O cenário, em Pernambuco, tem se repetido dia após dia: mais doentes, mais mortes, mais pacientes precisando ocupar leito de unidade de terapia intensiva (UTI) para sobreviver à covid-19, mais pessoas nas ruas sem respeitar o isolamento social e mais hospitais precisando de profissionais de saúde. O resultado dessa equação coloca em xeque, em Pernambuco, a capacidade de resposta ao pico da epidemia, previsto para ocorrer nas próximas semanas. O lockdown, uma medida antecedente ao caos e que simboliza o bloqueio total de atividades não essenciais, desponta como fundamental. O Estado, contudo, não se posiciona de forma clara sobre necessidade de lockdown.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, reconheceu no sábado (2) que a única alternativa atual é reforçar de forma vigorosa o distanciamento social. Para isso, fez um pedido de apoio ao Ministério da Saúde. Em resposta à reportagem do JC, a pasta disse que, para o lockdown ser implementado, não é preciso aval nem amparo do órgão. “O Ministério da Saúde informa que consultas sobre informações relativas à atuação de militares nos Estados não é de competência da pasta”, frisou a assessoria, em nota.
Questionada quais seriam as medidas tomadas pelo Estado para implementação do lockdown sem o apoio do governo federal, a Secretaria de Imprensa de Pernambuco disse ao JC que o pedido para se ampliar as medidas de isolamento social no Grande Recife não faz referência ao lockdown. Mas o ofício que o governado enviou ao ministro da Saúde, Nelson Teich, expressa claramente que o Estado precisa de amparo para restringir, ao máximo, a circulação de pessoas na Região Metropolitana do Recife, limitando a saída para casos de extrema urgência. Em outros países e cidades brasileiras onde essas ações já foram anunciadas, deu-se o nome de lockdown.
Independentemente da terminologia a ser seguida nesse cenário, as autoridades sanitárias locais sabem que o próximo passo para o endurecimento das medidas restritivas (e consequentemente menor aceleração no número de casos e mortos no Grande Recife) é a adoção da quarentena absoluta. Difícil haver outro caminho para essa crise.
Nesta terça-feira (5) começaram a valer a restrição de circulação de pessoas em São Luís, no Maranhão, e em outras três cidades daquele Estado. Já o Pará anunciou o decreto de lockdown para aumentar índices de isolamento social em dez municípios, incluindo a capital. A medida funciona a partir desta quinta-feira (7) e não serão fechadas atividades essenciais. Quem procurar algum serviço próximo de casa ou for trabalhar deve levar identidade com foto e carteira de trabalho. Serão feitos bloqueio de vias e fiscalização nas ruas. Quem estiver sem máscaras também estará proibido de circular.
O Ceará, cujo sistema de saúde está chegando ao limite, fará o mesmo a partir da sexta-feira (8), a partir de decreto que estabelece o isolamento social rígido em Fortaleza, onde haverá restrição na circulação de pessoas e veículos em espaços públicos, permitida somente com devida justificativa, como busca aos serviços essenciais. Também haverá controle nas entradas e saídas da cidade, com a fiscalização de órgãos estaduais e municipais.
“Em Pernambuco, do ponto de vista técnico, a necessidade do lockdown está colocada. Não se conseguiu, com o isolamento social, evitar o esgotamento da rede de saúde. Claro que o apoio do governo federal facilitaria a implantação (da quarentena absoluta), mas já que isso não está dado a necessidade é premente. Então, que o lockdown seja feito com as forças estaduais e municipais para controle e fiscalização (da circulação de pessoas)”, destaca o médico sanitarista Tiago Feitosa, coordenador da Rede Solitária em Defesa da Vida de Pernambuco.