COLUNA MOBILIDADE

Motorista que matou violentamente ciclista na Avenida Caxangá, no Recife, vai responder por homicídio culposo (sem intenção)

A investigação não conseguiu comprovar o excesso de velocidade ou um possível consumo de álcool, já que o condutor foi socorrido com ferimentos leves e não fez teste de alcoolemia

Imagem do autor
Cadastrado por

Roberta Soares

Publicado em 29/12/2021 às 14:46 | Atualizado em 29/12/2021 às 18:20
Notícia
X

Tudo como previsto e ainda é regra nos casos de mortes no trânsito. O motorista de uma caminhonete Hilux que atropelou violentamente e matou em novembro o ciclista Flávio Antônio, 42 anos, na Avenida Caxangá, corredor viário da Zona Oeste do Recife, foi indiciado por homicídio culposo, ou seja, sem intenção. Apesar de testemunhas afirmarem que o veículo era conduzido em alta velocidade, a Polícia Civil de Pernambuco não conseguiu comprovar o excesso de velocidade ou um possível consumo de álcool, já que o condutor foi socorrido com ferimentos leves e não fez teste de alcoolemia.

Recife ganha mais uma ghost bike, a bicicleta branca que simboliza a violência contra os ciclistas no trânsito

Ciclista morre após ser atingido por picape na Avenida Caxangá, na Zona Oeste do Recife

Morte de ciclista expõe urgência de uma ciclovia na Avenida Caxangá, no Recife

Recife ganhará ciclovias nas grandes avenidas. Promessa da CTTU

Dia Mundial das Vítimas do Trânsito: um dia que não deveria existir

AMECICLO/DIVULGAÇÃO
Avenida Caxangá ganhou uma ghost bike em outubro de 2021 depois de um ciclista ser atropelado por um veículo em alta velocidade - AMECICLO/DIVULGAÇÃO

O indiciamento criminal foi pelo Artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que define o homicídio culposo na direção de veículo automotor e prevê pena de detenção (não é reclusão, prisão, vale destacar), de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Como a investigação não conseguiu identificar possíveis agravantes, a pena não pôde ser aumentada.

Segundo o delegado Derivaldo Falcão, titular da Delegacia de Delitos de Trânsito, a perícia técnica do Instituto de Criminalística (I.C.) responsabilizou o motorista, constatando que ele perdeu o controle do veículo, mas não indicou a velocidade desenvolvida. “O que foi possível, fizemos pela delegacia especializada, mas não havia imagens de câmeras e, embora a perícia do I.C. tenha indicado a responsabilização do condutor da Hilux, que perdeu o controle do veículo colidindo com a bicicleta, não indicou a velocidade desenvolvida”, explicou. O motorista teve ferimentos leves e no dia seguinte ao atropelamento recebeu alta.

REPRODUÇÃO ARQUIVO PESSOAL
Flávio Antônio, 42 anos, ciclista violentamente atropelado por um motorista em alta velocidade, no dia 3/11, na Avenida Caxangá, bairro da Várzea, na Zona Oeste do Recife - REPRODUÇÃO ARQUIVO PESSOAL

A viúva do ciclista, Adriana da Silva Santos, recebeu com amargura o indiciamento do motorista por homicídio culposo. Para ela, a irresponsabilidade do condutor é clara, já que ele dirigia em alta velocidade. Adriana garante que o pneu da caminhonete não estourou antes do atropelamento. “Estorou devido à violência da colisão contra a mureta da estação de BRT. Não houve sequer marca na pista. Esse motorista tirou a vida de um um homem digno, trabalhador e de um caráter que hoje não se encontra mais. Ele estava voltando pra casa de bicicleta, como fazia há 18 anos, para encontrar os filhos que tanto amava. O sangue dele foi derramado ali naquela pista por causa de um imprudente, um cara sem escrúpulos nenhum, e que deverá ficar impune. Justiça injusta essa”, desabafou.

Por que reduzir a velocidade limite das ruas e avenidas é fundamental? Entenda

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Avenida Caxangá deveria ter uma ciclovia desde a implantação do Corredor de BRT Leste-Oeste - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Flávio Antônio estava pedalando no Corredor Leste-Oeste de BRT para se proteger do tráfego, quando foi atropelado pela caminhonete. Segundo as primeiras informações, o veículo estaria em alta velocidade e teve um dos pneus estourado. O impacto foi tão forte que a lateral do carro foi arrancada ao colidir na Estação de BRT Engenho Poeta. O ciclista, como apontou a perícia técnica, teve o crânio aberto devido à violência do impacto, morrendo na hora.

Tags

Autor