DIA ÚTIL

Lockdown é respeitado nas ruas do Grande Recife, mas periferia segue sendo o contraste

Nos bairros de classe média, ruas vazias. Nos bairros de subúrbio, muita gente na rua e pouca presença do poder público

Roberta Soares Roberta Soares
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Roberta Soares
Roberta Soares
Publicado em 18/05/2020 às 14:17 | Atualizado em 19/05/2020 às 9:13
ARNALDO CARVALHO/JC IMAGEM
Nos principais corredores do Recife, como a Ponte Duarte Coelho, no Centro, deserto total. População, em geral, tem respeitado as regras mais rígidas de isolamento - FOTO: ARNALDO CARVALHO/JC IMAGEM

O primeiro dia útil de lockdown no Recife e em quatro cidades da Região Metropolitana do Recife foi novamente respeitado pela população em geral, levando a crer que o índice de cumprimento do isolamento rígido de 54%, verificado no primeiro dia de regras, será pelo menos mantido nos próximos dias. Mas a periferia segue sendo o contraste. E isso é preocupante. Muita gente na rua e pouca presença do poder público. O transporte público também. Mesmo com menos gente circulando, com quase a totalidade dos passageiros de máscara, o ônibus e o metrô seguem sendo, por essência, redutos de aglomerações.

LEIA
No primeiro dia de lockdown, periferias permanecem cheias e sem fiscalização

De forma geral, percebemos que a população está atendendo às novas regras de isolamento. É claro que se trata de uma operação muito complexa e que precisa está sendo ajustada e analisada constantemente. Mas os números que conseguimos de adesão à quarentena mostram isso
analisou Antônio de Pádua, da SDS

A foto da Praça Nossa Senhora do Rosário, localizada em Jaboatão Centro, em Jaboatão dos Guararapes, dá a percepção exata do que é o lockdown na periferia. A quantidade de gente circulando e parada conversando impressiona. A poucos metros dali, um bloqueio da Polícia Militar e da gestão municipal de trânsito parava veículos para cobrar o cumprimento do rodízio. Em Prazeres, na mesma cidade, movimento semelhante. Ainda maior do que o visto pelo JC no sábado (16/5), primeiro dia da quarentena rígida.

 

LÉO MOTTA/JC IMAGEM
Periferia segue como contraste no lockdown pernambucano. Movimento na Praça Nosa Senhora do Rosário impressionava no primeiro dia útil da quarentena - LÉO MOTTA/JC IMAGEM

Embora a população demonstre ter aderido à máscara, ainda há muita gente na rua. A Avenida Dr. Francisco Correia, em São Lourenço da Mata, tinha muito mais movimento do que no sábado. Já em Camaragibe, cidade vizinha, a circulação na Avenida Belmiro Correia a circulação estava menor. Em Olinda tb. Em Peixinhos, uma das áreas mais movimentadas do município, com ampla feira livre e comércio intenso, pouca circulação. Mas, mesmo assim, ainda muita presença de pessoas circulando.

Apesar da grande quantidade de pessoas registradas em alguns bairros da periferia, essas aglomerações podem não estar sendo contabilizadas no cálculo que afere a taxa de isolamento social, uma vez que a metodologia da InLoco só considera que esse distanciamento foi quebrado quando o morador ultrapassa um raio de 450 metros quadrados de sua residência.

CONTRASTE
Quando se chega aos bairros mais centrais e de classe média de algumas cidades, um outro lockdown. No Recife, mais uma vez a estratégia dos bloqueios para fiscalização do rodízio de veículos encheu a cidade de pontos e forçou a população a ficar em casa. Quase todos instalados em corredores viários estruturadores da conexão entre bairros da cidade. Assim como fez desde o sábado, a CTTU montou uma espécie de malha de bloqueios que se conectavam por áreas. Ou seja, quando um motorista que estava tentando circular indevidamente burlava o primeiro bloqueio e a primeira orientação para retornar para casa - seja porque a numeração da placa não era autorizada ou não tinha declaração de serviço essencial -, ele corria o risco de ser pego numa segunda blitz. Algumas retenções aconteceram próximo a alguns pontos de bloqueio, como o instalado no limite entre Recife e Olinda.

Não posso ficar em casa, infelizmente. Preciso ganhar algo de dia para gastar à noite. Tentei ganhar o auxílio do governo, mas foi negado porque duas irmãs minhas recebem o Bolsa Família. O que eu posso fazer? Tenho que abrir a borracharia
Marcelo José, borracheiro que trabalha em Jaboatão dos Guararapes

JAILTON JÚNIOR/JC IMAGEM
Retenções aconteceram próximo a alguns pontos de bloqueio, como o instalado no limite entre Recife e Olinda - JAILTON JÚNIOR/JC IMAGEM

Como o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Antônio de Pádua, havia dito que faria, blitzes foram instaladas nos limites das cidades incluídas no isolamento rígido. E mais bloqueios foram identificados pela reportagem nas cidades, como na Avenida Caxangá, na Zona Oeste do Recife, em Campo Grande, Zona Norte da capital, e na Avenida Belmino Correia, em Camaragibe. Passaram de 34 para 43 pontos.

“De forma geral, percebemos que a população está atendendo às novas regras de isolamento. É claro que se trata de uma operação muito complexa e que precisa está sendo ajustada e analisada constantemente. Mas os números que conseguimos de adesão à quarentena mostram isso”, analisou Antônio de Pádua.

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Mais bloqueios para fiscalização do rodízio de veículos foram vistos pelas cidades no primeiro dia útil do lockdown - LÉO MOTTA/JC IMAGEM

Pernambuco, segundo o governo do Estado, teria atingido o maior índice de isolamento social do Brasil no sábado (16/5), primeiro dia de lockdown nos municípios do Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, São Lourenço da Mata e Camaragibe. Em média, 53,8% da população do Estado permaneceu em casa naquele dia. O Recife, num recorte isolado, chegou a 62,1% de isolamento. Foi o maior percentual entre as capitais brasileiras. Olinda registrou 61%, Camaragibe 59% e Jaboatão e São Lourenço da Mata atingiram 58% no total de pessoas em casa no sábado.

Nacionalmente, o levantamento da Inloco revelou que o respeito ao lockdown em Pernambuco ficou acima do Ceará (52,7%), Amapá (52,7%) e Pará (51%), quatro únicos estados brasileiros a superar os 50% de distanciamento social.

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São Lourenço da Mata teve muito movimento nesta segunda-feira (18/5) - LÉO MOTTA/JC IMAGEM

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Transporte público teve denúncias de aglomerações pontuais, mas os terminais tiveram ônibus estocados - LÉO MOTTA/JC IMAGEM

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De forma geral, percebemos que a população está atendendo às novas regras de isolamento. É claro que se trata de uma operação muito complexa e que precisa está sendo ajustada e analisada constantemen

analisou Antônio de Pádua, da SDS
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Não posso ficar em casa, infelizmente. Preciso ganhar algo de dia para gastar à noite. Tentei ganhar o auxílio do governo, mas foi negado porque duas irmãs minhas recebem o Bolsa Família. O que eu posso fazer? Tenho que

Marcelo José, borracheiro que trabalha em Jaboatão dos Guararapes

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