Quem foi ontem à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Imbiribeira, Zona Sul do Recife, com queixas de sintomas respiratórios (tosse, cansaço e falta de ar) precisou aguardar cerca de duas horas para ser atendido. Para esses pacientes, a espera acontece num local destinado a quadros suspeitos da covid-19, que voltam a aparecer com uma maior frequência nos serviços considerados portas abertas, que não exigem necessidade de agendamento e que são a entrada para o atendimento de urgência. O fluxo de pessoas doentes não é o mesmo do período em que o Recife vivenciou o pico da pandemia (abril a maio), mas também não permanece na calmaria dos meses de queda ou estabilidade de casos. "As UPAs são um termômetro importante e têm hoje demanda maior de pacientes não covid", disse o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, em coletiva de imprensa na última semana.
O Estado tem informado que muitos dos quadros respiratórios que têm se manifestado atualmente em parte da população não positivam para o novo coronavírus. No entanto, o governo não apresenta números que espelhem essa realidade. Na sexta-feira (6) e também ontem a reportagem do JC solicitou à Secretaria Estadual de Saúde (SES) a frequência de outros vírus em unidades sentinelas (são os serviços que servem como alerta precoce para o sistema de vigilância), assim como a causa dos quadros de síndrome respiratória aguda grave (srag) que, nas últimas semanas, não positivaram para covid-19. Ainda não foi dada a resposta.
"As UPAs estaduais relataram aumento no número de atendimento, foi aumento leve de quadros respiratórios, nem sempre relacionados à covid-19. Mas estamos atentos a esse cenário epidemiológico para ter percepção mais adequada e clara", destacou Longo. Em nota enviada ontem à reportagem, a SES informou que a retomada dos serviços e a maior intensidade na circulação das pessoas, decorrente da implementação do plano de convivência com o novo coronavírus, acarretou uma maior demanda de atendimento nos serviços de saúde de pessoas com os mais diversos quadros. "O monitoramento dos indicadores da covid-19 continua sendo feito diariamente, e o Governo de Pernambuco tem condições de voltar a desbloquear leitos voltados exclusivamente para pacientes com a doença, caso os números permaneçam crescendo." No último fim de semana, Pernambuco alcançou taxa de ocupação de terapia intensiva (UTI) de 82%, após dias apresentando índices perto dessa zona de criticidade, que exige mobilização da assistência hospitalar.
Paralelamente a esse cenário, a reportagem tem recebido queixas de parentes de pacientes que permanecem horas à espera de uma transferência de uma unidade como Upas para serviços de maior complexidade, como hospitais de referência em covid-19. Questionada sobre essa demora no transporte dos pacientes, a SES informou que "os atrasos, que porventura ocorrem na transferência dos pacientes, não significam falta de leitos para pacientes com covid-19, ou que sejam motivados por uma maior demanda de pacientes com o novo coronavírus, já que as UPAs também vêm observando aumento no atendimento de pacientes com outros quadros".
A assessoria de comunicação da pasta ainda destacou que atrasos em transferências podem ocorrer de maneira pontual, decorrentes da própria logística no serviço. "No entanto, há sempre a priorização dos pacientes mais graves, e a SES tem atuado para reforçar as ambulâncias utilizadas para remoção dos pacientes, quando necessário", acrescentou a nota.