Com 24% da frota nas ruas, Urbana-PE convoca motoristas reservas para minimizar efeitos da greve no Grande Recife

No primeiro dia da paralisação, transtornos são grandes para a população em todas as áreas da Região Metropolitana do Recife
Roberta Soares
Publicado em 22/12/2020 às 9:11
PROBLEMAS Sem manutenção adequada, sujos e inseguros, terminais vão alvos constantes de críticos por parte dos passageiros da RMR Foto: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM


O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE), Fernando Bandeira, afirmou na manhã desta terça-feira (22/12) que irá convocar os motoristas do quadro de reserva para minimizar os efeitos do primeiro dia da greve dos rodoviários na Região Metropolitana do Recife. O movimento paredista está forte, teve ampla adesão da categoria e, por isso, poucos ônibus saíram das garagens pela manhã.

Nas primeiras horas do dia, menos de 15% da frota conseguiu iniciar a operação. O Sindicato dos Rodoviários fez bloqueios em algumas garagens, mas foram poucas. O que se percebe é que a categoria, de fato, aderiu ao movimento e não foi para as empresas como solicitado pelo sindicato. A partir das 7h o número de coletivos nas ruas foi aumentando, mas mesmo assim a oferta é pequena e o número de pessoas nas paradas de ônibus e terminais integrados é grande.

BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM - Nas primeiras horas do dia, menos de 15% da frota conseguiu iniciar a operação. O Sindicato dos Rodoviários fez bloqueios em algumas garagens, mas foram poucas

“Estou determinando às empresas que convoquem motoristas auxiliares para que possamos garantir o transporte para a população. Não podemos permitir que o sindicato dos rodoviários faça política com o transporte público, prejudicando a população nesse momento, às vésperas do Natal e em meio a uma pandemia. Também estamos entrando na Justiça para obter alguma decisão liminar que garanta o cumprimento dos percentuais de frota”, garantiu Fernando Bandeira.

O Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), gestor do sistema de ônibus da RMR, garantiu que às 7h30 todas as empresas tinham veículos nas ruas, chegando a 24% da frota determinada, o que representaria 568 ônibus. A Urbana-PE contabilizava 25% da frota. Mas nas ruas a percepção era de que a oferta de ônibus é mínima. E, nos terminais integrados, as imagens são de plataformas lotadas de passageiros que esperam por até duas horas por um ônibus.

ARTES JC - Cobradores e dupla função

A oferta está bem abaixo do que era esperado e foi determinado pelo CTM e prometido pela Urbana-PE. O órgão notificou as empresas de ônibus e o Sindicato dos Rodoviários para que garantissem 70% do serviço nos horários de pico da manhã e da tarde, e 50% no restante do dia. Além da tentativa de garantir a prestação parcial de um serviço essencial, há a preocupação e o medo de veículos ainda mais lotados diante de uma pandemia que voltou a crescer.

Na prática, a determinação é para que 1.695 ônibus estivessem nas ruas nos horários de pico (das 5h às 9h e das 16h às 20h) e 1.211 coletivos nas outras horas. É importante lembrar que a frota utilizada como referência pelo CTM é a programada para o mês de março de 2020, quando a pandemia começou, e que representa apenas 67% da frota total de ônibus da RMR - 3.600 veículos.

BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM - O Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), gestor do sistema de ônibus da RMR, garantiu que às 7h30 todas as empresas tinham veículos nas ruas, chegando a 24% da frota determinada, o que representaria 568 ônibus

PREJUÍZO
Como acontece em toda greve do transporte público, é o passageiro quem mais sofre com a baixa oferta de ônibus. Nos terminais integrados e nas paradas a população chegou a esperar por até duas horas. Principalmente nas primeiras horas da manhã. “Tem 1h30 que espero pelo ônibus Largo da Paz/TI Xambá. E o pior é que não vejo nenhum ônibus passar. Mas mesmo assim, sou a favor da greve. Defendo que os cobradores voltem. É muito complicado para os motoristas passar troco e dirigir ao mesmo tempo”, afirmou a atendente Isla Alves, 29 anos.

