Metrô do Recife: após governo recuar sobre 'privatização', metroviários tomam decisão sobre possibilidade de greve
O governador chegou a receber a direção do SindMetro no início da noite da quarta-feira (25), no Palácio do Campo das Princesas
Após o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), afirmar que não dará continuidade ao processo de estadualização do metrô do Recife - para transferência da gestão e operação para a iniciativa privada -, os metroviários também baixaram a guarda e acabaram com o estado de greve.
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A decisão de não seguir adiante e desistir da ideia de paralisar o metrô foi tomada pelos próprios metroviários, na noite desta quinta-feira (26), após a terceira assembleia convocada pelo Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (SindMetro).
Apesar da decisão da categoria, a votação foi bem dividida. Dos 105 metroviários presentes na reunião, 58 votaram favoráveis pela suspensão do estado de greve, enquanto que 47 votaram pela paralisação total das atividades.
"A gente teve uma conversa com o governador. E foi sobre recuo em relação à proposta a ser encaminhada ao governo federal. Como o governador recuou com a proposta, tiramos o indicativo de greve e suspendemos o estado de greve. O que tem hoje é categoria que volta aos seus postos de trabalho normalmente. agora vaso formalizar reuniões com o governo federal, na perspectiva de trazer verbas e discutir tarifa social para trair mais usuários", disse o presidente do sindicato, Luiz Soares.
Estiveram presentes na manifestação dos metroviários a co-deputada estadual Jô Cavalcanti (PSOL), além da pré-candidata à presidência Vera Lúcia (PSTU).
Havia uma expectativa de que os metroviários mantivessem o estado de greve como forma de pressionar o governo federal a enviar verbas de custeio e de investimentos, além da redução da tarifa de R$ 4,25 para um valor social de R$ 2.
O Metrô do Recife não tem verba de manutenção há pelo menos cinco anos, sobrevivendo com 30% dos recursos necessários só para a operação. Também não recebe verba para investimentos desde 2013. E ainda está perdendo passageiros por causa do aumento absurdo da tarifa.
O sistema está transportando entre 170 mil e 200 mil passageiros por dia atualmente. Antes, eram quase 400 mil/dia. As últimas aquisições do Metrô do Recife, em 2013, foram cinco máquinas especiais (que dão suporte à manutenção) e 15 trens. De lá para cá, mais nada e ainda um corte de 70% do orçamento anual de custeio (despesas básicas de operação).
RECUO DO GOVERNO
O governador chegou a receber a direção do SindMetro no início da noite da quarta-feira (25), no Palácio do Campo das Princesas, sob mediação do presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, ex-secretário de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (SDSCJ) de Pernambuco.
Paulo Câmara afirmou que o Estado não tem interesse em administrar o metrô, mas que o faria para não ver o sistema ser destruído por completo. E que o diagnóstico ficou pronto, mas apenas como cobrança ao governo federal. O chefe de Estado também admitiu, inclusive, ter “errado” ao autorizar os estudos para a concessão pública sem o envolvimento dos metroviários.
“Nosso objetivo é o funcionamento bem, não aceitamos a degradação do sistema feito pelo governo federal, que joga os usuários e a opinião pública contra o Estado de Pernambuco. O governo federal não conversa com a gente. Não temos interesse em administrar o metrô”, disse Paulo Câmara.
O Estado é personagem essencial no caso de o Metrô do Recife passar a ser uma concessão pública, estratégia estudada pelo governo federal desde o fim de 2019 para todos os sistemas da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e da Trensurb (de Porto Alegre). Por determinação legal, a estadualização do sistema precede a transferência para operadores privados. Ou seja, a gestão precisa sair das mãos do governo federal para o de Pernambuco para, depois, virar uma concessão pública.
VICE-GOVERNADORA
A vice-governadora Luciana Santos, que também participou da reunião dos metroviários com o governador Paulo Câmara e se posicionou contrário a privatização do metrô. "Nós somos contra a privatização (concessão) do metrô, que é um serviço essencial. O governo federal quer matar o serviço por inanição, é um absurdo. É um governo que não tem compromisso nem com a vida - vimos a forma como lidou com a covid -, muito menos com o transporte público", criticou.
A PROPOSTA DE CONCESSÃO
Pelo que já foi acordado, o governo de Pernambuco será o gestor do futuro contrato de concessão pública do Metrô do Recife, um pacote que representará o montante de R$ 8,4 bilhões em 30 anos. E, desse total, R$ 3,8 bilhões serão aportes financeiros públicos.
Segundo a Secretaria de Planejamento de Pernambuco, esse valor é necessário para reerguer o metrô e trazê-lo de volta aos padrões do passado, quando tinha intervalos de cinco a seis minutos nos horários de pico - hoje o metrô chega a intervalos de 17 minutos e 13 minutos nos ramais das linhas Centro e Sul, respectivamente.
Dos R$ 3,8 bilhões, R$ 3,1 bilhões serão mobilizados pelo governo federal e R$ 700 milhões pelo governo de Pernambuco. E mais: dos R$ 3,1 bilhões bancados pela União, R$ 1,4 bilhão serão recursos que ficarão guardados para serem utilizados pelo Estado ao longo do contrato de concessão pública.