POR ROBERTA SOARES, DA COLUNA MOBILIDADE
Eles não estão na linha de frente do combate à pandemia do coronavírus - como os mais diferentes profissionais da saúde -, mas têm enormes chances de serem contaminados. Correm um risco próximo ao enfrentado pelos trabalhadores da saúde. Estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) comprovou o perigo. Apontou que os motoristas de ônibus são uma das profissões mais vulneráveis, com risco de contágio de 71%. E são profissionais que correm risco todos os dias nas ruas, já que os serviços de transporte público não foram suspensos na grande maioria das cidades do Brasil e do mundo. Na saúde, aponta a pesquisa, a probabilidade de contaminação está entre 50% e 100%, conforme a área de atuação.
O medo é grande porque sabemos que o vírus fica impregnado durante quatro dias em superfícies e muitas pessoas se agarram nos balaustres dos coletivos sem ter proteção ou sem saber que é portador. Além disso, não respeitam a distância correta, tossem e espirram sem se proteger. A higienização também não é feita da forma correta porque são muitas viagens, com intervalos pequenos. Nunca sobra tempo para fazer como deveriaJosé Carlos da Silva, motorista há dez anos
O mapeamento foi realizado pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), que analisou 2,6 mil ocupações no País, nas mais variadas áreas, para identificar o índice de risco das profissões. De forma geral - e como já esperado - os que atuam na saúde são os mais expostos. De acordo com o estudo, 2,6 milhões de profissionais da área apresentam risco de contágio acima de 50%. Do grupo, os mais vulneráveis são os técnicos em saúde bucal - um total de 12.461 profissionais, com 100% de risco de contágio devido ao ambiente de trabalho e a proximidade física com os pacientes.
O perigo para os motoristas de ônibus urbanos (que operam os sistemas municipais e metropolitanos) e rodoviários (veículos que fazem viagens intermunicipais e interestaduais) surpreende e, segundo o mapeamento, é resultado do contato próximo que os profissionais têm com a população. Os pesquisadores do Coppe mapearam 350 mil motoristas de ônibus para indicar o risco de infecção. O percentual de 71%, inclusive, é semelhante ao identificado para os professores, por exemplo, caso as aulas não tivessem sido suspensas como medida preventiva à propagação do coronavírus.
- Motoristas de ônibus denunciam descumprimento de acordo para reverter demissões em massa
- Lições da pandemia do coronavírus na mobilidade urbana
- Pandemia já provocou prejuízo de R$ 52 milhões aos ônibus e de R$ 5 milhões ao Metrô do Recife
- Google homenageia funcionários do transporte público em barra de busca
- Impacto da pandemia no transporte público faz governo de Pernambuco reduzir ainda mais a operação do BRT
- Reversão das demissões de motoristas e cobradores de ônibus segue descumprida e MPT cobra empresários
- Empresas de ônibus de Aracaju instalam cortinas e painéis para proteger motoristas e cobradores do coronavírus
O alto índice de contágio se confirma na prática, no medo dos motoristas que operam o serviço de transporte na RMR. "O medo é grande porque sabemos que o vírus fica impregnado durante quatro dias em superfícies e muitas pessoas se agarram nos balaustres dos coletivos sem ter proteção ou sem saber que é portador. Além disso, não respeitam a distância correta, tossem e espirram sem se proteger. A higienização também não é feita da forma correta porque são muitas viagens, com intervalos pequenos. Nunca sobra tempo para fazer como deveria", relata José Carlos da Silva, motorista há dez anos.
Quando o recorte são os cobradores do transporte coletivo, maquinistas de metrôs e trens, e motoristas de táxis, por exemplo, o índice de perigo reduz, mas ainda se mantem acima dos 50%. Segundo o Coppe, os cobradores apresentam um percentual de 66,3% de risco de contaminação, o mesmo dos motoristas de táxi. Em relação aos maquinistas, esse percentual cai para 51%. Vendedores varejistas, operadores de caixas, entre outros profissionais do comércio que, juntos, somam cerca de 5 milhões de trabalhadores no Brasil, apresentam, em média, 53% de risco de serem infectados pelo coronavírus.
CONFIRA O MAPEAMENTO NA ÍNTEGRA:
https://impactocovid.com.br/
MENOS VULNERÁVEIS
Os trabalhadores menos vulneráveis são os solitários - que exercem suas atividades de forma isolada, quase solitária, com destaque para os 14.215 operadores de motosserra, cuja maioria trabalha nas áreas rurais e apresenta risco de 18%. Outros menos prováveis de serem infectados, com média de 19%, são roteiristas, escritores, poetas, e outros que fazem parte de um grupo que realiza trabalho voltado para o setor artístico e intelectual. O mapeamento abrangeu todo o País e foi dividido em 13 grupos ocupacionais, de profissionais da agropecuária e pesca aos do setor de transportes. O mapeamento foi liderado pelo pesquisador Yuri Lima, do Laboratório do Futuro da Coppe. "É um momento importante de reflexão sobre o trabalho por parte do governo, das empresas e de quem realiza estudos sobre a área.
LEIA MAIS CONTEÚDO NA COLUNA MOBILIDADE www.jc.com.br/mobilidade
Citação
O medo é grande porque sabemos que o vírus fica impregnado durante quatro dias em superfícies e muitas pessoas se agarram nos balaustres dos coletivos sem ter proteção ou sem saber que é portador. Além diss
José Carlos da Silva, motorista há dez anos
Comentários