"“Tem 1h30 que espero pelo ônibus Largo da Paz/TI Xambá. E o pior é que não vejo nenhum ônibus passar. Mas mesmo assim, sou a favor da greve. Defendo que os cobradores voltem. É muito complicado para os motoristas passar troco e dirigir ao mesmo tempo”, " - atendente Isla Alves, 29 anos

YACI RIBEIRO/JC IMAGEM - Isla Alves, 29 anos

A babá Ivanilda Maria da Silva, 42, também enfrentou transtornos. Por isso, defendeu que a greve deveria ser completa, sem garantia de nenhum ônibus circulando. “Assim seria mais fácil para o trabalhador porque não precisaríamos sair de casa. Concordo com a greve e acho que a categoria precisa lutar pelos seus direitos. Mas a possibilidade de ter algum ônibus nas ruas complica porque chegamos atrasados, quando conseguimos chegar, e muitos patrões não entendem”, reclamou.

"Concordo com a greve e acho que a categoria precisa lutar pelos seus direitos. Mas a possibilidade de ter algum ônibus nas ruas complica porque chegamos atrasados, quando conseguimos chegar, e muitos patrões não entendem”, " - babá Ivanilda Maria da Silva

YACI RIBEIRO/JC IMAGEM - Ivanilda Maria da Silva, 42 anos

REVOLTA
Os rodoviários, por outro lado, tinham garantido que não iriam se preocupar em respeitar percentuais determinados pelo governo do Estado, gestor do sistema de transporte da RMR e quem notificou os dois sindicatos (patronal e de trabalhadores) sobre a quantidade de ônibus nas ruas nesta terça. “Estamos fazendo a greve porque os patrões e o governo do Estado não nos deram outra alternativa. Não respeitaram sequer a Justiça. Descumpriram todos os acordos. Agora, vão ter que cumprir o acordado através da nossa greve. Chegou o momento de nós darmos a nossa resposta. Queremos um bom salário, um bom reajuste, mas a nossa greve é por muito mais do que isso. É por dignidade e respeito”, diz Aldo Lima, presidente dos rodoviários.

O acordo citado pelo presidente dos rodoviários é o que foi firmado numa audiência de conciliação mediada pelo TRT 6ª, no qual o governo de Pernambuco se comprometeu, via portaria (167/2020), a fazer valer a Lei Municipal do Recife 18.761/2020, que proíbe a dupla função de motoristas nos ônibus da capital, e a exigência de um cobrador por linha operada em toda a RMR. Mas, dias depois, a lei da dupla função foi suspensa por inconstitucionalidade pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) e recebeu um parecer, também de inconstitucionalidade, da Procuradoria Geral do Estado (PGE).

Diante desse cenário, o governo de Pernambuco suspendeu a Portaria 167/2020, que era a aposta dos motoristas e cobradores para acabar a dupla função nos ônibus da RMR. Atualmente, 70% das linhas do sistema da RMR operam sem cobradores e 2.416 motoristas acumulam a função de cobrador, ou seja, recebem dinheiro e passam troco além de dirigir. Além disso, os rodoviários também alegam que os empresários de ônibus desrespeitaram outros pontos do acordo, como a garantia de emprego de seis meses e o pagamento do reajuste salarial retroativo ao mês de julho.

 

BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM - A greve dos Rodoviários na manhã desta terça-feira (22) deixa ruas do Centro do Recife praticamente vazias. Na imagem, a Avenida Conde da Boa Vista completamente vazia

REFORÇO METRÔ
Por causa da greve dos rodoviários, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) anunciou que o horário de pico do Metrô do Recife será ampliado pela manhã e à tarde em 1h a partir desta terça (22), quando o volume de passageiros é maior. O metrô segue com queda de demanda, transportando, em média, metade dos passageiros do pré-pandemia. Por nota, a CBTU Recife afirma que a medida visa beneficiar os passageiros proporcionando mais viagens de trens, para facilitar o deslocamento na RMR.

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