NOVO NORMAL

Transporte público não acompanha retomada das atividades econômicas no Grande Recife

A estocagem de 120 ônibus nos terminais integrados não tem sido suficiente. Manutenção da operação parcial do Metrô do Recife é outro problema

Roberta Soares
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Roberta Soares
Publicado em 08/06/2020 às 12:49 | Atualizado em 12/01/2023 às 10:55
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Fila em Terminal Integrado de Passageiros da Região Metropolitana do Recife (RMR) - FOTO: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

O governo de Pernambuco foi, mais uma vez, surpreendido pela demanda de passageiros do transporte público no primeiro dia da retomada gradual das atividades econômicas na Região Metropolitana do Recife. Pelo menos essa foi a impressão de quem circulou por alguns terminais integrados do sistema, principalmente os que fazem integração com o metrô do Recife. Apesar de ter estocado ônibus em 16 dos 26 TIs, havia momentos em que os coletivos não davam conta das longas filas de passageiros concentrados nos horários de pico. O reforço de 120 coletivos se mostrou, novamente, insuficiente. Assim como a insistência em manter a frota operando com apenas 54%. Assim, a promessa de evitar aglomerações foi, mais uma vez, difícil de cumprir.

Confira a série de reportagens O FUTURO DO TRANSPORTE PÚBLICO NO PÓS-PANDEMIA

Os BRTs, por exemplo, estão sendo utilizados nos terminais onde as empresas atuam. É o caso de Camaragibe, Paulista e PE-15. Estamos trabalhando com os recursos que existem. É claro que gostaríamos de ter veículos maiores para toda a operação, mas não temos
Marcelo Bruto, secretário de Desenvolvimento Urbano de Pernambuco


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Marcelo Bruto, secretário de Desenvolvimento Urbano de Pernambuco - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

A previsão do Plano de Convivência com a covid-19 criado pelo governo de Pernambuco para a retomada das atividades da construção civil e do comércio atacadista - que começou nesta segunda (8) - previa o reforço de até 20% das viagens, que estavam reduzidas à metade da operação normal. A estimativa era de mais 120 ônibus na operação - o mesmo esquema adotado desde o fim do lockdown, vale ressaltar. Em alguns TIs, os ônibus estocados foram praticamente utilizados. E, mesmo assim, nas filas, os passageiros reclamavam e exigiam mais e mais coletivos.

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Após a flexibilização das normas da quarentena, controle social e sanitário, no Estado de Pernambuco, o movimento de passageiros no Terminal Integrado de Passageiros da Joana Bezerra teve aumento de passageiros. - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

Os 16 terminais integrados que receberam ônibus extras foram Joana Bezerra, Tancredo Neves, Macaxeira, Caxangá, Aeroporto, Jaboatão, Barro, TIP, Cajueiro Seco, Xambá, PE-15, Camaragibe, Pelópidas Silveira, Igarassu, Abreu e Lima e Cabo. Embora, pelo menos a partir dos TIs, os ônibus estivessem saindo com os passageiros sentados e poucos em pé, as filas de algumas linhas eram longas, forçando os passageiros à aglomeração tão temida devido à contaminação pelo coronavírus. A sensação de quem depende do transporte público é de que o chamado “novo normal” chegará com as dificuldades do setor ainda maiores do que eram no pré-pandemia.

EQUIPAMENTOS INADEQUADOS
Em algumas situações e linhas, era visível a necessidade de utilizar equipamentos maiores, ou seja, ônibus articulados ou BRTs, por exemplo. Mas segundo o secretário de Desenvolvimento Urbano de Pernambuco, Marcelo Bruto, que responde pela gestão do sistema de ônibus da RMR e acompanhava a operação no TI Joana Bezerra, o regulamento do sistema não permite transferir veículos de uma empresa para outra, por exemplo.


O movimento está bem maior devido à retomada das atividades e a oferta de ônibus é a mesma. Não está certo. Por isso as filas tão grandes
Eraldo Nascimento, passageiro que aguardava para viajar na linha 080 TI Joana Bezerra/Boa Viagem, a de maior demanda no terminal


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Após a flexibilização das normas da quarentena, controle social e sanitário, no Estado de Pernambuco, o movimento de passageiros no Terminal Integrado de Passageiros da Joana Bezerra teve aumento de passageiros. - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM


“Os BRTs, por exemplo, estão sendo utilizados nos terminais onde as empresas atuam. É o caso de Camaragibe, Paulista e PE-15. Estamos trabalhando com os recursos que existem. É claro que gostaríamos de ter veículos maiores para toda a operação, mas não temos”, justificou o secretário. Na verdade, o que mais pesa é a guerra travada entre custo e receita do sistema. Com uma perda de demanda que até a semana passada era superior a 70%, o setor empresarial tem feito pressão e o governo do Estado tem cedido numa tentativa de minimizar o prejuízo financeiro do setor. Desde que a pandemia começou e até o dia 29/5, a perda de receita dos ônibus já havia gerado um prejuízo superior a R$ 155 milhões.

