Há exatos dois meses e 14 dias, o JC publicava reportagens mostrando o abandono da rodovia estadual PE-027, popularmente conhecida como Estrada de Aldeia, na Zona Oeste da Região Metropolitana do Recife.

Agora, a reportagem volta à rodovia e constata o mesmo de antes: a Estrada de Aldeia segue abandonada, perigosa e sem solução por parte do poder público. Aliás, está ainda pior.

O que em maio ainda estava um pouco menos ruim, piorou com as fortes chuvas que atingiram Pernambuco e, principalmente, o Grande Recife, deixando 132 mortos em poucos dias no Estado.

E as ações paliativas - sempre paliativas, vale ressaltar - que o governo de Pernambuco estava fazendo via Departamento de Estradas de Rodagem (DER-PE) e Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), também em maio, se perderam.

A chuva arrastou e segue arrastando a já frágil solução de tapa-buraco.

Mas os buracos - acreditem - são o menor dos problemas da Estrada de Aldeia. Também em maio, o JC afirmava que trafegar pela rodovia era um teste diário contra a vida. Caminhar ou pedalar, ainda mais. Segue assim.

Não havia e ainda não há mecanismos de segurança viária. Nem mesmo os mais simples. No máximo, lombadas físicas, ainda. As lombadas eletrônicas existem em apenas um ponto ao longo dos 20 quilômetros da PE-027 até Chã de Cruz, distrito de Paudalho (no total, a rodovia possui 37,5 quilômetros e faz a ligação entre os municípios de Camaragibe e Araçoiaba).

CONFIRA a degradação da Estrada de Aldeia em fotos:

 

Defensas (proteções de ferro) são vistas nos trechos mais sinuosos da estrada. Apenas. Os motoristas, pedestres e ciclistas ficam, de fato, por conta própria.

Projeto prevê uma Estrada de Aldeia com ciclovias, calçadas e segura; conheça

A ausência do poder público na rodovia é tão grande e tão antiga que o “acostamento” de terra está invadindo as pistas de rolamento, que já sofrem com desgastes e buracos. Isso, onde há algum acostamento.

Confira a série JC nas Estradas

“É um perigo constante para todo mundo. Para motoristas de carro, de motocicleta, ciclista e pedestre. Você percebe que a rodovia precisa de intervenções há muito tempo. Não vemos nada ser feito aqui há muito tempo”, critica Manoel Gomes, 51, pedreiro que nasceu em Aldeia e utiliza motocicleta.

ADENSAMENTO E TRÂNSITO INTENSO

As reclamações são gerais e feitas por todos. “Resido há 16 anos em Aldeia e, quando cheguei, levava 10 minutos até a Praça de Camaragibe. Ou seja, percorria 12 km nesse tempo. Hoje, levo 40 minutos”, reclama o comerciante Daniel Nunes, 70 anos.

“Nos horários de pico da manhã e da noite, não há mais diferença do trânsito de Casa Forte, por exemplo, para o de Aldeia. O adensamento da região é assustador. Temos mais de dez condomínios sendo construídos ao mesmo tempo e sem infraestrutura”, critica.

Pelo menos três novos condomínios foram vistos em construção às margens da Estrada de Aldeia.

QUEM MAIS SOFRE NA ESTRADA DE ALDEIA

“Nós entendemos que o poder público não queria se preocupar com o tráfego de veículos, mas é preciso se preocupar com as pessoas: pedestres e ciclistas”, alerta Herbert Tejo, presidente do Fórum Socioambiental de Aldeia, organização que reúne moradores em defesa da sustentabilidade da área.

“Veja a situação dos alunos de duas escolas estaduais instaladas às margens da Estrada de Aldeia, na altura do km 12: Escola de Referencia em Ensino Médio Tito Pereira de Oliveira e Escola Torquato Castro. A maioria dos alunos reside em Vera Cruz e caminham pelos dois quilômetros de distância. Fazem isso sem qualquer infraestrutura e segurança”, segue criticando.

Segundo o Fórum Socioambiental de Aldeia, o adensamento aumentou demais desde a pandemia, o volume de tráfego cresceu e, com ele, o medo de quem precisa circular pela rodovia. Segundo dados do DER-PE, informados em maio, são 20 mil veículos passando por ela diariamente. Em 2020, eram 15 mil.

“O descaso do poder público fica ainda mais evidente quando vemos o governo de Pernambuco anunciar um investimento de R$ 320 milhões de contrapartida para a instalação de uma Escola de Sargentos do Exército na região. Ou seja, recursos para cuidar da segurança de quem mais precisa não há, mas para um projeto desses existe. E isso porque estamos falando da APA Aldeia-Beberibe (Área de Preservação Ambiental)”, analisa Herbert Tejo.

O Fórum Socioambiental de Aldeia, inclusive, defende a transformação da Estrada de Aldeia numa Estrada Parque.

Além da falta de infraestrutura viária, quem reside na região de Aldeia sofre com a pouca oferta de transporte público. São apenas duas linhas com intervalos de, no mínimo, 40 minutos, e que podem chegar a 1h.

O GOVERNO DE PERNAMBUCO E A ESTRADA DE ALDEIA

Por nota, o DER-PE promete que em breve a Estrada de Aldeia será repaginada. Que a restauração da rodovia está caminhando com a elaboração do projeto executivo para a obra.

Dos 37,5 quilômetros da rodovia, a restauração vai beneficiar quase 30 quilômetros: irá da PE-005, em Camaragibe, até o Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcanti (CIMNC), do Exército, e onde ficará a Escola de Sargentos.

Além disso, irá implantar um trecho de 9,9 quilômetros do CIMNC até o entroncamento com a PE-041, em Araçoiaba, que é de terra. Mas não fala em duplicação da rodovia.

Confira a resposta na íntegra:

"O DER-PE informa que o projeto executivo de restauração e implantação da Rodovia PE-027, a Estrada de Aldeia, está em fase de elaboração. A via possui a extensão de 37,5 quilômetros e faz a ligação entre os municípios de Camaragibe e Araçoiaba, na Região Metropolitana do Recife.

A intervenção prevê a restauração do segmento de 27,6 quilômetros da via situado entre a PE-005, em Camaragibe, e o Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcanti (CIMNC), mais a implantação de um trecho de 9,9 quilômetros, seguindo dali até o entroncamento com a PE-041, em Araçoiaba.

 

O projeto deve ser concluído no mês de setembro. Após essa etapa, vai ser dado início ao processo de contratação da empresa de engenharia que ficará responsável pela execução das obras na PE-027.

O DER esclarece ainda que, visando melhorar as condições de trafegabilidade na via, a Estrada de Aldeia recebe de forma rotineira ao longo do ano serviços de manutenção programados, a exemplo de capinação das margens da via, desobstrução e limpeza do sistema de drenagem e serviços de tapa-buraco”.