Eleições e o aumento das passagens de ônibus

Publicado em 18/03/2018 às 12:00
Foto: NE10


Fotos: Diego Nigro/JC Imagem  

 

A confusão que virou o reajuste das passagens de ônibus da Região Metropolitana do Recife deve se prolongar por mais um bom tempo e, pela reação do governo de Pernambuco ao tema – de total silêncio –, as tarifas não deverão aumentar este ano. As razões para isso: a certeza de um desgaste político extremo num ano de eleições em que o governador Paulo Câmara é candidato à reeleição.

A leitura de quem vive o processo é de que o ‘time’ do aumento passou. Como não saiu no início do ano – devido à decisão judicial liminar (provisória) de que havia irregularidades no processo de justificativa do aumento –, seria extremamente desgastante que fosse dado a partir de agora, quando as arrumações eleitorais ganham força e a população fica mais atenta aos gestos políticos. Na prática, o Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM) está liberado pela Justiça Estadual a convocar nova reunião para discutir o reajuste tarifário. O faz quando quiser.

O que está vetado é colocar em prática um possível aumento, caso ele seja aprovado. A explicação foi dada pelo próprio juiz que está à frente do processo do aumento das passagens, Djalma Andrelino Nogueira Júnior, titular da 4ª Vara da Fazenda Pública da Capital.

 

LEIA MAIS

Justiça suspende aumento de passagens de ônibus do Grande Recife

Governo estuda acabar com a obrigatoriedade do seguro dos ônibus, aquele que indeniza passageiros

MPPE cobra explicações sobre o fim do seguro dos ônibus no Grande Recife

 

Segundo o magistrado, que mesmo de férias conversou com a reportagem, a expectativa é de que a sentença seja dada em abril, provavelmente depois do dia 15. Enquanto isso, a população pode comemorar porque o reajuste não acontecerá. “Decidi por não autorizar a aplicação de um possível aumento, mas permiti que o Conselho Superior de Transporte Metropolitano se reúna porque entendo que a reunião é necessária para chancelar ou não a necessidade do reajuste das tarifas. Ela não traz riscos para a população. O que poderá trazer é se esse aumento for dado sem necessidade.

E é exatamente essa necessidade que está sendo analisada e será julgada por mim. Por isso a reunião pode acontecer quando o Conselho entender que deve convocá-la”, explicou o magistrado. Em janeiro, poucos dias antes de o CSTM se reunir para votar um novo aumento das passagens, a Rede de Articulação pela Mobilidade (Ramo) e o Centro Popular de Direitos Humanos (CPDH) deram entrada numa ação civil pública argumentando que não havia necessidade de reajuste tarifário e denunciando irregularidades na composição do Conselho responsável por votar a majoração.

Foi quando o magistrado concedeu tutela cautelar e pediu informações ao governo do Estado para que justifique a necessidade do aumento. Na tentativa de destravar o processo, o CSTM prorrogou os mandatos dos conselheiros, mas segundo a Justiça a medida fere o regulamento do próprio Conselho.

 

 

“No processo, é preciso analisar dois aspectos: se a composição do Conselho tem ou não falhas e se o reajuste tem justificativas técnicas”, destaca o juiz Djalma Andrelino Nogueira Júnior. O magistrado lembra, entretanto, que o processo é dinâmico e, mesmo após a sentença, as coisas podem mudar. “A decisão final pode ser contra o reajuste, mas no decorrer do tempo podem surgir fatos novos que justifiquem o aumento, por exemplo”, explica. Lembrando que a decisão será em primeira instância, cabendo recursos em diversas fases.

Na avaliação de Djalma Andrelino, o processo eleitoral que está batendo à porta tem influência direta sobre a decisão do governo de não convocar o CSTM para discutir um possível reajuste. “Muitas vezes o governo não quer aumentar a passagem, principalmente em ano eleitoral. Por isso acredito que estão fazendo estudos para tentar reduzir custos do sistema. É o caso da análise para desobrigar as operadoras a pagar o Seguro de Responsabilidade Civil (que cobre danos morais e materiais de passageiros e operadores nos ônibus)”, afirma o magistrado.

 

 

SILÊNCIO TOTAL

O governo de Pernambuco se fechou em copas sobre o reajuste das tarifas de ônibus. A reportagem procurou o Grande Recife Consórcio de Transporte (GRCT), órgão que responde pelo sistema de transporte da RMR e que dá sustentação técnica aos aumentos, mas não conseguiu entrevistar ninguém. Em uma nota com menos de uma linha de resposta, o órgão deixou claro que o assunto está proibido no governo. “O Grande Recife informa que a recomposição tarifária não está em pauta no momento”, foi tudo que a nota informou.

Os empresários de ônibus, por sua vez, continuam defendendo o realinhamento tarifário. Segundo a Urbana-PE, embora um pouco menor do que no ano passado, a demanda de passageiros continua caindo – algo entre 6% e 7%, enquanto que em 2017 foi de 10%. Por isso, a única saída é equilibrar custos. E só há duas formas de fazer isso: reduzindo o serviço de transporte para que a receita consiga cobrir as despesas ou aumentando os subsídios do governo, que em 2017 chegaram a R$ 240 milhões. A receita de bolo, vale ressaltar, é velha conhecida de todos: empresários e gestores do sistema de transporte.

TAGS
mobilidade transito transporte público
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory