Nesta quinta-feira, 20 de junho, acontece o tão esperado julgamento do motorista que atropelou, alcoolizado e sem prestar socorro, a cicloativista Marina Kohler Harkot, no dia 8 de novembro de 2020. A jovem, então com 28 anos, foi atropelada quando pedalava na Avenida Paulo VI, no bairro de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. Marina voltava para casa.
A morte da cicloativista virou símbolo nacional da luta pela mobilidade ativa, pela segurança viária e por cidades menos rápidas e mais humanas. Virou bandeira, também, da impaciência com motoristas que ainda bebem e dirigem e, ainda, fogem sem prestar socorro às vítimas.
Virou marca da intransigência social com a irresponsabilidade ao volante. Por isso, o júri popular do motorista que matou Marina interessa a todo o Brasil. Acontecerá no Fórum da Barra Funda, em São Paulo.
“Infelizmente, Marina não foi a primeira e não será, ainda, a última vítima desse trânsito brasileiro que se distingue pela violência graças a selvagens e inconsequentes motoristas que utilizam veículos como instrumentos de guerra. Armas de guerra contra seres humanos mais frágeis, fracos e indefesos”, afirma a família de Marina, que desde o sinistro de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define, segundo a ABNT) luta pela causa da segurança viária no País, principalmente para pedestres e ciclistas.
BEBEU, ATROPELOU E FUGIU SEM PRESTAR SOCORRO
O responsável pelo atropelamento é o empresário José Maria da Costa, que será julgado por um júri popular. Além de não ter prestado socorro, as investigações mostram que Costa estava embriagado, destruiu as provas do crime e ficou foragido durante o início das apurações.
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Costa foi indiciado pela Polícia Civil de São Paulo e denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por homicídio doloso qualificado por dirigir sob efeito de álcool. Neste fim de semana, manifestações aconteceram em pelo menos seis cidades do País em apoio à condenação do acusado pelo atropelamento.
EXPECTATIVAS POR CONDENAÇÃO NO JULGAMENTO
Em entrevistas à imprensa, Maria Claudia Kohler, mãe de Marina, falou sobre a expectativa do julgamento popular. “A expectativa é que o julgamento seja uma referência para casos de morte no trânsito. Por ano, a gente tem quase 1.500 ciclistas atropelados. É um número extremamente alto. É uma barbárie. A gente está falando de vidas, lei, civilidade, cidades mais gentis, pessoas cuidadosas com os outros. Há três anos e sete meses, foi minha filha, mas pode ser uma pessoa querida de qualquer um de nós. Todos têm o risco de sofrer uma fatalidade de uma morte abrupta desse jeito”, afirmou.
“Esse julgamento representa a nossa batalha por honrar a vida de todos os cidadãos. Então, a gente está falando de um modo operante que está errado. O júri popular representa a sociedade, então, que a gente tenha uma voz que possa, com transparência, ser a favor da vida e da justiça”, seguiu.
“A falta que Marina faz não pode ser contabilizada, mas a gente pode fazer com que isso seja um exemplo para mudar o entendimento da legislação. Atropelar ciclista não é acidente. A gente tem centenas de casos de atropelados que foram mortos e de pessoas que atropelaram e não foram sequer julgadas e nem punidas”, complementa.
Marina Harkot era socióloga pela Universidade de São Paulo (USP), fazia doutorado e atuava como pesquisadora do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade) e Ciclo Cidade, além de atuar em outros grupos ligados à mobilidade ativa.