INVESTIGAÇÃO

Após uma semana, segue a pergunta: Quem deu ordem para ação da PM contra manifestantes no Recife?

Os últimos dias foram marcados por mudanças na cúpula da SDS e afastamento de militares

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Raphael Guerra

Publicado em 05/06/2021 às 9:00
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A sociedade continua na busca por respostas de quem deu a ordem para que a Polícia Militar agisse com truculência para dispersar os manifestantes que faziam o ato pacífico. Neste sábado (05), exatamente uma semana após o ato, a principal pergunta não foi respondida.

Oito policiais militares estão afastados - entre eles o responsável por comandar a operação na rua. O PM do Batalhão de Choque que atirou no olho do arrumador de contêiner Jonas Correia de França, 29, também foi identificado e afastado das ruas. Já o PM que fez o mesmo com o adesivador Daniel Campelo da Silva, 51, segue sem identificação. A Secretaria de Defesa Social (SDS) também não revela os nomes dos militares afastados.

Depoimentos de PMs à Corregedoria da SDS, responsável pela investigação administrativa, revelaram que eles saíram do Batalhão de Choque com a missão de dispersar os manifestantes ainda na Praça do Derby, onde acontecia a concentração. Como o grupo já se preparava para sair pela Avenida Conde da Boa Vista, os PMs receberam ordem de voltar ao ônibus e seguir para outro ponto. A ação violenta acabou acontecendo na Ponte Duarte Coelho, já no final da manifestação. Ainda segundo depoimentos dos militares, o capitão ouvia ordens pelo celular e repassava à tropa.

Durante a confusão, Antônio de Pádua, Humberto Freire e parte da cúpula da PM estavam no Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR). Todos acompanhavam, em tempo real, as câmeras da SDS. Apesar de algumas evidências, Pádua negou ter visto, pelas imagens, a ação violenta da PM.

QUEDA DO SECRETÁRIO

YACY RIBEIRO/JC IMAGEM
DESPEDIDA À frente da pasta da segurança pública de Pernambuco desde julho de 2017, Antônio de Pádua sai de cena sob pressão. "Certeza de dever cumprido", afirma - YACY RIBEIRO/JC IMAGEM

Após seis dias de extrema pressão, o delegado federal Antônio de Pádua entregou o cargo e não é mais o secretário de Defesa Social. O governo de Pernambuco confirmou a exoneração no final da tarde de ontem. Pádua está no centro da investigação que busca esclarecer quem deu a ordem para que os policiais militares avançassem e atirassem contra os manifestantes que faziam um ato pacífico contra o governo Bolsonaro, no sábado passado, na área central do Recife. Pádua nega que tenha dado a ordem e diz também não saber quem foi o responsável. No lugar dele, assume interinamente o também delegado federal Humberto Freire, até então secretário executivo da pasta.

"Quero agradecer ao secretário Pádua por todo o seu trabalho em defesa do Pacto pela Vida nesses quatro anos, e ressaltar que a missão dada ao secretário Freire e ao comandante Roberto (José Roberto de Santana, novo comandante da Polícia Militar) é que o episódio do último sábado não seja esquecido, para que nunca se repita. Os protocolos precisam ser revistos para que um comando de tropa na rua não possa se sentir autônomo a ponto de agir da maneira que agiu", afirmou, em nota, o governador Paulo Câmara.

Antônio de Pádua também se pronunciou. "Os fatos ocorridos foram graves e precisam ser investigados de forma ampla e irrestrita. Minha formação profissional e humanística repudia, de forma veemente, a maneira como aquela ação foi executada. Seis dias depois do episódio, com um novo comandante à frente da PM, com os procedimentos investigatórios instaurados e após prestar contas à Assembleia Legislativa, à OAB e ao Ministério Público, entreguei meu cargo com a certeza do dever cumprido e mantendo nosso compromisso com a transparência e o devido processo legal."

Dois dias antes do protesto, o promotor de Justiça Westei Conde chegou a recomendar ao ex-secretário que alertasse a tropa para que fossem evitados excessos praticados pela PM. Em entrevista, na última quinta-feira, Pádua disse ter se colocado à disposição da Corregedoria da SDS para prestar esclarecimentos sobre o ocorrido no último sábado. Mas pontou que assim que soube da ação policial ordenou que fosse interrompida.

Pádua assumiu a SDS em 1º de julho de 2017, após a saída do delegado federal aposentado Angelo Gioia. Na época, exercia o cargo de corregedor geral da SDS. Naquele ano, Pernambuco registrou 5.427 homicídios - maior número da história do Pacto pela Vida. Nos dois anos seguintes, houve redução da violência letal. Mas, em 2020, o ano fechou com 3.759 assassinatos - aumento de 8,4% em relação a 2019.

NOVO SECRETÁRIO

O delegado federal Humberto Freire, secretário executivo de Defesa Social desde julho de 2017, assume a titularidade da pasta. Mas de forma interina, como destacou o governo estadual. Ontem, também tomou posse o novo comandante geral da Polícia Militar de Pernambuco, José Roberto de Santana. O coronel substituiu Vanildo Maranhão, exonerado na terça-feira.

Freire já atuou como chefe de vários departamentos da Polícia Federal em Pernambuco e no Amapá. Em 2013, ele chegou a ser cedido ao Ministério da Justiça para exercer o cargo de coordenador de Execução Operacional da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos.

Como delegado de Polícia Federal, exerceu as funções de chefe da Delegacia de Controle de Segurança Privada na Superintendência da Polícia Federal no Amapá e chefe substituto na Delegacia de Polícia Federal em Imperatriz (MA). Em 2004, veio para a Superintendência da Polícia Federal em Pernambuco, onde chefiou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes, a Delegacia de Repressão aos Crimes Contra o Patrimônio, a Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários, a Coordenação Regional de Segurança de Grandes Eventos e a Representação Regional da Interpol.

POLÍCIA MILITAR

José Roberto de Santana tomou posse nessa sexta-feira. Até então, exercia o cargo de diretor de Planejamento Operacional da corporação. O coronel tem 31 anos de serviço à polícia.

"Ao povo pernambucano eu asseguro que a Polícia Militar continuará sendo a instituição confiável que sempre foi. A Polícia Militar continuará sendo dura contra o crime e amiga do povo pernambucano, esse é o nosso compromisso", declarou no discurso de posse. Não foi permitida a presença da imprensa, sob o argumento da pandemia do novo coronavírus.

O subcomandante da PM, André Cavalcante, também foi substituído. No lugar dele, assumiu o coronel Aníbal Rodrigues Lima. Até então, ele era corregedor adjunto da Corregedoria da SDS. Ele tem 30 anos de efetivo serviço.

INDENIZAÇÕES

Após reunião na Procuradoria Geral do Estado, ontem, o governo de Pernambuco autorizou pagamento de auxílio no valor de dois salários mínimos a Daniel e Jonas durante três meses. Ambos perderam a visão de um olho após os tiros de bala de borracha.

O benefício foi autorizado enquanto o processo indenizatório está em andamento, o que inclui salário mensal vitalício aos dois. Cestas de alimentos foram entregues aos familiares e reparos estão sendo feitos nos quartos das casas dos feridos para acomodá-los melhor.

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