POR ROBERTA SOARES, DA COLUNA MOBILIDADE
Propostas jurídicas que possam manter o emprego dos motoristas, cobradores e fiscais de ônibus da Região Metropolitana, que começaram a ser demitidos nos últimos dias devido à crise provocada pela pandemia do coronavírus, foram discutidas entre o governo de Pernambuco e os empresários do setor nesta quarta-feira (1º/4). Depois de conversar com o sindicato da categoria, o Estado esteve com o setor empresarial para encontrar alternativas, mas nada ficou definido e quase nenhuma informação foi repassada à reportagem. As demissões estão acontecendo em massa. Das onze empresas que operam o transporte por ônibus da RMR (STPP/RMR), pelo menos dez teriam promovido demissões. E a expectativa é de que pelo menos 60% do quadro de profissionais percam os empregos por causa da queda de demanda, agora superior a 75%.
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A reunião aconteceu entre representantes da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh), da Procuradoria Geral do Estado e do Grande Recife Consórcio de Transportes (CTM) com integrantes do Sindicato das Empresas de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE). Segundo a resumida nota oficial encaminhada pelo governo, a Urbana-PE se comprometeu a discutir as propostas com o Sindicato dos Rodoviários nos próximos dia, tendo a participação do governo do Estado. Vale ressaltar que o protagonismo do Estado nesse processo de demissão de rodoviários é novidade e se deve à crise provocada pela pandemia. Os motoristas, cobradores e fiscais, inclusive, imploraram esse envolvimento do Estado.
As informações ainda não são oficiais, mas a quantidade de demissões impressiona. Duzentos profissionais foram dispensados somente na empresa Transcol, que opera na Zona Norte da capital. A empresa Vera Cruz - que atende o Sul do Recife e da RMR - teria demitido 230 profissionais. A Caxangá, que roda na Zona Norte da capital e em Olinda, no Grande Recife, teria afastado outros 270 motoristas, cobradores, fiscais e mecânicos. A Empresa Metropolitana, do mesmo grupo da Caxangá, teria promovido outras 250 demissões. Além delas, a Globo, Itamaracá, Borborema, Rodotur, Cidade Alta e Pedrosa - esta última do mesmo grupo da Transcol - também fizeram demissões. Ou seja, praticamente todo o sistema promoveu e está promovendo demissões. A RMR tem hoje cerca de 15 mil rodoviários, dos quais 13 mil, aproximadamente, são funções diretas da operação de transporte: motoristas, cobradores e fiscais. O setor empresarial não quis informar o total de demissões e o Estado disse não ter conhecimento.
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Quem perdeu o emprego está assustado e revoltado. "Não esperava. Acreditei no discurso do governo de que os trabalhos seriam preservados. Estava indo trabalhar e, mesmo com a operação reduzida, estávamos lá, todos os dias. O que percebemos é que o setor empresarial está se aproveitando da crise para, rapidamente, demitir muitos profissionais de uma só vez. E o curioso é que são muitos cobradores. Têm motoristas, mas a maior parte são cobradores, categoria que eles já vêm tirando dos veículos há muito tempo. Não estou desesperada porque vou receber o seguro desemprego, mas não é justo que os rodoviários paguem essa conta", desabafou uma das cobradoras demitidas da Caxangá, Ana Margareth, 53, há 14 anos na empresa. Nas demissões, os argumentos são a calamidade pública decretada pelo poder público e a crise econômica provocada pela perda de receita.
O Sindicato das Empresas Transportadoras de Passageiros (Urbana-PE) se posicionou sobre a situação por nota oficial. Em resumo, disse que está demitindo agora para tentar demitir menos no futuro, enquanto durar a pandemia. Que as dificuldades enfrentadas não têm precedentes na história do setor, com perda de passageiros superior a 75% da demanda. Que, como o transporte é mantido prioritariamente pela tarifa paga pelo passageiro, a situação ficou insustentável. E que tentou um acordo com os rodoviários, sem sucesso. Os empresários pernambucanos têm silenciado sobre a crise desde o começo, posicionando-se apenas nesta terça-feira (31/3), após a repercussão das demissões em massa.
CENÁRIO NACIONAL
Em compensação, os representantes nacionais do setor vêm fazendo alertas sobre as conseuqências da crise desde a primeira semana do isolamento social determinado no País. Em conjunto com o Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públicos de Mobilidade Urbana e a ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), o programa propõem que o Governo Federal destine R$ 2,5 bilhões por mês para aquisição de créditos eletrônicos de passagens, enquanto perdurar a crise da pandemia. As entidades, apoiadas pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), defendem o valor como sendo necessário para equilibrar custos e receitas no setor e manter funcionando o mínimo do transporte público por ônibus.
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