POR ROBERTA SOARES, DA COLUNA MOBILIDADE
Segue tudo do mesmo jeito. Apesar de um dia de muitas negociações, os motoristas, cobradores e fiscais de ônibus da Região Metropolitana do Recife seguem sem qualquer garantia de que as três mil demissões promovidas pelos empresários esta semana serão revertidas. O governador Paulo Câmara chegou a afirmar em vídeo divulgado na noite desta sexta-feira (03/4) que conseguiu o compromisso do setor empresarial para reverter as demissões e que nos próximos dias empregadores e empregados iriam conversar para chegar a um acordo. Mas nada de concreto foi apresentado. Nem pelo Estado, nem pelo Sindicato dos Rodoviários e muito menos pelo setor empresarial. Há uma expectativa de que os empresários de ônibus revejam as demissões em massa fazendo uso da Medida Provisória 936/2020 do governo federal, que cria o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, uma solução que prevê o apoio ao setor empresarial no País com a cobertura de até 75% dos salários com o seguro-desemprego.
"Participamos de uma videoconferência com o setor empresarial e conseguimos o compromisso para reversão das demissões dos rodoviários que aconteceram nessa semana. Com isso, os empresaios, os empregados e os sindicatos das duas categorias vão se sentar para construir alternatvas que possam garantir a manutenção dos empregos e a prestação do serviço de transporte, tão importante nesse momento", afirmou o governador Paulo Câmara no vídeo encaminhado para a imprensa. Num gesto raro na história do sistema de transporte público da RMR e apesar de ser o gestor do STPP/RMR, o governo de Pernambuco tem participado das negociações para reverter as demissões. Está representado pelo Grande Recife Consórcio de Transporte (CTM) e pela Procuradoria-Geral do Estado (PGE). Participou ao lado do MPT e também fez reuniões isoladas com os empresários e os rodoviários. Em nota distribuída na quinta-feira (03/4), afirmou compreender as dificuldades do setor empresarial, mas que não concorda com demissões realizadas num momento tão sensível.
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Uma audiência mediada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) deveria ter acontecido com representantes do Sindicato dos Rodoviários e do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Urbana-PE), mas os empresários não compareceram. Alegaram estar negociando a questão com o governo de Pernambuco. A expectativa do MPT, tendo como base uma audiência que tinha tido anteriormente com as duas partes, era de que o setor empresarial anunciasse que iria se adequar à MP. "Nós fomos surpreendidos com a postura da Urbana-PE de que não participaria da videoconferência porque estava tratando do assunto com o Estado. Suspendemos a audiência e notificamos o indicato para que ser pronuncie até a próxima segunda-feira (6/4)", explicou o procurador do trabalho José Laízo, que está à frente do processo. O MPT destacou, mais uma vez, que se não houver um posicionamento do setor empresarial, poderá judicializar o caso, com uma ação civil pública contra as demissões em massa.
Os dados não são oficiais, mas as informações são de que todas as onze operadoras de ônibus autorizadas a atuar na RMR teriam promovido demissões. E que, apesar do número impressionante - três mil demitidos -, as dispensas não representam sequer um terço do quadro que está ocioso nas empresas por causa do pouco movimento. A RMR tem hoje cerca de 15 mil rodoviários, dos quais 13 mil, aproximadamente, são funções diretas da operação de transporte: motoristas, cobradores e fiscais. O setor empresarial não quis informar o total de demissões e o Estado disse não ter conhecimento.
A Urbana-PE não tem se pronunciado oficialmente sobre o processo. Posicionou-se uma vez sobre as demissões e a crise no setor provocada pela pandemia do coronavírus. Em resumo, disse que está demitindo agora para tentar demitir menos no futuro, enquanto durar a pandemia. Que as dificuldades enfrentadas não têm precedentes na história do setor, com perda de passageiros superior a 75% da demanda. Que, como o transporte é mantido prioritariamente pela tarifa paga pelo passageiro, a situação ficou insustentável. E que tentou um acordo com os rodoviários, sem sucesso. Os empresários pernambucanos têm silenciado sobre a crise desde o começo, posicionando-se apenas nesta terça-feira (31/3), após a repercussão das demissões em massa. Em compensação, os representantes nacionais do setor vêm fazendo alertas sobre as consequências da crise desde a primeira semana do isolamento social determinado no País. Em conjunto com o Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públicos de Mobilidade Urbana e a ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), o programa propõem que o Governo Federal destine R$ 2,5 bilhões por mês para aquisição de créditos eletrônicos de passagens, enquanto perdurar a crise da pandemia. As entidades, apoiadas pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), defendem o valor como sendo necessário para equilibrar custos e receitas no setor e manter funcionando o mínimo do transporte público por ônibus.
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À noite, após a divulgação do vídeo do governador Paulo Cãmara, o Sindicato dos Rodoviários divulgou uma nota comemorando o fato e afirmando que todos os demitidos seriam reintegrados, além de orientar a categoria a não assinar mais nenhuma rescisão contratual. Mas também não deu nenhum detalhe de como essa reversão acontecerá.
Confira a nota dos rodoviários:
"Vitória dos trabalhadores rodoviários: demissões canceladas
A força da categoria, potencializada por uma direção do sindicato combativa, conseguiu impedir que vários trabalhadores fossem jogados à própria sorte sem condições de arcar com o sustento de sua família. O cancelamento da demissão em massa de aproximadamente 3 mil trabalhadores evita o aumento do caos social em meio à pandemia do coronavírus.
Agora, estão todos reintegrados e, consequentemente, os comunicados de dispensa serão cancelados, assim como a baixa do fim do contrato de trabalho na Carteira Profissional (CTPS). Com o cancelamento de todas as demissões, a partir de hoje, nenhum trabalhador assinará qualquer documento, a exemplo do termo de rescisão do contrato de trabalho, seguro desemprego e a chave para levantamento dos valores depositados na conta vinculada do FGTS. Qualquer dúvida, pressão ou assédio procure o Sindicato dos Rodoviários".
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