VÍDEO: bombeiro DESABAFA ao ver SAQUE de mercadorias enquanto MOTORISTA morre em CAPOTAMENTO

Bombeiro militar com 28 anos como socorrista faz desabafo enquanto população rouba carga com motorista morto
Roberta Soares
Publicado em 30/03/2023 às 12:36
População saqueia mercadoria na BR-104, em Panelas, no Agreste de Pernambuco Foto: REPRODUÇÃO


A indignação que o bombeiro militar Lindomar Rodrigues, socorrista com 28 anos de profissão, demonstra nos vídeos desta reportagem deve ser sentida e compartilhada por todos. Sem distinção. Rodrigues ficou indignado ao chegar a um local de sinistro de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se diz. Entenda) e ver uma multidão saqueando a mercadoria espalhada pela forte colisão, enquanto o motorista seguia ferido e, posteriormente, morto na cabine destruída da carreta.

O bombeiro militar se indignou com a indiferença que a sociedade vem desenvolvendo em relação à vida humana, ainda mais potencializada nos casos de mortes no trânsito - que seguem sendo vistas, em muitos casos, como ‘fatalidades’.

O vídeo desta reportagem mostra essa indignação. “Isso é roubo. Ladrões somos nós. Vocês não entendem isso não é? Tem um pai de família ali, morto. E vocês não estão nem aí, arrombando a carga", lamentou no vídeo gravado por pessoas que estavam no local.

O caso aconteceu na BR-104, na altura do município de Panelas, no Agreste pernambucano, a menos de cinco quilômetros da cidade.

De tão perigoso, o local é conhecido como Curva do Criminoso e, entre os profissionais socorristas, qualquer ocorrência naquela área já é sinônimo de estrago grande, de dor e, quase sempre, de morte.

É tanto que, naquele sinistro de trânsito, a equipe do 2º Grupamento de Bombeiros de Caruaru, comandada pelo segundo sargento Rodrigues, levou quatro horas para conseguir tirar o corpo do motorista das ferragens.

"DESUMANIDADE NUNCA VISTA", DIZ BOMBEIRO MILITAR

“Em 28 anos de profissão como socorrista - devo ser o mais antigo do Estado ainda na ativa -, nunca vi nada parecido. As pessoas saqueando a carga de sapatos da carreta baú. Ninguém estava preocupado com o motorista ferido e, talvez, ainda vivo. Nunca vamos saber”, relembra.

Foi o descaso com a vida humana diante da prática do roubo - sim, roubar produtos da carga de um veículo envolvido em sinistro de trânsito é crime de roubo e, por isso, pelo menos cinco pessoas chegaram a ser presas pela Polícia Civil de Panelas no episódio - o que mais chocou o bombeiro militar.

VEJA O MOMENTO EM QUE O BOMBEIRO SE INDIGNA

Nos vídeos, ele aparece demonstrando sua indignação e questionando as pessoas se elas não tinham vergonha de estar ali, roubando, enquanto “um pai de família” morria esmagado, preso às ferragens na carreta.

Confira a série de reportagens Mutilados - As verdadeiras vítimas do trânsito

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“Talvez ninguém pudesse ter feito nada pelo motorista, identificado como Caio, um homem jovem, de 28 anos, natural do Ceará. Talvez ele já estivesse morto, é verdade. Mas estamos falando de humanidade. As pessoas perderam esse sentimento de humanidade com o próximo", diz.

Estavam tão preocupadas com a carga que não sabiam nem nos dizer quantas vítimas existiam. Algo atípico no nosso trabalho, já que as pessoas, quando chegamos aos locais, informam detalhes dos casos”, lamenta o bombeiro militar, que também é instrutor de trânsito.

REPRODUÇÃO - População saqueia mercadoria na BR-104, em Panelas, no Agreste de Pernambuco

MULTIDÃO DE PESSOAS SAQUEANDO A MERCADORIA

Rodrigues conta que era uma verdadeira multidão e que as pessoas não paravam de chegar. Como o local do sinistro - o km 114 da BR-104 - fica próximo ao centro de Panelas, a notícia da carga exposta se espalhou rapidamente.

“A população separava caixas e mais caixas de sapato e chegavam a brigar entre si pela mercadoria. Algo absurdo e inacreditável demais. Nunca tinha vivido algo assim. Não dessa forma, com uma pessoa ferida ou morta ainda no local”, desabafa.

VÍDEO MOSTRA AS PESSOAS SAQUEANDO A MERCADORIA

Até a chegada da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o segundo sargento ficou no local apenas com sua equipe e conta que, diante dos seus questionamentos e críticas, a população chegou a ficar contra os bombeiros.

“As pessoas, inclusive mulheres e crianças, estavam tão despreocupadas que cheguei a ouvir um diálogo sobre pegar sapatos de crianças embaixo da carreta porque eram bons para serem vendidos. Nem mesmo o risco que poderiam correr, já que a carreta estava numa descida e poderia se mover a qualquer momento, assustava as pessoas. Muito, muito triste.

A Polícia Civil de Panelas conseguiu apreender uma pequena parte da carga de sapatos e chegou a convocar as pessoas para que devolvessem o que roubaram, alertando que a prática era criminosa. Mas o que chegou a ser recuperado não representou nem 10% do que foi roubado.

Ou seja, a desumanidade venceu.

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