Entre um pão com alho e uma fatia de picanha, ao ponto, Lula convida Lira para uma viagem à China

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Romoaldo de Souza
Publicado em 11/03/2023 às 18:13
O churrasco se tornou uma paixão brasileira indispensável nos finais de semana. Foto: PIXABAY


Na última quinta-feira (9), o comboio presidencial saiu do Planalto e em vez de tomar o rumo do Palácio da Alvorada seguiu na direção do Lago Norte, bairro nobre da capital federal. Ao todo eram seis veículos, além de uma UTI móvel que acompanha o presidente Lula (PT) por onde ele passa. No meio do percurso, junta-se ao grupo outro carro oficial com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). E lá se vão todos à casa onde mora o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social. “Ambiente espaçoso, heim Pimenta! Nem parece aquela gaiola onde você morava”, disse o presidente, se referindo a um apartamento funcional de 300 metros quadrados que Paulo Pimenta ocupa quando está no exercício do mandato parlamentar, pelo PT do Rio Grande do Sul.

Natural de Santa Maria, na região central do estado, Paulo Pimenta tem influência do vanerão, dança típica gaúcha, trazida para os pampas por imigrantes do Oriente Médio. Mas a música que tocava era bem conhecida do presidente, “Milonga para as Missões” (Gilberto Monteiro) executada na gaita-ponto por Renato Borghetti. Ao fundo, numa churrasqueira bem iluminada, um gaudério assador de carnes, segurava triunfalmente um espeto com uma picanha ao ponto, como gosta o presidente. Um alinhado garçom abria garrafas de vinho, também do Rio Grande do Sul, servia água e a conversa começou a ser posta à mesa, antes mesmo do vinagrete ser servido. “Vai um pão com alho, tchê!” Bradou o churrasqueiro, diante do presidente.

Era o primeiro encontro de Lira com Lula após o presidente da Câmara ter feito um alerta dizendo que o governo não tem uma base sólida nem articulada o suficiente para aprovar nem projetos de lei “imagine matérias constitucionais”, quando são necessários 3/5 dos votos. Pimenta falou de “Borghetinho”, como os gaúchos chamam o músico porto-alegrense. Lembrou de sua indicação ao Grammy Latino - Melhor Álbum de Música Regional. Lula, tentou amenizar o clima, dizendo a Lira de sua proximidade com a música do também alagoano, Djavan, autor de “Meu Bem Querer”. “Estou até devendo uma mensagem de parabéns a ele”, disse o presidente. Djavan nasceu em 27 de janeiro de 1949, em Maceió.

Mais uma rodada de água e vinho chegou à mesa e Lula foi direto ao assunto. Convidou o presidente da Câmara para acompanhá-lo na viagem que vai fazer à China, no fim de março. “O [Rodrigo] Pacheco [presidente do Senado] está quase certo”, disse Lula. “Vou pensar, presidente”, respondeu Lira. “Vou deixar o [Geraldo] Alckmin [vice-presidente] tomando conta da casa”, concluiu Lula. Pronto! Já poderiam tocar em temas mais espinhosos.

Arthur Lira começou a falar da necessidade de se indicar ocupantes de cargos nos segundo e terceiro escalões do governo. Lira é uma espécie de xerife do Centrão - aglomerado de partidos e parlamentares de direita e de centro, que desde a Assembleia Nacional Constituinte é o calcanhar de Aquiles do Executivo. O grupo sempre deu as cartas no Congresso Nacional. O presidente da Câmara reforçou o que tinha afirmado no início da semana a um grupo de empresário. “Essa é uma função inerente do Executivo. Os cargos estão aí e a máquina precisa funcionar”, disse.

Lula chamou o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, disse algo como “vamos apertar o passo”, tomou um copo de água e deixou a recepção de Pimenta por volta das 22h40. A música já estava baixa. “A vizinhança é rigorosa”, disse o anfitrião. Agora é esperar o resultado do rega-bofe, lendo as próximas edições do Diário Oficial.

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