O metrô está bem mais cheio do que na semana passada. É visível que é preciso mais trens e intervalos menores. Não estamos viajando espremidos, como era antes da pandemia, mas já há mais aglomerações
Flávio Marques da Silva, passageiro do Metrô do Recife


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Após a flexibilização das normas da quarentena, controle social e sanitário, no Estado de Pernambuco, o movimento de passageiros no Terminal Integrado de Passageiros da Joana Bezerra teve aumento de passageiros. - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

METRÔ TAMBÉM COM LOTAÇÃO
A retomada gradativa das atividades econômicas também refletiu no Metrô do Recife, que apesar da expectativa de mais passageiros manteve a operação parcial criada desde o início da pandemia - apenas nos horários de pico da manhã (6h às 9h) e da noite (16h30 às 20h). Na Estação Recife e na Estação Joana Bezerra, duas das unidades de maior movimento do sistema metroviário, a impressão dos funcionários foi de que a demanda aumentou 50% nesta segunda-feira (8/6).

A Superintendência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife contesta o crescimento de passageiros no sistema. Diz que o aumento foi inferior a 10%, passando de 72 mil na segunda-feira () para 78 mil nesta segunda (8/6). E que não planeja ampliar a operação do sistema, pelo menos por enquanto. A companhia diz, desde o fim de semana, que está analisando a ampliação, mas nesta segunda-feira explicou que o afastamento de mais da metade do quadro de funcionários por fazerem parte do grupo de risco da covid-19 dificulta a ampliação. Para a lotação desta segunda-feira, argumentou que teve problemas em mais um trem.

ETAPAS DA REABERTURA ECONÔMICA
A primeira etapa de reabertura foi iniciada na Segunda-feira (1/6), com a liberação da operação de lojas físicas de material de construção, seguindo novos protocolos de atendimento, e com funcionamento exclusivamente por delivery do comércio não essencial, que esteve restrito nos 15 dias de intensificação da quarentena.

Clínicas e consultórios médicos, odontológicos e veterinários, óticas, clínicas de fisioterapia e de psicologia, que retornarão às suas atividades no próximo dia 10. Antes, as atividades não possuíam data definida.

A reabertura gradual do varejo para lojas de até 200 metros quadrados funcionará ao mesmo tempo para todo o comércio do Estado, no Centro e nos bairros. Esses estabelecimentos estão autorizados a reabrir a partir do dia 15 de junho. Serviços de venda, locação e vistoria de veículos também voltarão a funcionar na mesma data.

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Esquema de ônibus segue com apenas 54% da frota. Ampliação não acontece porque prejuízo com a perda de receita já é de R$ 155 milhões - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

Salões de beleza e serviços de estética, cujo atendimento estava previsto para começar a partir do dia 15, continuam sem alterações. Esses estabelecimentos precisarão atender um cliente por vez, por agendamento, sem fila de espera e com higienização entre uma pessoa e outra, além de obedecer ao distanciamento de, pelo menos, 1,5 metro entre clientes. A partir da mesma data também poderão ocorrer os treinos de futebol profissional.

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Os BRTs, por exemplo, estão sendo utilizados nos terminais onde as empresas atuam. É o caso de Camaragibe, Paulista e PE-15. Estamos trabalhando com os recursos que existem. É claro que gostaríamos de ter veículos maiore

Marcelo Bruto, secretário de Desenvolvimento Urbano de Pernambuco
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O movimento está bem maior devido à retomada das atividades e a oferta de ônibus é a mesma. Não está certo. Por isso as filas tão grandes

Eraldo Nascimento, passageiro que aguardava para viajar na linha 080 TI Joana Bezerra/Boa Viagem, a de maior demanda no terminal
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O metrô está bem mais cheio do que na semana passada. É visível que é preciso mais trens e intervalos menores. Não estamos viajando espremidos, como era antes da pandemia, mas já há mais aglomera&cced

Flávio Marques da Silva, passageiro do Metrô do Recife

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