O boletim epidemiológico diário da Secretaria de Saúde (Sesau) não apresentou, nessa segunda-feira (7), registro de novas mortes pela covid-19 no Recife, estatística que não aparecia desde o dia 3 de abril. Foi contabilizada, ainda, a redução de mais de 80% nas mortes pelo novo coronavírus na comparação do mês de maio, quando houve o pico da pandemia na capital pernambucana, com o último mês de agosto. De maio para julho, a redução de mortes é de quase 82%. De maio para agosto, a queda chega a mais de 90%, até o momento.
A primeira morte confirmada no Recife foi no dia 25 de março, quando um idoso de 85 anos com histórico de diabetes e hipertensão, além de cardiopatia isquêmica, faleceu no Hospital Oswaldo Cruz, centro da cidade, onde estava internado desde o dia 20 de março. O último dia sem nenhum óbito confirmado na cidade foi no dia 3 de abril e, desde então, esses números cresceram até a segunda quinzena de maio, no pico epidêmico.
Quando se leva em conta a data da morte, e não o dia da divulgação do resultado do exame laboratorial, o Recife registrou seus oito primeiros óbitos provocados pelo novo coronavírus em março. Em abril, o número já subiu para 482, mas atingiu seu ápice em maio, no pico da pandemia, quando o município registrou 1.133 mortes em consequência da nova doença. Em junho, após as duas semanas de quarentena mais rígida, os óbitos já caíram para 363. A redução continuou em julho, quando a Vigilância Epidemiológica do Recife confirmou 205 mortes por covid-19, e seguiu no mês de agosto, com 112 óbitos, até o momento.
Nessa segunda-feira, 7 de setembro, não foi registrado novos óbitos na cidade. Para o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, a nulidade não foi uma surpresa. "É uma certa sintonia com o que se observa nos noticiários e dados epidemiológicos. Ontem foi zero, mas já tivemos, recentemente, dias com apenas uma morte confirmada. Não é um caso isolado, é um dado que representa uma tendência de estabilidade em baixa do número de casos graves e do número de óbitos do Recife", disse.
Não ter tido notificação de óbitos, entretanto, não significa dizer que estes não existiram, já que, em muitos casos, as confirmações da doença são feitas dias após a morte do paciente. A Prefeitura do Recife alerta que, como este último levantamento considera a data do óbito, e não o dia da divulgação, os dados mensais ainda podem aumentar, sobretudo de agosto, à medida em que saírem os resultados de mais testes.
Jailson explica que ambos os dados são parâmetros relevantes para análise, mas que a data exata de quando o óbito aconteceu é "mais importante". "As duas formas de analisar os casos são importantes, tanto pela data do óbito, que representa o esforço de testagem e o resultado dos exames laboratoriais, como pelo número de casos confirmados. A data da ocorrência do óbito é mais importante do ponto de vista epidemiológico porque indica qual é o momento que há maior atividade e gravidade da doença, mas ela leva um tempo para se consolidar, porque os óbitos de hoje levam dias para serem investigados", explicou.
Para a infectologista Vera Magalhães, o indicativo é positivo, mas não representa motivo para relaxamento. "É óbvio que é uma boa notícia de que não houve registro [de mortes], mas ainda não é momento de relaxar, porque estamos olhando apenas para o número de óbitos, que são casos graves, que vão para a UTI e morrem da covid. Isso é um dado bom, mas é insuficiente para garantir que não haja circulação viral, porque ainda estão sendo registrados novos casos da covid", afirmou. "Pelo comportamento das últimas semanas, está havendo, realmente, um controle desses óbitos, mas não sabemos em que nível está a infecção, porque não testamos de forma ampla", explicou.
A especialista alerta, ainda, que medidas sanitárias de prevenção ao coronavírus devem ser mantidas, visando prevenir uma segunda onda da doença em Pernambuco. "Acho que tem que haver a flexibilização para a retomada de algumas atividades, mas deve haver o uso amplo de máscara para sintomáticos e assintomáticos, quem teve e quem não teve, deve haver o distanciamento social e a higienização das mãos, e deve-se evitar ambientes fechados. Ainda devem se manter em restrição as pessoas do grupo de risco e com complicações", orientou.
Os cuidados recomendados, no entanto, estão sendo deixados de lado por grande parte dos pernambucanos, como se pode observar no mesmo dia, feriado de 7 de setembro, nas praias do Estado. De Boa Viagem, no Recife, a Porto de Galinhas, em Ipojuca, as areias foram tomadas por milhares de pessoas, muitas descumprindo as recomendações sanitárias, que não foram inibidas pela tímida fiscalização do poder público. Em alguns locais das praias, clientes e comerciantes não se importaram em medir a distância mínima recomendada entre 1,5 metro entre as barracas.
Esse cenário inquietou autoridades sanitárias, sanitaristas, epidemiologistas e parte da população que tem consciência de que o novo coronavírus ainda está entre nós. Para a médica epidemiologista Ana Brito, pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, a consequência do comportamento adotado nas praias no feriadão será refletida nos próximos dias. "A expectativa é que, daqui a 5 dias, volte a aumentar o número de casos. De 10 a 14 dias, podem aparecer as formas moderadas e graves da covid-19. O vírus ainda circula", destaca Ana Brito.
Já o secretário Jailson Correia afirmou à reportagem que se preocupa com a exposição que aconteceu nas praias, principalmente com grupos vulneráveis. "Foi um fenômeno nacional, talvez de uma fadiga do confinamento. Naturalmente, nos preocupamos com a exposição que aconteceu, [porque] ela pode representar novos casos daqui a uma ou duas semanas, e é por isso que vamos monitorar cautelosamente, como já fazemos. É importante lembrar que as exposições ao vírus acontecem de forma diferenciada para diversos públicos da nossa população. Crianças e adolescentes, por exemplo, nos preocupam mais ainda por estarem nessa aglomeração. E, naturalmente, a população de maior vulnerabilidade, a dos idosos; porque mesmo que não tenham ido à praia, podem, no convívio familiar, ter um retorno da circulação e haver uma nova onda de casos", alerta.
Até o momento, o Recife soma 32.029 pessoas oficialmente notificadas como infectadas pelo novo coronavírus, sendo 23.088 casos leves e 8.941 casos de Síndrome Respiratória Aguda (SRAG). Destes últimos, 2.309 evoluíram para o óbito.