Provavelmente, você já alimentou ou conhece alguém que já alimentou um sagui. Mas o que você não saiba é que não é recomendável dar comida para esses animais. Muitas vezes, neste contato, os seres humanos podem passar vírus que são extremamente letais para o animal, como o herpesvírus humano.
Os saguis são classificados como animais sinantrópicos, assim como os timbus. “São aqueles que, de alguma forma, se adaptaram a conviver com o ser humano. Não por que eles querem, mas porque eles precisam, já que a gente está, a cada dia mais, ocupando a casa deles”, explica o estudante de medicina veterinária e extensionista Gustavo Oliveira.
De acordo com o estudante, que pesquisa sobre o tema, o herpesvírus humano se manifesta nas pessoas quando a imunidade está baixa e não é tão perigoso, mas quando infecta os animais pode acarretar no desenvolvimento da doença de forma sistêmica e até levar à morte.
É importante ressaltar que existem vários tipos de vírus herpes, em humanos e em não humanos.
O primeiro caso de herpesvírus humano em um primata não humano foi registrado na década de 60, conta Gustavo. E não são apenas os saguis que podem se infectar, mas a incidência sobre eles é mais comum por serem sinantrópicos.
A contaminação se dá principalmente por meio do contato de humanos infectados ao alimentar os saguis.
“Através do contato com os seres humanos que estão com a doença de forma sintomática, quando apresenta as feridas herpaticas, pode ocorrer pelo contato direto do animal com a ferida, ou a mucosa, ou mesmo pelo contato de alimentos contaminados, que é o mais comum.
A pessoa apresentando uma pequena ferida na boca, às vezes não dá importância, e morde um biscoito e dá para um sagui, isso dissemina a doença entre eles. É um problema sério”, explica Gustavo.
A transmissão pode acontecer também de uma forma menos direta. Se o humano infectado tiver uma ferida e passar a mão nela antes de entrar em contato com um sagui, ele pode contrair a doença e desenvolvê-la rapidamente.
“A doença nos saguis tem uma evolução rápida, em média de uma semana. O animal apresenta conjuntivite, úlceras na língua, boca e lábios. Além desses sintomas eles podem apresentar apatia, moleza e sinais neurológicos. Na maioria dos casos o animal vem a óbito”, diz Gustavo.
O vírus da herpes humano vitimou 17 saguis em um curto intervalo de tempo em 2020 em Aldeia, no Grande Recife. “Inicialmente, estava se pensando que as mortes estavam atreladas à febre amarela, mas o laudo mostrou que a causa foi o herpesvírus”, diz a doutoranda em biociência animal Amanda Bispo, que atua na mesma extensão de Gustavo.
Diante da proximidade com a natureza, alguns moradores acabam alimentando animais como os saguis. “É muito comum as pessoas acharem o animal bonitinho porque ele está próximo e por não ser arisco. Esse contato direto pode vir a transmitir esse vírus”, afirma a doutoranda.
“A indicação correta é que a população não alimente esses animais, mantenha distância e respeite o espaço. Eles vão querer ir atrás de comida, mas você tem que evitar”, orienta Amanda.
Ao alimentar saguis e outros animais silvestres, os humanos também estão expostos a infecções, destaca o estudante de medicina veterinária. “É uma via de mão dupla, a gente oferece riscos a eles e eles oferecem para nós. É um problema complexo de saúde pública que deve ser debatido”.
Além da possibilidade de propagar doenças, o ato de alimentar sagui pode torná-los dependentes dos seres humanos. Por isso, é tão importante evitar esse tipo de contato.
“Esses animais silvestres não devem ser alimentados. Isso faz com que voltem todos os dias ao local, em busca de alimento. Em vida livre eles têm disponível a quantidade de alimento necessário”, explica Juliana Summa, diretora da Divisão da Fauna Silvestre (DFS) da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo.
A especialista destaca que a disponibilidade de maior recurso também pode influenciar maior reprodução e eventual aumento desequilibrado da espécie.