Transporte público não é vetor do coronavírus - aponta levantamento da Urbana-PE
Material constata que, enquanto a quantidade de pessoas utilizando o transporte público aumentava na Região Metropolitana do Recife, o número de óbitos e casos do coronavírus tinha redução na capital
Desde que a pandemia do coronavírus começou, o transporte público coletivo vem sendo apontado mundialmente como um dos principais vetores de contaminação para a população. Mas um levantamento realizado pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE) desconstrói essa percepção. Tendo como base as informações do Projeto D.A.D.O. da Prefeitura do Recife, o material constata que, enquanto a quantidade de pessoas utilizando o transporte público aumentava na Região Metropolitana do Recife durante as últimas semanas epidemiológicas (do dia 24 de maio até o dia 31 de julho), o número de óbitos e casos do coronavírus tinha redução na capital.
Nós queremos tirar o medo das pessoas de andar de ônibus. E para isso fomos analisar os dados. Também buscamos exemplos de outros países que já constataram, com base em seus dados oficiais, que os índices de contaminação no transporte público têm sido baixos. Foi o caso de Nova York, onde apenas 4% das pessoas contaminadas pela covid-19 afirmaram usar o transporte coletivo diariamente. João Pessoa (PB) é outro exemplo. O transporte coletivo parou totalmente e, mesmo assim, os casos continuaram subindo. Os nossos dados confirmam que uma coisa não está relacionada à outraMarcelo Bandeira, empresário e diretor de comunicação da Urbana-PE
A análise sobre o aumento de passageiros e os óbitos por Covid-19 é a que mais chama atenção. Comparando os óbitos e a demanda da 22ª semana epidemiológica com a 28ª semana, por exemplo, é verificado um acréscimo de 62% da demanda diante do decréscimo de 83% dos óbitos. A partir do fim do lockdown, na 22ª semana (de 24 a 30 de maio) é que essa diferença começa a ser percebida. E se acentua ainda mais a partir da retomada das atividades econômicas, como a abertura do comércio de rua na 25ª semana epidemiológica (de 14 a 20 de junho). Nessa mesma semana, enquanto o transporte coletivo da RMR transportava 2,6 milhões no período, a capital registrava 64 óbitos - 44 a menos do que na semana anterior.
Embora menos evidente, o distanciamento entre as curvas do crescimento da demanda no transporte coletivo e o dos casos de contaminação - registrados oficialmente, é claro - também é confirmado pela Urbana-PE. A 28ª semana epidemiológica apresentou um número 26% inferior em relação a 22ª semana, mesmo com o aumento de 62% da demanda de passageiros. E, segundo o setor empresarial, o percentual não foi maior porque as testagens têm sido mais frequentes, já que o poder público ampliou a oferta gratuita dos testes com o programa Atende em Casa.
O objetivo do estudo - e a Urbana-PE não nega isso - é desconstruir a imagem de que o transporte público coletivo é um dos principais vetores de transmissão do coronavírus para tentar evitar ou ao menos minimizar a fuga dos passageiros no pós-pandemia. “Nós queremos tirar o medo das pessoas de andar de ônibus. E para isso fomos analisar os dados. Também buscamos exemplos de outros países que já constataram, com base em seus dados oficiais, que os índices de contaminação no transporte público têm sido baixos. Foi o caso de Nova York, onde apenas 4% das pessoas contaminadas pela covid-19 afirmaram usar o transporte coletivo diariamente. João Pessoa (PB) é outro exemplo. O transporte coletivo parou totalmente e, mesmo assim, os casos continuaram subindo. Os nossos dados confirmam que uma coisa não está relacionada à outra”, argumenta o empresário Marcelo Bandeira, diretor de comunicação da Urbana-PE.
VENTILAÇÃO NOS ÔNIBUS
A estratégia do setor empresarial para não assustar a população também aponta uma pesquisa realizada pela Universidade de Caxias do Sul (RS), que constatou que o volume de circulação de ar por pessoa dentro de um ônibus chega a ser 67% superior do que o exigido pela Associação Brasileiras de Normas Técnicas (ABNT) para renovação de ar em estabelecimentos comerciais, bancos, supermercados, academias, aeroportos, entre outros locais. A pesquisa foi encomendada pela Marcopolo - uma das maiores do setor na produção de carrocerias, chassis e tecnologia de sistemas.
Os pesquisadores apontam que os equipamentos de renovação instalados nas carrocerias permitem uma taxa de admissão de ar externo compatível com diversos ambientes especificados pela ABNT. E se as janelas estiverem abertas é ainda melhor. O comparativo e a pesquisa sobre a ventilação fazem parte da proposta de socorro econômico-financeiro e operacional do Sistema de Transporte Público de Passageiros (STPP/RMR) que os empresários encaminharam ao governo de Pernambuco na semana passada.
ESCALONAMENTO DE HORÁRIOS PARA EVITAR AGLOMERAÇÕES
Os empresários de ônibus propuseram ao governo de Pernambuco que faça o escalonamento de horários de alguns serviços e atividades econômicas na Região Metropolitana do Recife para tentar evitar aglomerações no transporte público - tanto nos ônibus, como nos terminais, estações e paradas. Esse escalonamento seria estudado e implementado por um comitê gestor misto - composto pelo poder público, operadores do sistema e representantes do comércio, da indústria, serviços e construção - e adotado tendo como base a capacidade da oferta do transporte público no Grande Recife.
O objetivo é desafogar o sistema nos horários de pico, situação comum ao setor desde sempre e que, segundo a Urbana-PE, aumentou na pandemia. A concentração de passageiros nos picos da manhã e da noite tem aumentado com a gradativa retomada das atividades. A Urbana cita que, antes da pandemia, aproximadamente 46% da demanda nos ônibus se concentrava nos horários de picos. Agora, após a reativação de alguns setores, essa concentração aumentou para 49%.
“A concentração de passageiros no horário de picos ocorria mesmo antes da pandemia. O que acontece é que, agora, com a necessidade do maior distanciamento social, precisamos criar alternativas que possibilitem uma menor ocupação dos veículos. Por isso, nossa ideia é achatar a curva da demanda do transporte. Ou seja: fazer com que a demanda se distribua de forma mais homogênea”, explica Marcelo Bandeira.
O escalonamento de horários é um dos tripés da proposta que a Urbana-PE apresentou ao governo de Pernambuco. Além dele, é sugerida a revisão do modelo de financiamento do transporte público, com uma menor dependência da arrecadação tarifária (de no máximo 60%) - ou seja, mais subsídios e receitas extratarifárias, o que inclui taxações do transporte individual. E a priorização viária do transporte público: mais faixas e corredores exclusivos para o ônibus.
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Seduh) confirmou ter recebido a proposta, lembrou que o governo já vem adotando o escalonamento durante a pandemia e garantiu que irá ampliar a discussão do tema ainda esta semana.
Nós queremos tirar o medo das pessoas de andar de ônibus. E para isso fomos analisar os dados. Também buscamos exemplos de outros países que já constataram, com base em seus dados oficiais, que os índices de contam
Marcelo Bandeira, empresário e diretor de comunicação da Urbana-PE