Pernambuco não se posiciona de forma clara sobre necessidade de lockdown

Secretaria de Imprensa de Pernambuco diz que pedido de ajuda ao governo federal para se ampliar as medidas de isolamento social no Grande Recife não faz referência ao lockdown
Cinthya Leite
Publicado em 05/05/2020 às 23:44
Filas na agência da Caixa Econômica Federal de Casa Amarela, Zona Norte do Recife, na manhã da desta terça-feira (5). Para secretário de Saúde de Pernambuco, "é impossivel entrar numa quarentena absoluta com tanta gente nas filas da Caixa" Foto: JAILTON JR/TV JORNAL


O cenário, em Pernambuco, tem se repetido dia após dia: mais doentes, mais mortes, mais pacientes precisando ocupar leito de unidade de terapia intensiva (UTI) para sobreviver à covid-19, mais pessoas nas ruas sem respeitar o isolamento social e mais hospitais precisando de profissionais de saúde. O resultado dessa equação coloca em xeque, em Pernambuco, a capacidade de resposta ao pico da epidemia, previsto para ocorrer nas próximas semanas. O lockdown, uma medida antecedente ao caos e que simboliza o bloqueio total de atividades não essenciais, desponta como fundamental. O Estado, contudo, não se posiciona de forma clara sobre necessidade de lockdown.

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, reconheceu no sábado (2) que a única alternativa atual é reforçar de forma vigorosa o distanciamento social. Para isso, fez um pedido de apoio ao Ministério da Saúde. Em resposta à reportagem do JC, a pasta disse que, para o lockdown ser implementado, não é preciso aval nem amparo do órgão. “O Ministério da Saúde informa que consultas sobre informações relativas à atuação de militares nos Estados não é de competência da pasta”, frisou a assessoria, em nota.

Questionada quais seriam as medidas tomadas pelo Estado para implementação do lockdown sem o apoio do governo federal, a Secretaria de Imprensa de Pernambuco disse ao JC que o pedido para se ampliar as medidas de isolamento social no Grande Recife não faz referência ao lockdown. Mas o ofício que o governado enviou ao ministro da Saúde, Nelson Teich, expressa claramente que o Estado precisa de amparo para restringir, ao máximo, a circulação de pessoas na Região Metropolitana do Recife, limitando a saída para casos de extrema urgência. Em outros países e cidades brasileiras onde essas ações já foram anunciadas, deu-se o nome de lockdown.

Independentemente da terminologia a ser seguida nesse cenário, as autoridades sanitárias locais sabem que o próximo passo para o endurecimento das medidas restritivas (e consequentemente menor aceleração no número de casos e mortos no Grande Recife) é a adoção da quarentena absoluta. Difícil haver outro caminho para essa crise.

Nesta terça-feira (5) começaram a valer a restrição de circulação de pessoas em São Luís, no Maranhão, e em outras três cidades daquele Estado. Já o Pará anunciou o decreto de lockdown para aumentar índices de isolamento social em dez municípios, incluindo a capital. A medida funciona a partir desta quinta-feira (7) e não serão fechadas atividades essenciais. Quem procurar algum serviço próximo de casa ou for trabalhar deve levar identidade com foto e carteira de trabalho. Serão feitos bloqueio de vias e fiscalização nas ruas. Quem estiver sem máscaras também estará proibido de circular.

O Ceará, cujo sistema de saúde está chegando ao limite, fará o mesmo a partir da sexta-feira (8), a partir de decreto que estabelece o isolamento social rígido em Fortaleza, onde haverá restrição na circulação de pessoas e veículos em espaços públicos, permitida somente com devida justificativa, como busca aos serviços essenciais. Também haverá controle nas entradas e saídas da cidade, com a fiscalização de órgãos estaduais e municipais.

“Em Pernambuco, do ponto de vista técnico, a necessidade do lockdown está colocada. Não se conseguiu, com o isolamento social, evitar o esgotamento da rede de saúde. Claro que o apoio do governo federal facilitaria a implantação (da quarentena absoluta), mas já que isso não está dado a necessidade é premente. Então, que o lockdown seja feito com as forças estaduais e municipais para controle e fiscalização (da circulação de pessoas)”, destaca o médico sanitarista Tiago Feitosa, coordenador da Rede Solitária em Defesa da Vida de Pernambuco.

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