Pesquisa realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE) colocou em dúvida os possíveis benefícios que o escalonamento de horários das atividades econômicas poderá trazer para melhorar o transporte público na Região Metropolitana do Recife. A análise aponta que já existe um escalonamento natural do deslocamento dos trabalhadores que usam o ônibus e o metrô no Grande Recife e que, mesmo assim, a grande mazela do sistema é a pouca oferta de serviço. Ou seja, faltam ônibus e trens para transportar a população.
“Verificamos que os problemas apontados pelo passageiro do transporte público são estruturais. As pessoas têm usado máscara e álcool em gel, sinal de que estão aderindo à precaução exigida em tempos de pandemia. Mas esperam demais pelo transporte e quando ele chega está superlotado. Ou seja, mesmo que o escalonamento das atividades econômicas seja ampliado, a deficiência do serviço continuará comprometendo qualquer eficiência da mudança. Os dados apontam a necessidade de um número maior de ônibus nos dois primeiros horários, visto que a falta dos veículos cria aglomeração devido à superlotação”, explica Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE e quem apresentou o estudo.
Segundo Bernardo Peixoto, a Fecomércio-PE pretende, com a pesquisa, contribuir com soluções para o combate à covid-19 em Pernambuco, especialmente em relação ao transporte coletivo - opção para chegar ao trabalho por mais de 70% dos entrevistados. “O levantamento irá subsidiar os elaboradores de políticas públicas com importantes dados e proporcionará a criação de protocolos de saúde e ações que visem à proteção dos trabalhadores e consumidores que utilizam o meio público de transporte”, diz.
O governo de Pernambuco se posicionou sobre a pesquisa da Fecomércio-PE por meio de uma nota oficial enviada pelo Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), gestor do sistema de transporte público por ônibus da RMR. Confira a nota:
Governo de Pernambuco
"O Grande Recife informa que, mesmo com a retomada de alguns setores da economia, tem registrado uma demanda de passageiros abaixo daquela vista antes da pandemia da Covid-19. Ainda assim, o Consórcio tem procurado manter uma oferta de ônibus superior à demanda de passageiros transportados. Atualmente, a procura pelos coletivos está na casa dos 60% enquanto a frota em operação está numa média de 70%, com algumas linhas com 100% da frota. É importante destacar que foram estabelecidos horários diferenciados para algumas atividades, como comércio, serviços e shoppings, o que contribuiu para um maior distensionamento do pico no horário da manhã. Fiscais e técnicos do Grande Recife continuam acompanhando, diariamente, a programação e fazendo os devidos ajustes. Inclusive, reativando linhas que haviam sido temporariamente desativadas devido à queda no número de usuários transportados".
Para o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE), entidade que está à frente da proposta de escalonamento dos horários das atividades econômicas para ajudar o transporte público, a pesquisa só evidencia a dificuldade operacional do sistema. Confira a repercussão:
URBANA-PE
“A pesquisa contratada pela Fecomércio evidencia aspectos conhecidos sobre o transporte público na Região Metropolitana do Recife: a concentração dos deslocamentos para o trabalho nos horários de pico e a necessidade de reduzir o tempo de espera e deslocamento nos ônibus. Os dados reforçam as propostas apresentadas pela Urbana-PE de revisão do modelo de custeio, escalonamento dos horários das atividades das cidades e de ampliação das faixas e corredores exclusivos, de forma a possibilitar uma melhor qualidade na oferta, reduzir a concentração dos deslocamentos nos horários de pico e diminuir os tempos totais de deslocamento”.