As pessoas que vão desembarcar e embarcar no Aeroporto Internacional do Recife devem se acostumar a ter voos atrasados ou desviados para aeroportos de estados vizinhos enquanto durar o inverno chuvoso na capital pernambucana. Nesta segunda-feira (26/6), mais uma vez voos foram desviados, atrasados e cancelados porque, com a desativação do sistema de orientação de pousos do terminal, algumas aeronaves não conseguem fazer a aterrissagem quando a chuva está forte.
Somente pela manhã, três voos foram afetados diretamente: um foi cancelado e dois tiveram que ser desviados para aeroportos de Estados vizinhos a Pernambuco. Há informações de que os pilotos ainda tentaram fazer a aterrissagem, mas não conseguiram e arremeteram, procedimento de retomada do voo que sempre assusta os passageiros. Além disso, outras aeronaves teriam ficado sobrevoando a cidade à espera de que o tempo melhorasse.
Por nota, a Aena Brasil, concessionária que administra o Aeroporto Internacional do Recife, comentou os problemas desta segunda. “Devido às fortes chuvas que atingiram a capital pernambucana, o Aeroporto Internacional do Recife operou por instrumentos durante duas horas na manhã desta segunda-feira (26). Um voo foi cancelado devido ao mau tempo, e dois alternaram para outros aeroportos. Alguns voos permaneceram em órbita por algum tempo, mas retornaram e pousaram logo em seguida. As equipes de operações estão monitorando a situação meteorológica”.
Os desvios e cancelamentos não estão sendo provocados apenas pelas chuvas, mas devido à desativação do Sistema de Pouso por Instrumento (Instrument Landing System - ILS), um dispositivo fundamental para auxiliar os pilotos até obterem contato visual com a pista de pouso.
Esse contato visual só seria possível a partir dos 200 pés de altura (o equivalente a 61 metros de altura). Até chegar a esse patamar, só é possível realizar o procedimento de pouso com o ILS.
Sem conseguir realizar a aterrissagem em dias de chuva, já que não têm a orientação do equipamento, os pilotos precisam arremeter a aeronave e seguir para outros aeroportos da região - como aconteceu no dia 14/6, quando 39 voos foram impactados devido às fortes chuvas. Principalmente os que iriam aterrissar no Aeroporto Internacional do Recife.
Na sexta-feira (23), véspera de São João e dia de muita chuva no Grande Recife, mais transtornos: três voos foram alternados para outros aeroportos e um deles foi cancelado por causa do mau tempo.
Para quem não sabe, arremeter é um procedimento no qual o piloto de uma aeronave retoma o voo depois de falhas no processo de pouso ou quando o piloto não tem referência visual da pista. A arremetida pode ocorrer ainda em voo, durante a reta final ou após a aeronave ter "tocado" a pista.
O mais grave do processo é que, segundo a denúncia feita ao JC, a desativação do ILS foi provocada pela interdição da cabeceira da pista que é mais utilizada no aeroporto para obras de ampliação do terminal. Pilotos alegam que essas obras de infraestrutura, embora importantes, poderiam ter sido antecipadas ou adiadas para um período de sol, quando o uso do ILS não fosse tão imprescindível.
O Sistema de Pouso por Instrumento teria sido desativado no dia 24 de maio e a previsão é de que as obras na cabeceira da pista sejam concluídas no dia 29 de julho. Assim, pilotos afirmam que, até lá, qualquer chuva que diminua a visibilidade da pista deixará as aeronaves em espera ou fará com que sejam redirecionadas para outros aeroportos.
A Aena Brasil não tem falado sobre o assunto. Se posiciona com notas resumidas, que pouco abordam o desligamento do ILS. Mas, nesta segunda (26), divulgou um posicionamento em que garante já ter concluído as obras na pista e que o religamento do sistema de pouso depende apenas da Aeronáutica.
“Aena Brasil informa que as obras da pista do Aeroporto do Recife foram concluídas no dia 24 de maio e, desde então, a concessionária aguarda autorização do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) para realocar o ISL para a nova posição”.
A Força Aérea Brasileira (FAB) já tinha se posicionado condicionando o religamento do equipamento às obras que estão sendo executadas na pista. Na nota, a FAB explica que o desligamento foi feito por segurança, mas deixa claro que o ILS só poderá ser religado após a conclusão das obras que, segundo as primeiras informações obtidas pelo JC, seriam finalizadas apenas no dia 29 de julho - fato que foi negado pela Aena em nota.
A FAB também garantiu que a segurança para pousos no aeroporto está mantida com procedimentos de aproximação por instrumentos que direcionam a aeronave com segurança para o rumo da pista.
Confira a nota da FAB na íntegra:
“Com o objetivo de manter a segurança da operação, o ILS (Instrument Landing System) do aeroporto em questão está inoperante. Após a implantação de uma área de segurança de fim de pista (Runway End Safety Area), foi necessário modificar a posição da cabeceira da pista de pouso e, com isso, realizar adaptações no ILS instalado.
Durante este processo, é preciso manter o auxílio à navegação aérea Glide Slope desligado até que seja concluída a reinstalação na nova posição da cabeceira de pista, já que o equipamento é responsável por oferecer uma rampa eletrônica para a aeronave durante a fase final do pouso.
No que se refere à Segurança Operacional, o equipamento só poderá ser colocado em operação após o cumprimento de todos os itens previstos nas legislações referentes ao Plano de Proteção do Aeródromo e demais auxílios e Sistema de Pouso por Instrumentos.
A responsabilidade pela realocação do ILS é da concessionária do aeroporto, sob a supervisão do CINDACTA III (Terceiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo). Todo o processo de homologação é feito atendendo aos parâmetros de segurança previstos no MCA 63-4 - Homologação, Ativação e Desativação no âmbito do SISCEAB (Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro).
Na indisponibilidade do ILS, o aeródromo de Recife dispõe dos procedimentos de aproximação por instrumentos VOR (Very High Frequency Omnidirectional Range), procedimento balizado por uma antena no solo, e RNP (Required Navigation Performance), este balizado por GPS. Ambos os procedimentos por instrumentos direcionam a aeronave com segurança para o rumo da pista”.