Interior de Pernambuco tem menos de 25% dos leitos de UTI para coronavírus da rede pública estadual

Zona da Mata e Agreste tentam frear ritmo de transmissão do vírus para evitar o colapso na oferta de leitos de UTI
Cinthya Leite
Publicado em 12/06/2020 às 12:55
No pátio do Mestre Vitalino, em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, hospital de campanha foi criado para ampliar capacidade de atendimento Foto: ASCOM HMV/DIVULGAÇÃO


Com menos vagas de unidade de terapia intensiva (UTI) do que o Grande Recife, cidades do interior de Pernambuco, localizadas principalmente na Zona do Mata e do Agreste, veem agora uma situação parecida com a que viveu a capital do Estado em março, início da epidemia de covid-19. Naquele mês, popularizou-se o mantra: achatar a curva. Essa expressão agora passa a ser reproduzida em cidades como Caruaru, no Agreste, que ultrapassa a marca de mil casos confirmados do novo coronavírus.

Neste momento em que a covid-19 avança dia após dia para o interior, o achatamento da curva se faz necessário para reduzir o ritmo de transmissão do vírus e, dessa maneira, permitir que o número de casos que precisem de UTI não supere a quantidade de leitos disponíveis. Em meio a esse cenário de pressão na assistência hospitalar, o índice de isolamento social nas principais regiões do Estado não passa de 40%. É o caso de municípios do Agreste, das Matas Sul e Norte de Pernambuco, que não avançarão, na próxima segunda-feira (15), para a 3ª fase do Plano de Convivência com a Covid-19, o que atrasa a abertura de atividades comerciais inicialmente previstas pelo governo.

São cidades das regiões de Saúde com sede em Palmares, Goiana, Caruaru e Garanhuns. Além de não mostrarem tendência de queda no número de novos casos da doença, elas têm apresentado aumento na demanda por leitos de UTI. “Isso é um sinal de alerta”, disse ontem o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, em entrevista coletiva transmitida pela internet. Ele informou que Pernambuco tem hoje 1.584 leitos da rede estadual para a assistência à covid-19. Entre eles, 711 são de UTI, sendo 168 distribuídos entre cidades do interior do Estado, o que corresponde a menos de 25% das vagas de terapia intensiva para o novo coronavírus na rede pública estadual.

Sobre a Mata Sul, Longo destacou que a característica geográfica é outro ponto preocupante. “Cidades dessa região estão perto de Alagoas, onde há um certo descontrole da doença. Esse também é o contexto da Mata Norte, na região de Goiana, da qual faz parte o município de Itambé, fazendo divisa com a Paraíba, que tem hoje taxa de transmissão maior do que 1 (esse número deve ser menor do que 1 para sugerir estabilização da epidemia). São preocupantes as divisas com esses dois Estados, o que pode trazer problemas para as Matas Norte e Sul”, explicou Longo.

Taxa de contágio 

O secretário também frisou que Pernambuco tem atualmente uma taxa de contágio abaixo de 1, e isso ainda é influenciado por cidades da Região Metropolitana do Recife, que já tiveram seus primeiros picos na curva epidêmica e hoje passam por um tendência de estabilização.

“Então, agora precisamos cuidar da propagação (do vírus) para o interior do Estado, e esse freio na expansão (do Plano de Convivência com a Covid-19) da região do Agreste ajudará na concretização desse objetivo (achatar a curva).” O momento agora, para o governo de Pernambuco, é fazer com que o trabalho de ampliação das vagas de UTI seja mais veloz do que o aumento de casos e óbitos. “A capacidade instalada normalmente se concentra nos grandes centros. Em Goiana, temos a UPAE (Unidade Pública de Atendimento Especializado), que tem 20 vagas de UTI. Em Palmares, são mais 20. Nessas cidades, há uma crescente demanda por esse tipo leito, além de terem números de casos e óbitos que não caem como no Grande Recife”, destacou Longo.

Ele acrescentou que, no caso do Agreste, o fator de preocupação também tem relação com o volume de doentes graves, o que causa maior impacto no sistema hospitalar. “Nessa quarta Regional de Saúde, que tem como polo maior a cidade de Caruaru, há 68 leitos de UTI e 54 de enfermaria. Mas estamos colocando à disposição da população um hospital (no pátio do Mestre Vitalino/HMV) com mais 100 leitos. Amanhã (hoje) ele já conta com os primeiros 20 leitos”, ressaltou Longo. Já o HMV tem atualmente 50 vagas de UTI, e a previsão do governo estadual é que o hospital alcance a marca de 70 leitos desse tipo ainda neste mês.

Confira os casos de covid-19 por municípios pernambucanos: 

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