No início dos anos de 1970, o cantor Chico Buarque e o dramaturgo moçambicano Ruy Guerra se debruçavam sobre resmas de papéis em branco, na angústia que antecedia a criação da peça Calabar, quando Chico começou a assoviar o que mais tarde seria “Fado Tropical”: “Ai, esta terra ainda vai cumprir o seu ideal. Ainda vai tornar-se o Império Colonial”.
Toda vez que uma autoridade da República emite uma nota de repúdio porque alguém fez alguma traquinagem na tentativa de violar a Constituição, eu me recordo dessa canção. O Brasil tem um jeitão de país colonial.
Como quem diz: Portugal saiu do Brasil, mas o Brasil não largou o colonizador. Nota de repúdio é um pouco desse jeito subserviente de protestar contra algo que todos percebem que não vai bem, mas que muitos se acomodam.
Nessa segunda-feira [1º de agosto], na abertura das atividades no Poder Judiciário, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, poderia ter sido um tanto quanto mais incisivo em defesa da Constituição.
Afinal, para que serve o STF se não for para ser guardião de nossa lei maior?
“Nunca é demais renovar ao país os votos de que nós, cidadãos brasileiros, candidatos e eleitores e demais partícipes, permaneçamos leais à nossa Constituição Federal, sempre compromissados para que as eleições deste ano sejam marcadas pela estabilidade institucional e pela tolerância”, pregou Fux.
É uma dessas notas de repúdio com pouca ou nenhuma serventia.
Pense nisso!