A empresária Eduarda Dias cresceu entre pallets e milhares de garrafas de vinho em Pernambuco. Filha do empresário Licínio Dias (falecido em 2020) e neta de Fernanda Dias, considerada a maior referência no Brasil no Bolo de Rolo, acabou se interessando pela produção de vinho na região da Bairrada depois que conheceu um jovem enólogo com quem viria a se casar construir uma linda família e produzir uma nova marca a partir da cepa Baga.
Isso aconteceu quando foi levada pelo seu pai a conhecer a Vinícola Esporão onde trabalhava o enólogo Luís Patrão, a quem foi apresentada, iniciando uma história de amor e de paixão pela produção de vinhos a partir da cepa onde o então namorado nasceu.
Enólogos da Bairrada
Eles se juntaram ao grupo de enólogos locais que desde 2015 vem trabalhando no projeto de melhorar a imagem da cepa Baga. Esta cepa durante anos foi considerada sem potencial de mercado e era usada apenas para produção de vinhos vendidos na própria região. A Bairrada é uma das mais antigas regiões produtoras de vinhos da Europa, massua característica é ter essencialmente micro propriedades o que inviabilizava grandes empreendimentos.
O que o casal de jovens empresários se propõe é produzir e distribuir por vários países a marca Vadio, cuja ousadia já está no nome e que a cada ano se consolida. Tradicionalmente, os vinhos de Portugal são conhecidos pela região onde são colhidas suas uvas e por serem produzidos por marcas que levam o nome das famílias dos produtores. Ou das vinícolas tradicionalmente denominadas de quintas.
Mas não foi esse o caminho que Eduarda e o marido decidiram percorrer. Quando, ao herdarem uma propriedade de apenas meio hectare, e na qual decidiram produzir vinho com qualidade superior a partir de um melhor tratamento da plantação das uvas, apostarem no marketing e na sua comercialização para chamar atenção.
Nasce a marca Vadio
Deu certo, hoje a marca Vadio com seis produtos está à disposição de clientes em 20 países, entre eles, restaurantes com estrelas Michelin e em distribuidoras europeias que procuram atender a clientes que desejam produtos diferenciados.
Mas não foi fácil, segundo Eduarda Dias. Nos primeiros anos, ao fazer contatos para vender o seu vinho, houve enorme resistência de clientes pela imagem ruim da cepa Baga.
Segundo ela, foi necessário muito trabalho, esforço e persistência para que ao menos os clientes em potencial provassem o seu produto. Curiosamente, foi fora de Portugal que ela obteve os primeiros resultados, especialmente na Inglaterra. O país ainda hoje é um comprador importante ao lado da Alemanha e, mais recentemente, a Filipinas.
Segundo Patrão, existe um grande potencial na cepa Baga porque ela suporta uma evolução ao longo dos anos dos vinhos com os quais é feito. Conhecedor do potencial pela profissão de enólogo, decidiu apostar na produção apenas com essa uva de seus produtos que levam a marca Vadio
Talvez pela idade dos empresários quando da definição do nome a marca já exprima uma certa ousadia em relação às demais marcas do mercado, mas, segundo Eduarda Dias, o nome foi de propósito. Assim como a decisão de criar um rótulo bem simples e claro feito por um design pernambucano.
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Distrbuição no Brasil
Naturalmente, a marca Vadio acabou sendo distribuída no Brasil pela importadora do pai de Eduarda, Licínio Dias, que também foi o primeiro investidor no projeto, emprestando ao casal os primeiros R$ 30 mil com os quais eles começaram a ampliação com a aquisição de pequenas áreas ao redor da quinta que Patrão recebera da família.
Hoje, após 17 anos, a empresa conseguiu comprar e planta em 9 hectares de terras de onde estrai sua produção de até 50.000 garrafas por safra.
