Com informações da Assesoria do Epinne-EPB 2024*
Ao participar na manhã de ontem, (25) do Encontro dos Profissionais de Investimentos e Previdência dos Fundos de Pensão do Norte e Nordeste (Epinne-EPB 2024), o economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, traçou um panorama sobre os desafios demográficos e as implicações para a previdência social e o mercado de trabalho no Brasil.
Lembrando que quando o Censo de 2022 revelou que o Brasil tem uma população de 203 milhões de habitantes, menor do que os 213 milhões estimados uma década antes, o envelhecimento populacional coloca uma pressão adicional sobre a previdência social, que já enfrenta um cenário desafiador mesmo após a recente reforma da previdência. Sumiram 10 milhões de habitantes do Brasil ou seja um Portugal desapareceu no censo do Brasil.
Durante sua palestra no Encontro dos Profissionais de Investimentos e Previdência dos Fundos de Pensão do Norte e Nordeste (Epinne-EPB 2024), organizado pela Fachesf em parceria com a Compesaprev e Bandeprev Almeida disse que a taxa de crescimento populacional caiu para 0,5% ao ano. "Em 2030, cerca de 20% da população terá mais de 65 anos. Essa mudança demográfica ocorreu em um ritmo muito mais acelerado do que em países desenvolvidos como a França e os Estados Unidos.
O Brasil está tendo uma mudança demográfica muito mais rápida do que a gente esperava, para todos os países e as pessoas têm menos filhos. Então, é uma realidade muito diferente, mas isso não é o que nos preocupa no curto prazo.
Mansueto Almeida falou sobre a taxa de desemprego no Brasil que caiu para 7,1%, a menor desde 2014, refletindo uma melhoria no mercado de trabalho. Mas advertiu que em alguns estados, como Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, a taxa de desemprego está abaixo de 4%, criando dificuldades para a contratação de mão de obra.
Tenta contratar alguém no Mato Grosso do Sul hoje para um projeto de reflorestamento ou tentar contratar alguém para algum grande investimento em Santa Catarina? Você vai ter dor de cabeça. Porque nesses estados a taxa de desemprego está entre 3,5% e 3,6%.
O economista enfatizou a importância de investir na educação das crianças que entrarão no sistema educacional nos próximos anos, garantindo uma força de trabalho qualificada para o futuro.
No entanto, Almeida destacou que a alta carga tributária brasileira, que representa cerca de 32% do PIB, é uma das mais elevadas entre os países de renda média. Apesar disso, o país enfrenta um déficit primário significativo, o que exige um ajuste fiscal gradual. "O ajuste fiscal não pode ser feito em dois ou três anos devido às despesas obrigatórias, como salários de servidores públicos", explicou.
O executivo também mencionou que um aumento inesperado de receita pode ser problemático devido às regras constitucionais que exigem gastos mínimos em saúde e educação.
Ele observou melhorias significativas nas últimas semanas, com a ala política do governo dando maior sustentação aos planos fiscais dos ministérios da Fazenda e do Planejamento. O anúncio do contingenciamento de R$15 bilhões no último Relatório Bimestral de Receitas e Despesas foi um passo na direção certa, mas não suficiente para o cumprimento da meta fiscal. "O corte de gastos torna mais clara a intenção do governo em respeitar a meta", afirmou.
Mansueto Almeida também falou sobre a balança comercial do Brasil que registrou um saldo positivo de US$100 bilhões no ano passado, impulsionada pelas exportações de petróleo do pré-sal.
"No momento da descoberta do pré-sal, estimava-se que a reserva seria de 5 bilhões de barris, mas constatou-se uma reserva de 14 bilhões", disse. Para este ano, ele projeta um saldo comercial de US$95 bilhões, impactado pelos efeitos do El Niño na produção agrícola. Almeida prevê que o crescimento da balança comercial é estrutural e deve continuar até 2030.
Embora a inflação projetada para os próximos anos esteja acima do centro da meta, os números esperados representam uma melhora importante em relação ao histórico inflacionário do país. A inflação projetada é de 4,05% para 2024, 3,9% para 2025 e 3,6% para 2026. "Se a inflação esperada pelo mercado se confirmar, será a menor em um período de quatro anos desde o Plano Real", afirmou.
A despeito da alta recente do dólar, que está cotado próximo de R$5,63 e acumula uma valorização de 16% desde o início do ano, Mansueto Almeida argumentou que essa valorização não reflete os reais fundamentos da economia brasileira. "O mercado precifica um cenário de quase crise fiscal, que não é verdade", disse.
Ele explicou que a principal preocupação do mercado é sobre o cumprimento da meta fiscal. Nesse sentido, Almeida destacou que nas últimas semanas houve uma sinalização positiva, com a ala política do governo oferecendo maior sustentação aos planos fiscais dos ministérios da Fazenda e do Planejamento.
Antes dessa sustentação, a falta de respaldo da ala política resultou em um cenário de incerteza que deteriorou a percepção do mercado. "Ninguém esperava o dólar a R$5,60 há três meses e a curva de juros precificando uma alta de 1 ponto percentual até o fim do ano", explicou.
O anúncio do contingenciamento de R$15 bilhões no último Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, segundo ele, embora positivo, não é suficiente para garantir o cumprimento da meta fiscal. "O corte de gastos torna mais clara a intenção do governo em respeitar a meta", disse.
Almeida também destacou as reformas estruturais que o país realizou nos últimos anos, como o novo Marco do Saneamento, que resultou em uma série de investimentos no setor, incluindo a privatização da Sabesp.
Ele mencionou que as contas externas do Brasil estão sólidas, com a balança comercial registrando um saldo positivo e com a previsão de continuar crescendo até 2030, impulsionada pela produção de petróleo do pré-sal e pela possível exploração da Margem Equatorial, que poderia colocar a Petrobras em um novo ciclo de produção.
Apesar do cenário desafiador no curto prazo, o economista-chefe do BTG Pactual expressou otimismo quanto ao futuro do Brasil. Ele destacou que a inflação projetada para os próximos anos está em uma trajetória de melhora e que, se o governo cumprir a meta fiscal, haverá um ambiente mais favorável para o mercado. Ele também previu que o início dos cortes de juros nos Estados Unidos, esperado para setembro, contribuirá para um cenário mais positivo. "O Brasil melhorou muito e tem tudo para dar certo”, finalizou.