A incapacidade financeira e administrativa do País para cuidar da malha rodoviária pavimentada brasileira tem gerado um efeito ainda mais cruel do que apenas os danos econômicos. A degradação das rodovias tem feito com que o custo dos sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define. Entenda) superem o valor investido em infraestrutura rodoviária. Acreditem.
Enquanto o Brasil gastou R$ 12,75 bilhões com os mortos, feridos e mutilados do trânsito em 2021, investiu menos de R$ 6 bilhões no mesmo período. Isso considerando apenas os registros das rodovias federais, ou seja, as BRs. Foram 64.515 sinistros de trânsito em 2021, que resultaram na perda de 5.395 vidas.
No Brasil, para se ter ideia do peso das rodovias federais na fatalidade do trânsito, são 32 mil mortos por ano, incluindo na soma as mortes em vias urbanas do País. Essa é mais uma constatação da Pesquisa CNT de Rodovias 2022, que chega à sua 25ª edição e foi divulgada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) na quarta-feira (9/11).
A pesquisa, inclusive, evidencia que essa realidade poderia ser evitada com a melhora da pavimentação, da sinalização e da geometria das rodovias. Por isso, a degradação de quase 70% da malha rodoviária pavimentada brasileira contribuiu diretamente para esse alto custo social.
Não é mais acidente de trânsito. Agora, a definição é outra nas ruas, avenidas e estradas do Brasil
PESQUISA CNT RODOVIAS: custo para recuperar ESTRADAS do País é superior a R$ 94 bilhões
Em 2022, por exemplo, também de acordo com a Pesquisa CNT, estima-se que os custos
das colisões de trânsito tenham sido de R$ 8,29 bilhões, enquanto o total pago em investimentos em rodovias federais foi de R$ 3,90 bilhões, resultando em uma diferença de R$ 4,69 bilhões. Isso calculado até o mês de agosto.
• 110.333 km pesquisados. Acréscimo de 1.237 km (1,1%) em relação a 2021 (109.096 km)
• Abrange toda a extensão pavimentada das rodovias federais e das principais
rodovias estaduais do país
• 22 equipes de pesquisa; 30 dias de coleta em campo
ABRANGÊNCIA
Extensão avaliada por região (km)
Norte 13.745
Nordeste 29.537
Sudeste 30.297
Sul 18.670
Você sabe o que são rodovias que perdoam?
Centro-Oeste 18.074
Tipo de gestão 2022
Gestão Pública 87.095
Gestão Concedida 23.238
Total 110.333
Extensão pesquisada por tipo de jurisdição (km)
Tipo de jurisdição 2022
Federal 67.382
Estadual 42.951
Total 110.333
SINISTROS DE TRÂNSITO
Sinistros de trânsito rodoviários
• Os 64.515 sinistros de trânsito ocorridos em rodovias federais em 2021 geraram um prejuízo aproximado de R$ 12,75 bilhões para o País e a perda 5.395 vidas (óbitos).
Custo econômico dos sinistros de trânsito rodoviários - 2021
Tipo/Custo médio (R$)/Número de sinistros/Custo adicional dos sinistros de trânsito (R$ bilhões)
Com fatalidade R$ 1.054.367,91 4.663 R$ 4,92
Com vítimas R$ 153.436,33 48.161 R$ 7,39
Sem vítimas R$ 37.267,67 11.691 R$ 0,44 R$ 12,75
Fonte: Elaboração CNT, com dados da PRF. Atualizado pelo IPCA de agosto/2022
A malha rodoviária brasileira segue ruim, perigosa e, em vários Estados, com trechos quase intrafegáveis. E, o que é ainda mais alarmante: a situação piorou ainda mais este ano. Os dados da Pesquisa CNT de Rodovias 2022 mostram que quase 70% das estradas do País apresentam algum tipo de problema, oscilando entre péssimas, ruins e regulares. Apenas 34% da malha analisada foi considerada, no mapeamento atual, ótima ou boa.
E o custo dessa histórica e permanente degradação é alto para o País: R$ 94,93 bilhões. Essa seria a quantia necessária para recuperar o estrago. Ou seja, para promover ações emergenciais, de restauração e de reconstrução das estradas.
E por causa da ineficiência do País para cuidar e fiscalizar suas estradas - responsabilidade que precisa ser dividida entre o poder público e o setor privado -, o estrago provocou e provocará um consumo desnecessário de 1,1 bilhão de litros de diesel devido à má qualidade do pavimento. Esse desperdício custará R$ 4,89 bilhões aos transportadores.
A Pesquisa CNT de Rodovias 2022 mapeou, este ano, 110.333 km no Brasil, o que representa a totalidade da malha rodoviária pavimentada brasileira. Na edição deste ano, houve um acréscimo de 1.237 km (1,1%) em relação a 2021, quando foram analisados 109.096 km.
“A degradação da malha rodoviária brasileira está em um nível muito acelerado e algo precisa ser feito com urgência para reverter esse quadro. Caso contrário, o Brasil entrará num estágio em que terá que reconstruir sua malha rodoviária, sem ter recursos para isso”, alerta o diretor executivo da CNT, Bruno Batista.
“Nunca tivemos uma situação tão ruim. Pela primeira vez, desde que a Pesquisa CNT começou a ser desenvolvida, vimos resultados tão preocupantes. Este ano, tivemos menos de 10% do pavimento das rodovias analisadas considerado como perfeito. Em 2011, 2012, e até 2015, por exemplo, esse índice era de 35%. Em 2022 caiu para 9%”, segue alertando.
Bruno Batista confirma o que o histórico das pesquisas apontam: que o problema da degradação da malha rodoviária não é de um governo, mas de vários, da figura do Estado em si. “Nosso objetivo não é fazer críticas a um ou a outro governo. A situação da malha nesses 25 anos de análise mostra que é preciso uma política pública de investimentos. Sem recursos para manutenção e requalificação das estradas não vai ter solução”, reforça.
“Não é à toa que o Sudeste segue se destacando no ranking. Sete das dez melhores rodovias do País estão na região, onde predominam as concessões. Das dez melhores, nove são concedidas. Já a região Norte, por exemplo, tem situações extremas, como o fato de que 80% da malha foram avaliados como ruim. Estados como o Acre e o Amazonas, por exemplo, não tiveram rodovias consideradas como ótimas. No Acre, 98% da malha foram avaliadas como ruins”, diz.
“Já as dez piores são todas estaduais e públicas. Isso é um sinal de que, de fato, o poder público não investe. E não adianta termos uma malha federal boa ou razoável e uma malha estadual ruim. As duas se conectam porque compõem uma rede. Não faz sentido as BRs serem boas e as estaduais estarem em ruínas”, segue afirmando.
E a perspectiva de futuro não é boa, o que agrava ainda mais a situação. Segundo a CNT, a previsão para 2023, pelo Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), é de que o País irá investir menos de R$ 6 bilhões na malha rodoviária federal.
Essa quantia seria metade do que a pesquisa estimou em custos com os mortos e feridos nas estradas devido à falta de manutenção e trafegabilidade: R$ 12 bilhões.
“Em 2021, foram R$ 6 bilhões e, para 2023, estão previstos ainda menos: R$ 5,8 bilhões. Isso representa um investimento de 0,7% do PIB do Brasil. O que é muito injusto para a força econômica que as rodovias têm no País, onde o transporte de cargas é rodoviário”, finaliza.
CONFIRA A ÍNTEGRA DA PESQUISA CNT DE RODOVIAS 2022 AQUI
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