no enoturismo que a cada ano leva mais pessoas ao Douro, considerada a região vinícola mais charmosa de Portugal.

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