Em reação a Bolsonaro, secretários estaduais dizem que não exigirão receita médica para vacinar crianças contra covid-19

Decisão é comunicada pelo presidente do Conass, Carlos Lula, em carta dedicada às crianças brasileiras
Cinthya Leite
Publicado em 24/12/2021 às 15:32
Imunização de crianças contra covid-19 com vacina da Pfizer já foi iniciada em vários países Foto: OSCAR DEL POZO/AFP


Dias após o presidente Jair Bolsonaro comunicar que pediu ao ministro Marcelo Queiroga que os pais e responsáveis de menores de 12 anos assinem um termo de responsabilidade para vacinar as crianças, além de apresentarem exigência de receita médica, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), que congrega os Secretários de Estado da Saúde, decide que não cumprirá a exigência de receita médica para imunizar crianças contra covid-19. A decisão é anunciada, nesta véspera de Natal (24), pelo presidente do Conass, Carlos Lula, em carta dedicada às crianças brasileiras. 

"É este recado que queremos dar no dia de hoje, véspera de Natal: quando iniciarmos a vacinação de nossas crianças, avisem aos papais e às mamães: não será necessário nenhum documento de médico recomendando que tomem a vacina. A ciência vencerá. A fraternidade vencerá. A medicina vencerá, e vocês estarão protegidos", escreve Carlos Lula. 

Na carta, ele também ratifica a segurança e a eficácia das vacinas para o público infantil. "Eu sei que ninguém gosta de agulhas, mas vocês não precisam ter medo! Os cientistas do mundo inteiro apontam a segurança e eficácia da vacina para crianças! Ela, inclusive, já começou a ser aplicada em meninos e meninas de vários países do mundo. Infelizmente há quem ache natural perder a vida de vocês, pequeninos, para o coronavírus. Mas, com o Zé Gotinha, já vencemos a poliomielite, o sarampo e mais de 20 doenças imunopreveníveis. Por isso, no lugar de dificultar, a gente procura facilitar a vacinação de todos os brasileirinhos."

Crianças, covid-19 e vacina

O acometimento das crianças com covid-19 é de menor impacto quando comparado a adulto, sendo estimado que número de casos na faixa etária pediátrica seja de 1% a 5% do total de casos confirmados. Embora apresentem formas clínicas mais leves ou assintomáticas, as crianças não estão isentas da ocorrência de formas mais graves, como a síndrome respiratória aguda grave (srag) e a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica associada à covid-19. Ressalta-se ainda que existe o risco de covid-19 longa e todas as suas consequências, especialmente em relação a aspectos cognitivos, nutricionais e de segurança.

Em artigo publicado neste JC, o pediatra Eduardo Jorge da Fonseca Lima reafirma que há razões para justificar a vacinação de crianças. "Os estudos das vacinas contra covid-19, neste grupo, tiveram os mesmos requisitos exigidos para o licenciamento de uma vacina, ou seja, imunogenicidade, eficácia e segurança. Os EUA já aplicaram mais de 5 milhões de doses da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos, demonstrando segurança com a apresentação pediátrica, que utiliza um terço da dose da vacina padrão. Importante destacar que nenhum caso notificado de miocardite foi relatado neste grupo. O Canadá também tem vacinado todas as crianças acima de 5 anos, com controle rigoroso de adventos adversos, demonstrado segurança", diz. 

No Brasil, até o momento, a única vacina licenciada pela Anvisa e em uso nos adolescentes maiores de 12 anos é a produzida pelo laboratório Pfizer. Em relação às crianças, a Anvisa autorizou, na quinta-feira (16), o uso da apresentação pediátrica da vacina Pfizer para crianças de 5 a 11 anos. "É uma grande vitória para esse público. Agora, é necessária a compra desta apresentação pelo Ministério da Saúde", escreve Eduardo Jorge.

Ele destaca que, com a progressão da vacinação completa de adultos, os casos graves (hospitalizações e mortes) de covid-19 tendem a se concentrar em populações não vacinadas, ocorrendo um natural desvio de faixa etária, com aumento percentual de casos na população pediátrica. "Assim, a vacinação das crianças será fundamental para o efetivo controle da pandemia. Será uma nova luta que travaremos com fé, esperança e trabalho", acrescenta Eduardo Jorge. 

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