Dia Mundial Sem Carro: meios de transporte alternativos podem diminuir mortes no trânsito

Segundo o Centro de Liderança Pública (CLP), cada vida humana perdida, no trânsito brasileiro, gera um prejuízo de, ao menos, R$ 800 mil.

Publicado em 22/09/2024 às 7:00

Uma vez por ano, o Brasil se lembra de que o trânsito é mais que apenas veículos indo e vindo. O Dia Mundial Sem Carro, celebrado neste domingo (22), juntamente com a Semana da Mobilidade, convidam a sociedade a refletir sobre o caos urbano que enfrentamos diariamente.

Entretanto, além das campanhas e debates, será que essas datas são suficientes para gerar mudanças reais? O que precisa ser feito para que os demais meios de transporte se sobressaiam?

Dados preliminares do DataSUS apontam que o Brasil registrou cerca de 33.743 mortes no trânsito em 2023. Esses números preocupantes indicam que o País deveria tratar as discussões sobre o impacto do trânsito, poluição e alternativas sustentáveis de mobilidade como prioridade no debate público.

Além da triste perda das vidas, números do Centro de Liderança Pública (CLP) mostram que o custo econômico com mortes no trânsito é alarmante. O estudo nacional indica que o País perde, em média, R$ 21 bilhões por ano com as mortes no trânsito.

A pesquisa aponta, ainda, que cada vida humana perdida no trânsito gera um prejuízo de, ao menos, R$ 800 mil. Para chegar no cálculo, são consideradas questões como despesas médicas, perda de produtividade e valores associados aos danos e perdas materiais.

Brasil é o quarto na América do Sul que mais mata no trânsito

Reprodução
Ciclistas estão entre as vítimas do trânsito assassino do Brasil. Dois morreram no Recife na segunda-feira (16/9) - Reprodução

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o quarto país da América do Sul com mais mortes no trânsito, com taxa de 16,1 mortes por 100 mil habitantes.

Na comparação com os vizinhos, o Brasil está acima de países como Chile (14,9), Uruguai (14,8), Argentina (14,1) e Peru (13,6); atrás apenas de Bolívia (21,1), Paraguai (22) e Venezuela (39,0).

Em números mundiais, a OMS destaca que 1,35 milhão de pessoas morrem anualmente em sinistros de trânsito.

Dia Mundial Sem Carro

Guga Matos/JC Imagem
Desafios do Recife - Antônio de Góes - Pina - Mobilidade - Trânsito - Congestionamento - Guga Matos/JC Imagem

Diante desse cenário, o Dia Mundial Sem Carro surge como um chamado para repensar a dependência excessiva de veículos motorizados.

Caminhar mais e usar a bicicleta como meio de transporte podem ser alternativas com potencial para melhorar a qualidade de vida nas cidades. 

Isso também pode valorizar o transporte público, dependendo, claro, da atenção que o governo estadual e municipal dá à pauta. Mas será que estamos dispostos a trocar o conforto do carro por alternativas mais sustentáveis?

O consultor em transporte público, Germano Travasso, já havia falado, em entrevista ao Jornal do Commercio, da importância na participação do Governo de Pernambuco e da gestão municipal do Recife em ações voltadas ao transporte público para atrair passageiros.

"[...] É preciso que a capital tenha uma participação mais efetiva, que compartilhe a responsabilidade com o Estado. Isso permitiria, por exemplo, que ações da CTTU [Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife] fossem mais voltadas ao transporte público. E, principalmente, daria força às reivindicações financeiras junto ao governo federal e instituições públicas de financiamento, por exemplo", disse.

Dessa forma, a mudança depende de uma ação conjunta. Além da população, os governos, em suas esferas estaduais e municipais, precisam dar a devida prioridade ao assunto, investindo em transporte público de qualidade e infraestrutura para pedestres e ciclistas.

Tecnologias no transporte público para combater a crise climática e atrair passageiros 

A inovação tecnológica no transporte público está surgindo como uma das principais ferramentas no combate à crise climática.

A Empresa1, por exemplo, oferta soluções como a gestão de crédito eletrônico, aplicativo voltado para a experiência do passageiro, smartphone como meio de pagamento, aplicações para cartões inteligentes, criptografia avançada para segurança de dados e reconhecimento por biometria facial.

