Mortes no trânsito: você sabia que o trânsito mata mais do que as armas de fogo em muitos estados brasileiros? Confira quais
Cenário é grave e não é novo, o que indigna ainda mais. São 14 Estados onde o trânsito é mais letal, acreditem, do que as armas de fogo
Embora a sociedade ainda seja muito benevolente com a imprudência ao volante nas ruas e estradas do Brasil, em muitos Estados brasileiros é o trânsito quem mais mata a população. É mais letal, acreditem, do que os homicídios praticados com armas de fogo.
O recorte já é feito há alguns anos no País, desde que, infelizmente, a sinistralidade e mortandade no trânsito começou a crescer, impactando a saúde pública e a previdência social. E a Coluna Mobilidade já mostrou o problema em reportagem de 2021. Agora, uma nova comparação foi feita pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego do Rio Grande do Sul (Abramet/RS), com base nas informações do Atlas da Violência 2024, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O levantamento aponta que em 14 Estados do Brasil os sinistros de trânsito mataram mais do que homicídios por arma de fogo em 2022. O Sudeste e o Sul do País seguem liderando o ranking.
No comparativo dos últimos dez anos, entre 2012 e 2022, os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás se mantiveram na liderança do ranking dos primeiros cinco Estados da lista, respectivamente.
SÃO PAULO LIDERA O RANKING DOS ESTADOS ONDE O TRÂNSITO MATA MAIS DO QUE AS ARMAS DE FOGO
No cruzamento de dados realizado e analisado pela Abramet/RS, o Estado de São Paulo continua liderando as estatísticas. Em 2022, foram 5.049 mortes no trânsito contra 1.760 homicídios.
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O Estado de Minas Gerais aparece em segundo lugar com 3.150 mortes no trânsito e 1.767 homicídios, respectivamente.Na sequência está o Estado do Paraná, onde foram registrados 2.736 óbitos por sinistros no trânsito contra 1.858 homicídios no mesmo período. O Rio Grande do Sul está em quarto lugar no ranking, onde 1.806 pessoas foram vitimadas no trânsito e 1.477 perderam a vida por armas de fogo. E, em quinto lugar, Goiás, com 1.716 mortes provocadas pela má condução dos veículos, enquanto 1.082 homicídios foram registrados.
O levantamento assusta quem vivencia a segurança viária diariamente e, principalmente, lida com seus impactos negativos, como os profissionais da saúde. Isso porque, em quase sua totalidade e diferentemente das mortes por armas de fogo - que em muitos casos têm um elo de ligação entre vítima e autor -, as mortes no trânsito são mortes evitáveis. “Nenhuma forma de morte trágica é tolerável e, por isto, não podemos banalizar o mal que esta estatística nos apresenta. Não se trata de números e, sim, de vidas humanas destruídas pela falta de medidas eficazes para conter essa violência no trânsito que mata mais que as armas de fogo”! É necessária uma gestão eficiente e inteligente para reduzir os sinistros com mortos e feridos até chegarmos no único nível tolerável de perdas no trânsito: zero mortos e feridos”, pontua o presidente da Abramet/RS, Ricardo Hegele, especialista em medicina do tráfego.
Os demais Estados onde as mortes no trânsito superaram os homicídios no ano de 2022 foram Santa Catarina, Maranhão, Mato Grosso, Piauí, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Rondônia, Distrito Federal e Roraima. “Por que os números de sinistros de trânsito estão aumentando? O que não está sendo feito pelos gestores do trânsito?”provoca, provoca a Abramet/RS. E segue reforçando que os sinistros de trânsito, na ampla maioria das vezes, são situações que poderiam ter sido evitadas.
A SITUAÇÃO EM PERNAMBUCO
Em Pernambuco, as mortes por armas de fogo ainda têm predominância sobre os óbitos no trânsito. Mas outros Estados do Nordeste e, também, do Norte, se destacam no ranking de mais mortes pelos sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define, segundo a ABNT).
E em Pernambuco, esse cenário se confirma nos dez anos analisados no cruzamento de dados feito pela Abramet/RS. No ano de 2012, os números ficaram bem próximos: o trânsito matou 2.056 pessoas, enquanto as armas de fogo mataram 2.475.
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Mas em 2022, uma década depois, foram 1.472 vítimas do trânsito e 2.737 vítimas das armas de fogo - uma diferença bem maior.
VÍTIMAS DO TRÂNSITO CUSTAM R$ 132 BILHÕES POR ANO AO PAÍS, DIZ IPEA
Nem mesmo o custo de R$ 156 bilhões por ano com vítimas do trânsito - calculado em estudo de 2020 do Ipea e corrigido - tem conseguido reverter o quadro da matança no trânsito brasileiro. Em 2022, o Brasil registrou 34.892 mil óbitos por sinistros no trânsito e 33.580 mil mortes de homicídios por arma de fogo.
Houve queda tanto das mortes no trânsito quanto por arma de fogo no comparativo com 2012, quando 46.681 pessoas foram vitimadas no trânsito e outras 40.648 mil por arma de fogo. No entanto, dez anos depois, mais pessoas continuam sendo mortas nas ruas, avenidas e estradas do Brasil, mais que as armas de fogo.