Os danos provocados pelo uso inseguro e imprudente das motocicletas se confirmam em várias áreas da saúde. Na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) do Recife, os ferimentos causados por colisões e quedas com motos estão entre as principais causas de mutilações em pacientes atendidos pela entidade, referência nacional na assistência médico-terapêutica de excelência em Ortopedia e Reabilitação.
Um estudo da AACD mostrou que as vítimas das motos respondem por 53,2% dos traumas sofridos pelas pessoas que passam pela unidade. E em 96% das situações envolvendo motos, houve colisão e era o paciente quem pilotava a motocicleta. Os passageiros, na garupa, representam 8% dos que buscam reabilitação na AACD Recife.
Confira a série de reportagens UBER MOTO: perigo sobre duas rodas
Confira a série de reportagens Mutilados - As verdadeiras vítimas do trânsito
O estudo também confirma a intensidade do tratamento dessas vítimas das motos, que em sua grande maioria - 83,6% - precisa usar próteses por mais de sete horas diárias. A boa notícia é que, mais da metade desses pacientes (58,6%) consegue ter autonomia de descolamento com as próteses. Em segundo lugar entre as vítimas dos traumas estão os atropelamentos, com 17%.
VÍTIMAS DO TRÂNSITO EM GERAL
O estudo da AACD Recife aponta, ainda, que os sinistros de trânsito em geral (não é mais acidente de trânsito que se define, segundo a ABNT) são a segunda principal causa de amputação entre os pacientes, respondendo por 34,1% dos casos. Perdem apenas para as doenças vasculares, com 53,6%.
Tumores, osteomielite (infecção óssea) e queimadura são outras causas que levaram à amputação de pessoas que fazem ou fizeram reabilitação no local.
-
DIA MUNDIAL DAS VÍTIMAS DO TRÂNSITO: mortes no trânsito aumentaram mais de 19% no Recife e ocupantes de motos seguem sendo as principais vítimas -
UBER E 99 MOTO: atendimentos de vítimas de MOTOS explodem no RECIFE -
UBER MOTO: os perigos e riscos do uso de motos no transporte de passageiros por aplicativo
POR DENTRO DO ESTUDO
No total, foram avaliados 138 casos de amputação em pacientes elegíveis para a pesquisa entre 2018 e 2021. No caso das doenças vasculares, observou-se que as comorbidades, principalmente hipertensão e diabetes, são um importante fator que levam às amputações.
“Em 2010, uma outra pesquisa havia sido feita na mesma unidade. Passados 13 anos, não houve uma mudança significativa no padrão das amputações, algo que sugere que esse cenário só mudará quando houver a implementação de políticas preventivas ou com a otimização do acesso dos pacientes aos centros especializados”, ressalta o médico Júlio Lima, que conduziu o estudo.
A AACD foi fundada em 1950 e possui uma infraestrutura completa dedicada a pacientes ortopédicos e à reabilitação de pessoas com deficiências físicas, sendo composta por um hospital ortopédico, sete unidades de reabilitação e cinco oficinas para fabricação de produtos ortopédicos.
Realiza em média 800 mil atendimentos anuais via SUS, particular e convênios. Já a AACD Recife realizou mais de 2 milhões de atendimentos desde que foi criada,em 1999.