Segundo Marcionílio Sobrinho, Chief Growth officer (CGO) da Empresa1, essas propostas tecnológicas podem ajudar a reduzir a emissão de gases de efeito estufa e enfrentar emergências ambientais como a atual, que afeta milhões de brasileiros.

“Investir em transporte público de qualidade é uma medida essencial não apenas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, mas também para enfrentar emergências ambientais como a atual, que afeta milhões de brasileiros. É fundamental que as cidades adotem soluções de transporte sustentável para contribuir com a redução das emissões e melhorar a qualidade do ar. A tecnologia anda em conjunto ao desenvolvimento verde”, disse.

TRANSPORTE PÚBLICO: MOTORISTA de ÔNIBUS relata DIFICULDADES na PROFISSÃO

A experiência de caminhar e pedalar

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Desafios do Recife - Avenida Boa Viagem - Boa Viagem - Mobilidade - Trânsito - Congestionamento - Guga Matos/JC Imagem

O trânsito congestionado, os altos índices de poluição e o custo humano de milhares de vidas perdidas em acidentes mostram que a dependência, quase que total, dos veículos motorizados está prejudicando mais do que ajudando.

Por outro lado, quem opta pelas formas mais sustentáveis de locomoção, como caminhar e pedalar, ainda enfrenta obstáculos como calçadas estreitas, mal conservadas ou inexistentes.

Além disso, ciclovias divididas e, muitas vezes, perigosas, além da falta de infraestrutura adequada, desestimulam as pessoas de deixarem seus carros em casa ou evitarem transportes por aplicativo.

Segundo dados oficiais da CTTU, foram implantados menos de 50 km de estrutura para os ciclistas na cidade do Recife nos últimos três anos. A coluna Mobilidade também já denunciou que as ciclofaixas estão virando pistas de motos e colocando ciclistas em perigo.

Os ciclistas, inclusive, são frequentemente vítimas da violência no trânsito. Na última segunda-feira (16/09), dois ciclistas foram atropelados e mortos praticamente no mesmo horário, em locais diferentes da Zona Norte do Recife. As vítimas foram atropeladas por motoristas do transporte público, nos bairros de Parnamirim e de Beberibe.

 

AMECICLO/DIVULGAÇÃO
Recife ganhará mais duas Ghost Bikes, as bicicletas brancas que simbolizam a morte de ciclistas. As Ghost Bikes serão instaladas em homenagem aos dois ciclistas atropelados na segunda-feira (16), no Parnamirim e em Beberibe - AMECICLO/DIVULGAÇÃO

Com o intuito de cobrar a Prefeitura do Recife e outros órgãos públicos por mais segurança para quem pedala, a Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife (Ameciclo) colocou, na quinta (19), duas Ghost Bikes nos locais dos sinistros para simbolizar a morte dos ciclistas.

"Esse ato simbólico homenageia as vítimas e busca chamar a atenção para a urgente necessidade de uma infraestrutura segura para quem se desloca de bicicleta em nossa cidade. As Ghost Bikes serão instaladas como um lembrete visível da violência no trânsito e da importância da mobilidade segura", disse a associação.

Uber e 99 moto trazem novos desafios para o trânsito

Nos últimos anos, os aplicativos de transporte como Uber e 99 se tornaram soluções práticas e rápidas para muitas pessoas que buscam alternativas ao transporte público ou ao carro particular. No entanto, a popularização desses serviços também trouxe desafios para o trânsito das cidades.

Aplicativos de transporte de passageiros com motos vêm trazendo insegurança no trânsito. Isso porque os números de quedas e colisões com motoqueiros e, agora mais do que nunca, com passageiros das motos, têm explodido nas cidade onde o serviço está disponível.

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Dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES) apontam um aumento de 1.500 pacientes atendidos a mais no último ano depois de serem vítimas de sinistros de trânsito com motocicletas - Guga Matos/JC Imagem

No Grande Recife, dados do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) mostram que, no ano de 2023, ocorreram 2.464 casos a mais de atendimento a ocupantes de motos - condutor e passageiro - em comparação a 2022, somente na Região Metropolitana (RMR).

Somente na cidade do Recife, foram registrados 1.322 atendimentos a mais no mesmo período.

Quando o recorte é comparado com o ano de 2021, os números são ainda mais impressionantes. A RMR registrou, em 2023, 3.048 casos a mais, enquanto a capital pernambucana teve quase dois mil casos a mais (1.879). Vale destacar que o Uber e 99 moto chegaram em Pernambuco no início de 2022.

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