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Um Nordeste de estradas perigosas e degradadas, aponta Pesquisa Rodoviária CNT

Região teve destaque negativo na Pesquisa Rodoviária 2021 da CNT. A malha rodoviária nordestina, inclusive, não foi a segunda pior por muito pouco

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Roberta Soares

Publicado em 05/12/2021 às 7:00
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Além de mostrar que o País precisaria investir R$ 85,2 bilhões para recuperar as estradas brasileiras, a Pesquisa Rodoviária 2021 da Confederação Nacional de Transportes (CNT) também confirmou, mais uma vez, que o Nordeste segue sendo uma das regiões mais impactadas pela omissão e dificuldades financeiras dos poderes públicos. Foi a terceira região mais afetada, ficando atrás apenas do Norte do País e, numa exceção, do Sul brasileiro, que em 2020 sofreu com a interrupção de diversas concessões rodoviárias e, por isso, subiu no ranking das piores. A malha rodoviária nordestina, inclusive, não foi a segunda pior por muito pouco.

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A região Norte teve a identificação de problemas em 77,8% da malha rodoviária pavimentada avaliada. Na sequência, está o Sul, com 64,7% das estradas percorridas apontadas como ruins e péssimas. O Nordeste vem na sequência, com uma diferença mínima para o Sul: 64,1% das estradas consideradas deficientes. A região Centro-Oeste segue o mesmo padrão do Nordeste e Sul, com 61,3% da malha rodoviária pavimentada avaliada com problemas. Já o Sudeste brasileiro, como sempre, lidera a melhor avaliação. Teve “apenas” 51,1% da malha avaliada com problemas, enquanto 48,9% foram consideradas boas e ótimas.

FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
A CNT estimou que houve um consumo desnecessário de 257 milhões de litros de diesel devido à má qualidade do pavimento da malha rodoviária nordestina. Esse desperdício custará R$ 1,13 bilhão aos transportadores - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

A classificação da malha nordestina é preocupante porque, diferentemente da região Norte, que tem força econômica no transporte aquaviário, o Nordeste é totalmente dependente do transporte rodoviário. Pelos cálculos da CNT, inclusive, o investimento necessário para recuperar as rodovias da região, com ações emergenciais, de manutenção e de reconstrução, seria de R$ 15,2 bilhões. Além disso, em 2021, a CNT estimou que houve um consumo desnecessário de 257 milhões de litros de diesel devido à má qualidade do pavimento da malha rodoviária nordestina. Esse desperdício custará R$ 1,13 bilhão aos transportadores.

Confira a pesquisa na íntegra AQUI e detalhes AQUI

“Isso deve ser um alerta porque, de fato, o Nordeste tem toda a logística dependente do transporte por rodovias e, se elas estão ruins, o custo econômico será maior. A região Norte, que teve o maior percentual de estradas com deficiência, tem uma malha rodoviária bem menor e um transporte aquaviário forte”, confirma o diretor executivo da CNT, Bruno Batista. O diretor ressalta, ainda, que o fato de a região Sul ter tido uma avaliação pior do que a do Nordeste foi atípico. “O normal seria o Sul estar mais bem avaliado. Isso não aconteceu na Pesquisa CNT 2021 porque Estados da região, como o Rio Grande do Sul e o Paraná, finalizaram algumas concessões da malha estadual”, explicou.

O PIOR DOS PIORES

Num recorte local, analisando os nove Estados nordestinos, a situação mais crítica é de Sergipe, com 38,4% das estradas consideradas ruins. O Maranhão vem na sequência (36,3%), seguido por Pernambuco, que teve a terceira pior malha rodoviária da região (32,4% das estradas avaliadas como ruins e péssimas). A presença do Estado na Pesquisa CNT, inclusive, não foi boa. Pernambuco figura com três rodovias estaduais entre as dez piores do País. Foi o segundo Estado nordestino a figurar na lista das piores. Além de Pernambuco, a Bahia aparece com uma rodovia. Nenhum outro Estado nordestino teve avaliações tão ruins.

As rodovias pernambucanas mais mal avaliadas na pesquisa foram, por ordem, a PE-177, que liga Quipapá a Garanhuns, no Agreste do Estado; a PE-545, entre Exu e Ouricuri, no Sertão do Araripe; e a PE-096, que liga Palmares a Barreiros, na Zona da Mata Sul do Estado. Todas receberam uma avaliação geral péssima. Foram avaliados o pavimento, a sinalização e a geometria da via. São levadas em conta, respectivamente, variáveis como condições do pavimento, placas e alguns elementos da via, como as curvas.

Thiago Lucas/ Artes JC
Rodovias - Thiago Lucas/ Artes JC

O Estado de Alagoas, vizinho a Pernambuco, foi uma grata surpresa na versão 2021 da Pesquisa CNT. A malha rodoviária alagoana teve apenas 1,4% considerada ruim e, mesmo assim, sem avaliações de péssimo - apenas ruins. O Distrito Federal e o Espírito Santo foram Estados que tiveram o mesmo desempenho de Alagoas.

