Fiscais de ônibus agridem e empurram mulher a pontapés no Centro do Recife. Veja vídeo
A mulher teria tentado viajar sem pagar a passagem e terminou agredida violentamente. Passageiros filmaram a agressão desproporcional, que compromete a imagem do transporte público, já tão afetado pela pandemia
Uma mulher que teria tentado viajar de graça num ônibus da Região Metropolitana do Recife foi violentamente agredida por fiscais privados da empresa. A agressão foi filmada por passageiros que estavam no coletivo e é de uma brutalidade desnecessária. O episódio aconteceu no fim da tarde desta quinta-feira (8/7), no Centro do Recife. A linha era a 820 - TI Xambá (Cabugá), da Empresa Caxangá, uma das maiores do sistema de transporte público do Grande Recife.
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Nas imagens, fica evidente a violência desproporcional de um dos fiscais. A mulher já é flagrada dentro do ônibus e orientada a descer. Mas interpela o fiscal, sendo jogada aos chutes para fora do coletivo pelo homem. O fiscal lança a mulher pela escada do ônibus. Ela cai, levanta e retorna ao veículo. Nesse momento a filmagem é encerrada. A violência provoca reação dos passageiros que estavam no veículo. A evasão de receita do sistema de transporte, que sempre foi um problema no setor, tem aumentado durante a pandemia. A crise econômica e o desemprego forçam a população a tentar viajar sem pagar e aumentam a exclusão social. Flagrantes dessas invasões do sistema são comuns e são comprovados em vídeos, mas nada que justifique tanta violência como nesse episódio com os fiscais da empresa Caxangá.
A agressão já foi formalizada na Polícia Civil. A mulher de 32 anos prestou queixa por agressão na Delegacia de Peixinhos. Desempregada, contou à reportagem do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC) que foi ao Centro do Recife naquele dia tentar trabalhar como ambulante e sem a passagem de volta. E que pulou a catraca quando uma fiscal ameaçou retirá-la e deixá-la na rua. “Eu não podia ficar na rua. Não tinha como voltar. Estou desempregada”, lamentou. A mulher teve ferimentos pelo corpo, provocados quando foi lançada para fora do coletivo.
CONFIRA A AGRESSÃO DESNECESSÁRIA:
Por nota, a Caxangá repudiou a atitude do fiscal e a avaliou como inadmissível. “A Caxangá Empresa de Transporte Coletivo repudia a atitude da equipe de fiscalização que abordou uma passageira da linha 820 - TI Xambá (Cabugá) nesta quinta-feira (08). O comportamento é inadmissível e não condiz com os valores e práticas adotadas pela empresa. A Caxangá esclarece que já identificou a ocorrência através das câmeras de segurança do ônibus e instaurou sindicância interna para investigar o caso. As primeiras informações apontam que o fato foi iniciado quando uma fiscal tentou impedir o “pulo de catraca” da passageira no coletivo. A equipe de fiscalização que operava na linha foi prontamente afastada e permanecerá com suas atividades suspensas até a conclusão da apuração”.
Também por nota, o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM) foi na mesma linha. "O Grande Recife informa que não compactua com a ação dos fiscais da empresa Caxangá e repudia a agressão à usuária. Por isso, o Consórcio já notificou a operadora por conta do ocorrido na tarde desta quinta-feira (08) e solicitou o afastamento dos profissionais envolvidos. A empresa já foi acionada para que disponibilize as imagens das câmeras do ônibus e o órgão gestor orienta a usuária agredida a prestar queixa na delegacia". A notificação pode, sim, resultar em multa contra a empresa.
ANÁLISE
Sob a ótica do transporte coletivo, são flagrantes como esse que fazem o setor retroceder cem anos na visão do passageiro. Toda aquela conversa que ouvimos há anos, de que o usuário precisa ser visto como cliente, evapora. É fato que a mulher não ia pagar a tarifa e ela seria cobrada do sistema - isso não se discute e precisa, sim, ser combatido -, mas é preciso lidar com os problemas de outra forma. Aquele fiscal não poderia ter agido com tanta violência. E por que agiu? Qual orientação foi dada para que empregasse tanta violência contra um usuário que não paga a tarifa? Essas são as questões que precisam ser consideradas. Antes que os "clientes" sumam ao presenciar ou assistir cenas como essas. É preciso considerar que já existe um oceano desfavorável ao transporte público coletivo brasileiro - pandemia, desemprego, crise econômica, ausência de investimentos. O setor não precisa de mais correnteza. Ao contrário, precisa mudar sua imagem, modernizá-la e atrair a sociedade. Pelo bem de todos.
Fica o alerta!