Eduarda Dias admite que, depois do trabalho feito ao longo de anos, inclusive nos Estados Unidos onde estudou e trabalhou como cientista política, enquanto em Portugal o marido trabalhava noutras vinícolas está mais fácil entregar sua linha de vinhos de guarda.
Segundo Eduarda, o objetivo da marca Vadio é ocupar um mercado de nicho que procura e paga por vinhos de excelência e que suporte ser guardado para melhorar sua qualidade.
Mirando o futuro
A empresa guarda ao menos 10% do que faz de melhor como estratégia para o futuro. Eles se orgulham de ter estoque de suas safras desde 2005, e de só colocar no mercado produtos com, ao menos, três anos de guarda acompanhada.
Isso exige investimento de capital, pois a maior parte do estoque fica envelhecendo. Mas eles não têm dúvida de que, em breve e no futuro, o Vadio será um dos produtos de maior credibilidade no mercado internacional, embora isto signifique vender apenas 3.000 garrafas.
Nós não temos pretensão de ser um vinho que seja encontrado na gôndola de um supermercado. O trabalho de anos é para que, no futuro, a guarda das safras remunerem o capital investido nessa guarda nos nossos depósitos. Mas não foi fácil. Até porque a empresa só começou a ter volume quando o casal começou a ampliar o tamanho da propriedade reinvestindo quase toda a receita.
Segundo Luis Patrão, a Bairrada é, marcadamente, uma região de micro produtores, o que, no máximo, chegam a ter três ou quatro hectares. Juntar quase dez hectares foi um trabalho de anos e de reinvestimento de todo o resultado da vinícola do negócio no empreendimento.
Isso quer dizer que hoje os quase dez hectares podem ser considerados um grande empreendimento em um vale que tem pouco mais de 300 hectares denominado de Bairrada e que agora já começa a ser observado por outros empresários que que dali se extrai.
Eduarda e seu marido mantêm o foco no nicho que pretendem ocupar, enquanto vão fortalecendo a marca. Um deles é o restaurante Aqua, na Alemanha, com três estrelas Michelin e que acabou virando um dos grandes divulgadores do Vadio no país.
Distrbuição em Pernambuco
No Brasil, a marca é distribuída pela distribuidora Épice das irmãs filhas Licínio que herdaram o empreendimento com o falecimento dele em 2020. A empresa (que tem como sócios Manoella Dias, Luli Dias, Nivaldo Oliveira) continua como importadora de vinhos para centenas de rótulos de vários países, mantendo um negócio de mais de 40 anos, iniciado pelo seu avô que também era de origem portuguesa e já atuava no mercado de importação de bebidas.
O curioso do Vadio é que ele já consegue ter safras de tintos vendidas a 100 euros em restaurantes em vários países, o que atesta sua qualidade. Embora a empresa para se manter precise vender os 90% restante da produção e assim ampliar o faturamento.
Segundo o Eduarda Dias, sua empresa não quer ser conhecida como uma grande produtora até porque não é. E ainda porque não tem como usar apenas a cepa para ampliar a produção em escala das grandes vinícolas de Portugal.
Invertimento na terra
“O que encanta é que a cepa Baga, devido ao investimento em melhoria e cuidados no campo, vem se provando aquilo que desde o começo, ao completar minha formação, acreditei que ela poderia se transformar”, diz o enólogo e produtor. “Não é fácil, não é simples, não é barato e exige muita dedicação, já conseguimos, ao longo dos 17 anos, ter posicionamento de mercado” diz Eduarda.
Pai de Bento, o segundo filho do casal, nascido no dia 7 de dezembro, ele ainda se divide no trabalho da companhia e da família. Eduarda faz a comercialização e desenvolve estrutura de marketing, seu marido ainda trabalha numa grande vinícola dedicando parte do tempo à propriedade do casal na Bairrada.
Apostando que a marca Vadio será uma referência, especialmente, entre os que buscam um vinho envelhecido que tenha um sabor marcante e que o torne diferenciado.