Pegar a estrada para aproveitar o tão esperado verão 2022/2023 no Litoral de Pernambuco, após as fases mais agudas da pandemia de covid-19, significará perigo para os motoristas. Preparem-se. A malha rodoviária pública que dá acesso não só às praias mais famosas, mas também às populares entre os locais, está péssima. Perigosíssima, sem sinalização, sem acostamento, abandonada e cheia de armadilhas.
Como costuma fazer todos os anos, o JC foi verificar a infraestrutura de acesso aos Litorais Norte e Sul. Constatou que, o que já estava estragado e ruim ainda pela ausência de investimentos devido à crise econômica da pandemia, ficou ainda pior por causa do rigoroso inverno que o Estado enfrentou este ano.
As fortes chuvas não levaram somente 130 vidas pernambucanas, perdidas em pouco mais de um mês de inverno - quase a totalidade na Região Metropolitana do Recife e em deslizamentos de barreiras, é importante ressaltar. Destruíram também as já comprometidas estradas de acesso ao Litoral Pernambucano. As exceções quase não existem.
Chegar às praias mais famosas da costa litorânea de Pernambuco, localizadas no Litoral Sul do Estado, é enfrentar rodovias destruídas. Principalmente as estaduais (PEs). A situação nunca esteve tão ruim. A fama nacional e internacional de praias como Porto de Galinhas e Carneiros, localizadas em Ipojuca e Tamandaré, respectivamente, não foi e ainda não tem sido suficiente para atrair uma infraestrutura condizente com a beleza natural dos locais.
O acesso que desde 2012 se tornou o principal à Praia de Carneiros após a conclusão da ponte sobre o Rio Ariquindá, pela rodovia PE-072, é de envergonhar qualquer profissional do setor turístico ou cidadão que vá apresentar aquele paraíso a um amigo ou familiar. Envergonha e coloca a segurança de todos em perigo, o que precisa ser a grande discussão.
Para o cidadão, pouco importa se a rodovia é estadual e, por isso, é o governo de Pernambuco quem deve recuperá-la. Ou se a Prefeitura de Tamandaré, cidade onde ela está localizada, deveria se incomodar e agir. O que o cidadão quer é um acesso seguro e aprazível.
“É absurdo demais, demais. É inacreditável e revoltante. Não consigo entender como o poder público deixa uma rodovia dessas assim. Mancha o nome de Carneiros. Passamos vergonha, as pessoas ficam impressionadas com o abandono, reclamam. Sem falar no perigo para todos, principalmente à noite”, critica o motorista Ednilson José dos Santos, que reside em Tamandaré e todos os dias passa na PE-072.
A PE-072, de fato, está destruída. Em agosto de 2021, o JC esteve na rodovia e já identificou problemas, que permaneceram. Buracos por toda parte e até deslizamento de barreira não solucionado se encontram. O acesso à rodovia a partir da bifurcação com a PE-060 é um caso à parte. As condições do pavimento estão péssimas e a sinalização, mesmo deteriorada, só confunde.
De tão antiga, a placa indicativa de destinos sequer avisa que ali é um acesso mais rápido à Praia de Carneiros, que reduz em 35 quilômetros o percurso, antes feito apenas pelo centro de Tamandaré. Por sorte, uma placa de madeira, confeccionada por comerciantes da região, foi instalada no verão passado e ajuda. Mas apenas para quem passar atento.
O perigo no acesso às praias é generalizado. Começa com a rodovia PE-060, o principal caminho para o famoso Litoral Sul de Pernambuco. Entre a bifurcação da BR-101 Sul e o acesso ao Porto de Suape, trecho duplicado, ela é menos ruim. Mas a partir daí, até a divisa com Alagoas, a via é mão dupla, sem acostamento, sinalização velha e pouca, e repleta de buracos, além de armadilhas de cimento.
“Está tudo muito ruim e há muito tempo. E como, pelo menos no caso da Praia de Porto de Galinhas, a maioria dos turistas usa o pedágio (via Rota do Atlântico) a impressão é de que o poder público esquece mesmo da rodovia. Não só a PE-060, mas também a de acesso a Porto de Galinhas”, critica o borracheiro Breno Alves, mesmo sendo beneficiado pelo estrago da malha rodoviária porque atende os clientes às margens da rodovia.
A estrada a que o borracheiro se refere é a PE-038, que conecta a PE-60 à Nossa Senhora do Ó, distrito de Ipojuca localizado na entrada da Praia de Porto de Galinhas. É caminho obrigatório para quem quer chegar à praia mais famosa do Estado sem utilizar as rodovias pedagiadas. Bastante sinuosa, onde não há buracos, a rodovia está toda remendada por ações de tapa-buraco.
A PE-51, acesso principal à Praia de Serrambi, assim como a conexão dela com a Praia de Porto de Galinhas, assustam e não são recomendadas para quem não conhece o percurso. À noite, então, devem ser evitadas sob todas as hipóteses.
A PE-51 virou um verdadeiro mar de buracos. São tantos que a população aproveita para fechá-los com terra e tentar, com o gesto, sensibilizar motoristas que passam no trecho a ajudá-los a compensar o baixo movimento do turismo - fonte de renda de muitos na região.