CENÁRIO NACIONAL

Brasil precisa de R$ 82,5 bilhões para recuperar as rodovias do País

Mais uma vez, a Pesquisa Rodoviária CNT 2021 constatou que a malha rodoviária do País segue péssima. As melhorias existem - é verdade -, mas são pontuais. Estrada boa no Brasil segue sendo exceção. Infelizmente. A degradação é tão grande que custaria, segundo os cálculos da CNT, R$ 82,5 bilhões para ser sanada. E mais: o abandono da malha fez o Brasil deixar de economizar R$ 956 milhões de litros de diesel em 2020, o que representa a quantia de R$ 4 bilhões. Esse é o custo por termos estradas ruins.

Mais tecnológica, a pesquisa percorreu e avaliou 109 mil quilômetros de rodovias pavimentadas federais e estaduais - o equivalente a dar três voltas na terra, garante a confederação. O levantamento constatou que o estado geral de 61,8% da malha rodoviária brasileira é regular, ruim ou péssimo. E, para reforçar a imagem negativa do País, 91% desse percentual são de rodovias públicas - embora a rodovia mais bem avaliada no ranking seja uma estrada gerida pelo poder público: a SP-320, no interior de São Paulo e gerida pelo governo paulista. É a 24ª edição da pesquisa. 

FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
As rodovias pernambucanas que ficaram entre as dez piores foram: PE-177, que liga Quipapá a Garanhuns, no Agreste do Estado; a PE-545, entre Exu e Ouricuri, no Sertão do Araripe; e a PE-096, que liga Palmares a Barreiros, na Zona da Mata Sul do Estado - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Na comparação com a edição anterior, em 2019 (em 2020 o levantamento não foi feito devido à crise sanitária), chama a atenção o percentual de trechos sob gestão pública, que tiveram um desempenho ainda pior. O percentual de trechos bons e ótimos caiu de 32,5%, em 2019, para 28,2%, em 2021. O mesmo aconteceu na classificação negativa: a extensão avaliada como regular, ruim e péssima aumentou de 67,5%, em 2019, para 71,8% em 2021. “Ou seja, são mais 2.773 km de rodovias que estão em condições insatisfatórias de circulação. Na prática, é como se o motorista percorresse seis vezes, nessas más condições, o trecho do Rio de Janeiro a São Paulo. A condição de sinalização é outro agravante. Nesse quesito, os problemas nas rodovias públicas aumentaram 12,1 pontos percentuais nos últimos dois anos e passaram de 56,4% para 68,5%”, diz Bruno Batista.

RANKING DAS RODOVIAS

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Pesquisa CNT 2021 - REPRODUÇÃO
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Pesquisa CNT 2021 - REPRODUÇÃO

As melhores:

As 10 melhores estradas estão, como sempre, em São Paulo, onde há uma concentração de rodovias sob gestão concessionada nas posições com melhor classificação. Os trechos que apresentaram mais problemas estão sob gestão pública e distribuídos em três regiões: no Nordeste, em Pernambuco, Maranhão e Bahia; no Norte; no Amazonas e Acre; e no Sul, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

As piores:

A Pesquisa CNT de Rodovias 2021 apontou que os piores trechos rodoviários estão em quatro estados da Região Norte: Rondônia, Acre, Amazonas e Amapá, que não tiveram extensões classificadas como ótimo. Já o Distrito Federal, Espírito Santo e Alagoas surpreenderam porque não tiveram trechos avaliados como péssimos.

DADOS GERAIS

1.Estado Geral: 61,8% da malha rodoviária pavimentada avaliada do país apresentam algum tipo de problema, sendo consideradas regulares, ruins ou péssimas; e 38,2% da malha são consideradas ótimas ou boas.

2.Pavimento: 52,2% da extensão da malha rodoviária do país avaliada apresentam problemas; 47,8% estão em condição satisfatória; e 0,5% está com o pavimento totalmente destruído.

3.Sinalização: 58,9% da extensão da malha rodoviária da região são consideradas regulares, ruins ou péssimas; 41,1%, ótimas ou boas; 6,7% da extensão está sem faixa central e 12,7% não têm faixas laterais.

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RODOVIAS PEDAGIADAS 1 WEB - ARTES/JC
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RODOVIAS PEDAGIADAS 4 - WEB - ARTES/JC
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RODOVIAS PEDAGIADAS 3 - WEB - ARTES/JC
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RODOVIAS PEDAGIADAS 2 - WEB - ARTES/JC

4.Geometria da via (traçado): 62,1% da extensão da malha rodoviária do país apresentam algum tipo de problema; 37,9% estão ótimas ou boas. As pistas simples predominam em 85,7%. Falta acostamento em 42,4% dos trechos avaliados e 57,5% dos trechos com curvas perigosas não têm sinalização.

5.Pontos críticos: a pesquisa identifica 1.739 no país (1.363 trechos com buracos maior que um pneu).

6.Custo operacional: as condições do pavimento no estado geram um aumento de custo operacional do transporte de 30,9%. Isso reflete na competitividade do Brasil e no preço dos produtos.

7.Investimentos necessários: para recuperar as rodovias no Brasil, com ações emergenciais, de manutenção e de reconstrução, são necessários R$ 48,09 bilhões.

8.Meio ambiente: em 2021, estima-se que haverá um consumo desnecessário de 956,0 milhões de litros de diesel devido à má qualidade do pavimento da malha rodoviária no país. Esse desperdício custará R$ 4,21 milhões aos transportadores.

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