O que dizem os percentuais de eficácia de vacinas contra a covid-19, e quais estão em negociação com o Brasil

Governo brasileiro se reuniu com cinco laboratórios diferentes na última semana, além de já ter acordo firmado com a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo Laboratório AstraZeneca
Agência Brasil
AFP
Publicado em 24/11/2020 às 14:21
Meta é imunizar pelo menos 95% dos grupos elegíveis para sarampo e 90% para influenza Foto: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL


A corrida pela vacina contra a covid-19 também é uma batalha de números, como mostram os anúncios sobre a eficácia de cada pesquisa, que varia entre 70% em média para o caso da AstraZeneca e da Universidade de Oxford e 95% para o da Pfizer/BioNTech. No entanto, o pediatra e membro da Sociedade Brasileira de Imunologia Eduardo Fonseca Lima alerta que os resultados ainda são preliminares, e que a taxa de sucesso de um imunizante ainda não pode ser comparado a outro, por terem particularidades em seus estudos.

"Não dá para comparar, ainda, vacina com vacina sem a gente ter a conclusão dos estudos de fase três. Esse foi um estudo parcial, também da Pfizer, como da Moderna, que mostraram mais de 90% de eficácia", explicou, citando dois dos imunizantes desenvolvidos contra o coronavírus.

Para medir a taxa de sucesso, alguns voluntários recebem a vacina e outros um placebo, para que a comparação possa ser feita. Todos eles levam uma vida normal durante os testes. Com o tempo, alguns naturalmente são infectados pela covid-19. Se a vacina for eficaz, o número de pacientes será menor entre os vacinados em comparação com o segundo grupo. Teoricamente, uma vacina é 100% eficaz se não houver nenhum paciente no primeiro.

A dupla Pfizer/BioNTech anunciou uma eficácia de 95% entre 170 doentes, quase o mesmo da Moderna, que mostrou 94,5% de efetividade, com cinco pacientes no primeiro grupo e 90 no segundo. A Pfizer mediu a eficácia de sua vacina uma semana após a segunda e última dose, e a Moderna, duas semanas depois.

Por sua vez, a AstraZeneca e a Universidade de Oxford anunciaram uma eficácia média de 70% nesta segunda-feira, com base nos resultados de dois protocolos diferentes. A eficiência foi de 90% entre os voluntários que receberam meia dose primeiro e, um mês depois, uma dose completa. Já entre o grupo que recebeu duas doses completas, caiu para 62%.

O resultado frustrou alguns pesquisadores. "Todos esperávamos que as duas doses completas provocassem uma resposta melhor. (Mas) parece que uma dose inicial menos forte permite que o sistema imunológico se prepare" para agir de forma mais eficaz, explicou um dos pesquisadores responsáveis pelo projeto, Andrew Pollard, em coletiva de imprensa.

Eduardo Fonseca Lima chamou atenção para a queda na eficácia com uma dosagem maior. "Todo mundo está atrás querendo entender como uma dose menor, administrada como primeira dose, seguida de uma segunda dose maior, dá um resultado mais significativo", indagou. E completou: "Ainda não temos um término do estudo, nem um quantitativo total dos pacientes. quando a gente tiver um término da fase três do estudo de Oxford, a gente vai entender esse resultado apresentado", afirmou.

O especialista, no entanto, é otimista ao apontar que nenhum paciente que tomou a vacina de Oxford teve a forma grave da doença. "Dentro desse resultado da vacina de Oxford, que, aparentemente, não foi o que esperávamos, trouxe um otimismo de uma coisa importante que passou desapercebido. Nenhum paciente que tomou a vacina teve covid grave. Isso foi um dado bem interessante, apesar do número de eficácia ter ficado nessa média de 70%", disse.

Por fim, o instituto russo Gamaleïa garantiu que sua vacina tinha eficácia de 92%, com base em um número muito pequeno de 20 doentes.

Nessa segunda (23), o Instituto Butantan informou que a vacina CoronaVac, desenvolvida em parceria com biofarmacêutica Sinovac Life Science, chegou à fase final do estudo clínico. De acordo com informações do governo de São Paulo e do Instituto Butantan, os resultados sairão na primeira semana de dezembro e a previsão é a de que, até janeiro de 2021, 46 milhões de doses estejam disponíveis no Brasil.