A PE-009, único acesso à Praia de Porto de Galinhas, é um alívio no mar de rodovias esburacadas e perigosas. Tem problemas, mas são pontuais perto da malha viária da região. A ciclovia instalada ao longo de toda rodovia se destaca e ajuda no paisagismo do acesso.
Mas quem sai da PE-009 para chegar à Praia de Muro Alto, também famosa nacionalmente, volta a se assustar. A via está toda remendada, em mais uma ação tapa-buraco. E a requalificação do trecho de um quilômetro de paralelepípedos que o governo de Pernambuco iniciou ainda em 2021 não foi concluída devido às chuvas deste ano. O inverno rigoroso também estragou parte do que foi feito, infelizmente.
Embora menos famosas, as praias do Litoral Norte de Pernambuco levam vantagem sobre as do Sul quando o recorte é a infraestrutura de acesso. A malha rodoviária que chega a praias como Ponta de Pedras, em Goiana, na Mata Norte do Estado, e Itamaracá, na Região Metropolitana do Recife, por exemplo, está numa situação bem melhor do que a região Sul.
De cara, no entanto, é preciso alertar que são todas rodovias ruins. Pelo menos no caso das PEs. A sinalização horizontal praticamente inexiste, a vertical virou lenda há muito tempo, e não há acostamento em toda a extensão, independentemente da rodovia. Também é comum ver a vegetação invadindo a faixa de rolamento.
Todas as PEs da região estão assim: PE-49, acesso a Ponta de Pedras, PE-035, que leva à Ilha de Itamaracá, ou PE-14, no acesso a Mangue Seco. Assim como a PE-15 e a PE-22, que são bem mais urbanas e levam à Maria Farinha.
São estradas que, embora não estejam tomadas por buracos como as do Litoral Sul, não têm nada além de um pavimento razoável. O que é de se esperar, já que a demanda de turistas e visitantes nas praias do Litoral Norte é muito menor do que a registrada no Litoral Sul.
A PE-49, por exemplo, segue com um pavimento bem razoável, mas sem acostamento e qualquer tipo de sinalização - inclusive a horizontal, o que demonstra que há muito tempo o poder público não cuida como deveria. Sinuosa, torna-se perigosa devido a essas ausências.
A rodovia, inclusive, vem sofrendo um processo de degradação nos primeiros dez quilômetros devido ao excesso de carga de caminhões que retiram areia e a transportam pela via de acesso ao vilarejo de Atapuz, uma vila de pescadores situada entre o Canal de Santa Cruz e a Ilha de Itapessoca, no município de Goiana.
Segundo denúncia de moradores, os caminhões levam o material para o Grande Recife e, por não enfrentarem fiscalização, desrespeitam o limite de peso, impactando diretamente no desgaste da rodovia. “Isso começou há um ano, aproximadamente. Destruíram a estrada que leva para Atapuz e já começamos a ver que estão estragando também a de Ponta de Pedras. Pelo menos no trecho até a BR-101. É o excesso de peso da carga”, denuncia o empresário cultural Livaldo Alves de Melo, conhecido como Pernambuco.
Os acessos às praias da Ilha de Itamaracá e de Igarassu estão na mesma situação: não são dos piores, mas também não são estradas boas e seguras. A PE-035, que corta Itapissuma e chega à Itamaracá, é um exemplo. O mesmo acontece com a PE-014, em Nova Cruz, que dá acesso à Praia de Mangue Seco. O motorista desatento pode ser surpreendido por um ou outro buraco. E, ao longo de toda viagem, não contará com sinalização ou acostamento. Isso é certo.
A pavimentação da estrada vicinal que leva às Praias do Sossego, Enseada dos Golfinhos e Pontal de Itamaracá, numa extensão de aproximadamente dez quilômetros, é quase uma lenda urbana na região.
A estrada chegou a ser preparada para a implantação, ainda no segundo governo de Miguel Arraes (PSB) - ou seja, quase 30 anos atrás -, mas as obras não avançaram. Apesar de tudo estar pronto, inclusive com recursos garantidos via Prodetur. Até hoje parte das pessoas que moram e veraneiam na região aguardam.
“Infelizmente, seguimos esperando pela pavimentação da estrada. Apesar de a Prefeitura de Itamaracá estar sempre passando a máquina para garantir a trafegabilidade, o fato de ela ainda ser vicinal prejudica o acesso às praias e, consequentemente, a economia local. A implantação da rodovia é fundamental para ajudar o turismo”, alerta Rubem Catunda, ex-prefeito de Itamaracá e empresário do setor turístico.
Outro alerta precisa ser feito para quem planeja pegar a estrada em direção ao Litoral Norte pernambucano. Até mesmo a BR-101 Norte, referência viária, já tem diversos problemas de pavimento que, como é costume, começam a ser solucionados com remendos de asfalto sobre o concreto, destruindo o que foi feito e potencializando os riscos de sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se diz, segundo a ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas). É preciso estar alerta.