Buracos na PE-15 obrigam BRT Norte-Sul a ter trecho de dois quilômetros desativado

Publicado em 16/03/2018 às 13:52
Foto: NE10


BRTs passam na pista de tráfego comum, bem longe das estações refrigeradas do sistema. Fotos: Filipe Jordão/JC Imagem

 

O que era ruim ficou ainda pior. Muito pior. A degradação da rodovia PE-15, eixo principal do Corredor de BRT Norte-Sul (que liga o Centro do Recife ao município de Igarassu, na Região Metropolitana), chegou ao limite, forçando o governo de Pernambuco a interromper o embarque e desembarque em parte do sistema. Desde o início da manhã deste sexta-feira (16), três estações de BRT estão desativadas em Olinda porque faltam condições de trafegabilidade para os veículos no trecho em frente ao 7º Grupamento de Artilharia de Campana (GAC).

Além dos BRTs, os ônibus comuns também foram forçados a sair do corredor exclusivo – fundamental para dar velocidade aos coletivos – e brigar por espaço misturados aos veículos particulares nas pistas locais da PE-15. Pelo menos até a próxima terça-feira (20), o transtorno deve permanecer. Estão desativadas temporariamente as três primeiras estações do Corredor Norte-Sul, no sentido Centro-subúrbio: Sítio Histórico, Quartel e Bultrins, totalizando aproximadamente dois quilômetros de interrupção. Há pelo menos um mês enormes buracos tomaram conta da PE-15 em frente ao 7º (GAC), sem que nada fosse feito.

Os BRTs e os ônibus convencionais começaram a desviar por uma faixa de terra improvisada que separa o corredor da pista de tráfego misto, comprometendo não só a manutenção dos veículos, mas o conforto dos passageiros e o cumprimento das viagens. Passageiros, inclusive, estavam embarcando nos coletivos no meio da poeira e correndo risco de atropelamento. Os buracos, entretanto, foram aumentando até que as operadoras decidiram que não iam mais submeter passageiros, operadores e veículos àquela situação. Em acordo com a Secretaria das Cidades e o Grande Recife Consórcio de Transporte (GRCT), decidiram realizar o desvio.

 

 

O Norte-Sul tem problemas em toda sua extensão, tanto no pavimento como nas estações – cada dia mais degradadas –, mas a situação ficou impraticável apenas em frente ao 7º GAC. Como não há rotas de fuga no trecho dos buracos, foi necessário desativar três estações de uma vez. Segundo o GRCT, os desvios impactam diretamente na vida de 47 mil passageiros, transportados em 12 linhas – 7 delas de BRT – operadas por 176 ônibus. Os passageiros dos BRTs - 3 mil - são os mais afetados porque não podem embarcar ou desembarcar no trecho.

O órgão não quis estimar o tempo de viagem que está sendo perdido por causa do transtorno, mas segundo motoristas e passageiros, são de 20 a 30 minutos a mais nas viagens. “O problema são os horários de pico, quando o volume de ônibus é maior e o de carros também. Como temos que ir para a pista comum, de tráfego misto, perdemos tempo. Mesmo sendo um trecho relativamente pequeno, o impacto na viagem é grande porque, no caso do percurso subúrbio-Centro, já sofremos na Avenida Cruz Cabugá, que congestiona e não tem faixa exclusiva”, explica o motorista de BRT Antônio Silva.

 

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Para ter acesso ao BRT, os passageiros têm que pegar um ônibus convencional até o Terminal Integrado da PE-15 e entrar no sistema. No trecho interditado, os BRTs passam direto, sem fazer embarque ou desembarque. Mas a maioria das pessoas têm desistido de usar o BRT e optado pelo ônibus comum. “Não vale a pena.

É melhor abrir mão do BRT e ir no comum mesmo, que demora muito mais porque não tem o corredor. É um absurdo terem deixado a situação chegar a esse ponto. É o passageiro, como sempre, quem sofre”, reclama a funcionária pública Ivalda Nunes da Silva, que tentou embarcar em duas das três estações de BRT que estão desativadas.

 

Segundo o TCE, já foram gastos mais de R$ 28 milhões no pavimento do corredor, que deveria durar 15 anos e já encontra-se destruído. Há 15 dias, situação estava crítica, como mostra a foto.

 

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PREVISÃO

O secretário executivo das Cidades, Marcello Amyntas, garantiu que o Estado está empenhando em resolver o problema no pavimento do Norte-Sul, mas deixou claro que será mais uma ação emergencial – lembrando que o corredor está em operação há apenas quatro anos e que as pistas, depois de serem recuperadas na construção do sistema de BRT, vêm sofrendo com a degradação desde 2015.

 

Ano passado, algumas estações também ficaram sem operar porque o governo teve que jogar terra no trecho para amenizar os buracos. “Em três dias, se não chover, conseguimos resolver aquele ponto específico em frente ao 7º GAC. Queremos começar ainda nesta sexta-feira (16). Vamos tentar levar, inclusive, as equipes para o local no sábado. Agora, precisaremos de 45 dias para atacar todos os pontos do corredor que precisam ser recuperados”, explicou.

O Corredor Norte-Sul, é importante ressaltar, está sem contrato de manutenção porque a obra ainda não foi entregue oficialmente e a empresa responsável, o Consórcio Enza/Enterpa, abandonou o contrato. Por isso, o governo de Pernambuco depende da ajuda das Prefeituras de Olinda e Paulista – cidades que são cortadas pelo Norte-Sul – para fechar os buracos. São os municípios que estão financiando a recuperação. “Há algum tempo já identificamos problemas no pavimento do corredor e estamos cobrando das empresas responsáveis.

Temos conversado com o Enza/Enterpa, que executou a obra, e a Maia Melo, responsável pelo projeto, para saber onde está o erro: se no projeto ou na execução. Ainda não temos um diagnóstico, mas estamos atentos até para podermos responsabilizar os culpados”, garantiu Marcelo Amyntas. Confira vídeo com o TCE

ALVO DO TCE A degradação do Corredor de BRT Norte-Sul já virou alvo do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Uma auditoria especial acompanha a implantação do corredor desde 2012 e os problemas têm escandalizado os engenheiros do Tribunal. Segundo o Núcleo de Engenharia, corpo técnico que está subsidiando a auditoria especial, o governo do Estado já gastou R$ 28,3 milhões com uma pavimentação que deveria durar, no mínimo, 15 anos. Mas que se desfez em menos de quatro anos de operação. O julgamento da auditoria está para sair em breve e será feito pela conselheira Teresa Dueire.

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