Brasil se reúne com cinco laboratórios

O governo brasileiro negocia a aquisição de vacinas para imunizar a população contra a covid-19, mas, até agora, tem acordo para a compra do imunizante produzido pela Universidade de Oxford e pelo Laboratório AstraZeneca. Nessa semana, a administração informou que se reuniu com cinco laboratórios diferentes, tendo recebido representantes da Pfizer, Janssen, Bharat Biotech, Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) e Moderna.Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que coletou informações sobre os detalhes técnicos das vacinas, bem como sua segurança e eficácia.

A pasta informou ainda que deverá assinar cartas de intenção não-vinculantes com as empresas para permitir uma futura aquisição de doses.No entanto, a compra de qualquer vacina só poderá ocorrer após o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Além dos imunizantes desenvolvidos por esses laboratórios, há também o Coronavac,vacina feita pelo Instituto Butantan em parceria com biofarmacêutica Sinovac Life Science. De acordo com informações do governo de São Paulo e do Instituto Butantan, os resultados sairão na primeira semana de dezembro e a previsão é a de que, até janeiro de 2021, 46 milhões de doses estejam disponíveis no Brasil.

Resultados das vacinas em negociação com o Brasil

Vacina de Oxford

O governo federal tem um acerto para compra e produção no Brasil da vacina da Universidade de Oxford e do Laboratório AstraZeneca (Inglaterra/Suécia), que será produzida em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e é sua principal aposta. Foram investidos cerca de R$ 2 bilhões para comprar 100 milhões de doses do imunizante.

A partir de acordo com o governo brasileiro, os desenvolvedores da vacina já iniciaram o processo de transferência de tecnologia para que a Fiocruz produza o imunizante no país. No primeiro semestre, a fundação prevê disponibilizar 100 milhões de doses a partir de ingrediente farmacêutico ativo (IFA) importado, e, no segundo semestre, cerca de 110 milhões de doses serão fabricadas já com IFA produzido na Fiocruz. Krieger explica que a previsão está mantida, e o que deve ocorrer é o fracionamento de doses.

A Fiocruz deve protocolar o último bloco de documentos em janeiro do ano que vem, quando também deve começar a produzir a vacina, antes mesmo da aprovação final da Anvisa. O imunizante será produzido no Complexo Industrial de Bio-Manguinhos, que fica junto à sede da fundação, na zona norte do Rio de Janeiro. O objetivo de antecipar a produção é ter ao menos 30 milhões de doses até o fim de fevereiro, quando deve ficar pronto o parecer final da Anvisa com o registro da vacina, caso todos os testes confirmem a segurança e a eficácia da vacina. Se esse cronograma se confirmar, Bio-Manguinhos deve entregar em março as primeiras 30 milhões doses ao Ministério da Saúde, para que sejam disponibilizadas à população.

Vacina Coronavac

Nessa segunda (23), o Butantan anunciou que chegou à fase final o estudo clínico da CoronaVac, a vacina desenvolvida em parceria com biofarmacêutica Sinovac Life Science. De acordo com informações do governo de São Paulo e do Instituto Butantan, os resultados sairão na primeira semana de dezembro e a previsão é a de que, até janeiro de 2021, 46 milhões de doses estejam disponíveis no Brasil.

Os resultados serão enviados pelo Comitê Internacional independente na primeira semana de dezembro para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analise o relatório para verificação da vacina. Os testes no Brasil estão sendo coordenados desde julho pelo Butantan em 16 centros de pesquisa científica espalhados em sete estados brasileiros e no Distrito Federal, com 13 mil voluntários envolvidos. Na última semana, o primeiro lote com 120 mil doses chegou a São Paulo.

Vacinas da Pfizer/Biontech, da Johnson & Johnson, da Rússia e da Índia

O Ministério da Saúde ainda negocia com outros laboratórios. Na semana passada, técnicos se reuniram com representantes da Pfizer/Bointech (EUA/Alemanha), do laboratório Janssen (braço da empresa Johnson & Johnson, dos EUA), do Instituto Gamaleya (da Rússia, que desenvolve a Sputnik V) e da empresa indiana Bharat Biotech (que desenvolve a vacina Covaxin).

