Com pouco mais de um mês em isolamento social, mais de 3,2 mil pessoas infectadas pelo novo coronavírus e 282 mortes, Pernambuco tem uma assistência hospitalar que opera no limite diante da franca aceleração da curva epidêmica. Só na quarta-feira (22), o Estado viu saltar, nas últimas 24 horas, o número de pacientes graves (considerando só aqueles com diagnóstico confirmado de covid-19) nas suas unidades de terapia intensiva (UTI) das redes públicas e privadas. Saiu de 76 pessoas com a doença internadas nesse tipo de leito, na terça-feira (21), para 139 na quarta-feira. O avanço, em percentuais, representa um aumento de 83%, o que retrata a pressão que a covid-19 joga na rede hospitalar. A exaustão é duradoura, levando em consideração que os pacientes com insuficiência respiratória por causa da covid-19 passam de duas a três semanas em UTI.
“Temos uma situação crítica, mas é fato que o nosso poder de reação existe e está acontecendo todos os dias. Hoje (dia 22), até fim do dia, estamos na expectativa de colocar em operação novos leitos na rede estadual. Falar em colapso agora parece ser precoce, porque temos força de reação. Só no Hospital Alfa (dedicado exclusivamente à covid-19, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife), temos 20% da capacidade de UTI. Com equipamentos, colocamos muito mais leitos lá em funcionamento”, disse, em coletiva de imprensa online, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo. Quando o assunto é a criação das novas vagas de terapia em intensiva, os respiradores ganharam o papel de calcanhar-de-aquiles. O Estado está à espera de cem respiradores, já adquiridos há um mês, para alcançar, até a marca de 400 leito até o fim deste mês.
Há um entrave no percurso: segundo Longo, a empresa, a mesma que também fornece o equipamento para o Ministério da Saúde, alegou que a entrega não foi efetuada porque prioriza o órgão federal. “Nossa PGE (Procuradoria Geral do Estado) acionou a empresa, e o ministério deu uma carta destacando que Pernambuco tem razão em buscar esses respiradores e informou que a empresa deve nos atender. Então, existe um descumprimento contratual, pois os ventiladores deveriam ter sido entregues até segunda-feira (20). Éramos para estar com novos leitos”, ressaltou o secretário. Em nota enviada na quarta-feira (22) ao JC, o Ministério da Saúde esclareceu que os ofícios enviados a empresas brasileiras produtoras de respiradores deixam claro que o que há em estoque poderia ser usado para atender os contratos já firmados com a rede pública de saúde (incluindo os Estados).
Na quarta-feira (22), das 327 vagas de UTI do Sistema Único de Saúde (SUS), 98% estavam ocupadas por pacientes com diagnóstico de covid-19 e por outros com suspeita da doença. Como mais um caminho para evitar o colapso, o governo de Pernambuco contratou 84 leitos no Hospital Armindo Moura, no município de Moreno, no Grande Recife. Serão 20 vagas de UTIs e 64 enfermarias. Os 10 primeiros leitos de terapia intensiva e 20 de enfermaria já estarão disponíveis a partir de amanhã para os pacientes.