Entre essas, a vacina da Pfizer/Biontech é a que está em fase mais avançada. Na semana passada, informou ter 95% de eficácia. Os dois laboratórios avisaram que já podem começar a produzir o imunizante para vacinação em massa.

As outras ainda estão com dados parciais. Estudos preliminares da Sputnik V mostraram que tem eficácia de 92%. As pesquisas do imunizante da Janssen indicam que ele protegeu 98% dos voluntários. Ainda não há dados divulgados sobre a vacina da Índia, cuja pesquisa entrou recentemente na fase 3, a última dos estudos.

Vacinas em última fase de testes clínicos

- Pfizer: o grupo farmacêutico americano e seu sócio alemão BioNTech apresentaram resultados completos da fase 3 com uma eficácia de 95% nos participantes. Na sexta-feira solicitaram à Agencia de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos uma autorização para a vacina, o primeiro fabricante a dar este passo nos Estados Unidos e Europa.

- Moderna: a empresa americana de biotecnologia anunciou na segunda-feira que sua vacina tem eficácia de 94,5%. Planeja produzir 20 milhões de doses até o fim do ano.

- Sinovac: a empresa de biotecnologia chinesa iniciou um teste de fase 3 para a "CoronaVac" com milhares de voluntários, principalmente no Brasil.

- Sinopharm, outro laboratório chinês, tem dois projetos de vacinas com institutos de pesquisas chineses. O país prevê uma capacidade de produção até o fim do ano de 610 milhões de doses por ano de várias vacinas contra a covid-19 e o governo já autorizou o uso urgente de algumas delas.

- A empresa indiana Bharat Biotech começou a recrutar em novembro quase 26.000 pessoas para a sua "Covaxin", desenvolvida com o apoio do governo, e aposta em uma vacina disponível no primeiro semestre de 2021.

As vacinas de "vetor viral" usam como suporte outro vírus mais virulento, transformado para adicionar uma parte do vírus responsável pela covid-19. O vírus modificado penetra nas células das pessoas vacinadas, que fabricam uma proteína típica do SARS-CoV-2, educando seu sistema imunológico a reconhecer o novo coronavírus.

- AstraZeneca, grupo anglo-sueco, e a Universidade de Oxford: sua vacina utiliza como vetor viral um adenovírus. De acordo com os resultados intermediários publicados nesta segunda-feira (23), a vacina tem eficácia de 70%, com uma variação de 62% a 90% de acordo com a dose aplicada. A AstraZeneca afirma que deseja avançar rapidamente na produção em série de três bilhões de doses que estarão disponíveis em 2021.

- Johnson & Johnson: a empresa americana iniciou dois testes clínicos de sua candidata, composta por um adenovírus modificado, uma de apenas uma dose e a outra com duas doses. Em todo o mundo 90.000 voluntários devem participar da pesquisa. Os resultados são aguardados para o primeiro trimestre de 2021.

- CanSino Biological: a empresa chinesa desenvolveu a "Ad5-nCoV" em conjunto com o exército, uma vacina baseada em adenovírus. Os testes de fase 3 começaram no México, Rússia e Paquistão.

- Sputnik V: desenvolvida pelo Centro de Pesquisas em Epidemiologia Gamaleya, em parceria com o ministério russo da Defesa, esta vacina se baseia na utilização de dois vetores virais, dois adenovírus. Os russos anunciaram recentemente uma eficácia de 92%. Porém, o l instituto Gamaleya foi acusado de romper os protocolos habituais para acelerar o processo científico. Várias políticos russos anunciaram que foram vacinados com a Sputnik V.

- Novavax: a empresa de biotecnologia americana trabalha em uma vacina chama "subunitária" recombinante. O coronavírus possui em sua superfície algumas pontas (proteínas virais) para entrar em contato com as células e infectá-las. Estas proteínas podem ser reproduzidas e apresentadas depois ao sistema imunológico para provocar uma reação. A Novavax iniciou em setembro o teste clínico de fase 3 no Reino Unido e no fim de novembro deve começar um teste nos Estados Unidos. Dados preliminares são aguardados para o primeiro trimestre de 2021.

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