Para reforçar a investigação, as ações de prevenção e controle da disseminação do superfungo Candida auris, Pernambuco cria, nesta quinta-feira (25), uma força-tarefa de enfrentamento ao surto.
O comitê técnico conta com a participação de gestores da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE), além de representantes da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), do Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE) e da Sociedade Pernambucana de Infectologia.
O objetivo é acompanhar o cenário e agir de forma integrada contra o superfungo, que é motivo de alerta em todo o mundo e já foi identificado este ano em três pacientes em Pernambuco: dois em hospitais da rede pública e um internado em serviço particular.
Os três pacientes (todos são do sexo masculino), segundo a SES, estão com quadro de saúde estável. Entenda os perfis, de acordo com informações da pasta:
Os integrantes do comitê discutirão estratégias para identificar e prevenir as infecções por Candida auris em serviços de saúde de Pernambuco.
A secretária de Saúde de Pernambuco, Zilda Cavalcanti, assegura que a SES-PE tem atuado preventivamente, monitorando todas as suspeitas do superfungo.
"Decidimos criar um comitê com várias entidades científicas para acompanhar cada caso de perto, com todas as particularidades. A secretaria está empenhada em garantir que a população esteja segura e se mantém vigilante para evitar novos casos."
Este é o segundo surto de Candida auris em Pernambuco. O primeiro ocorreu entre dezembro de 2021 e setembro de 2022. Nesse período, segundo a SES-PE, o Estado registrou, no Hospital da Restauração, no Derby (área central do Recife), 47 casos: 46 colonizados e 1 infectado pelo fungo.
Os pacientes com Candida auris podem não apresentar sinais relacionados à infecção pelo superfungo, mas ter quadro sugestivo de colonização. A diferença entre ambas as condições é que a colonização indica que o paciente está com o fungo, mas não apresenta infecção - e esta ocorre quando há presença de Candida auris na corrente sanguínea.
"Os três casos de Candida auris detectados este ano são de colonização: eles não têm sinais de doença infecciosa, e sim sintomas das doenças ou condições que levaram ao internamento, como uma quadro de doença renal crônica ou sequelas neurológicas por AVC (acidente vascular cerebral)", esclarece a sanitarista Karla Baêta, diretora-geral da Apevisa.
"Há nove meses que monitoramos o Hospital da Restauração, onde houve casos no ano passado, e não há confirmação de pacientes colonizados ou infectados por Candida auris atualmente nessa unidade de saúde", garante Karla.
A Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE) garante que tem trabalhado no bloqueio e no controle da propagação da Candida auris.
Nos setores onde os três pacientes do surto deste ano estão internados, foi estabelecida imediata intensificação das ações de limpeza e desinfecção de ambientes.
Para detecção de possíveis novos casos, profissionais continuam a busca e a investigação diagnóstica de todos os pacientes que foram expostos aos mesmos ambientes de internamento dos doentes.
Com a identificação do atual surto de Candida auris em Pernambuco, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informa que monitora 180 pacientes que tiveram contato com ambientes por onde passaram as três pessoas com diagnóstico confirmado do superfungo este mês.
"Agora, fazemos o monitoramento de 180 pessoas que passaram pelas mesmas áreas dos hospitais percorridas pelos três pacientes com diagnóstico de Candida auris. Esses 180 também são pacientes das unidades de saúde que estiveram no mesmo ambiente ou tiveram contato com as mesmas superfícies", informa Karla Baêta.
É importante explicar que esses 180 pacientes, de acordo com Karla, não têm atualmente diagnóstico de Candida auris, mas passam pelo monitoramento para vigilância, prevenção e controle de uma possível infecção pelo superfungo.
"Estão sendo realizadas coletas de cultura com swab. O protocolo pede que sejam feitos três testes, com intervalo de 72 horas entre eles. No terceiro resultado negativo, o paciente não precisa mais ser monitorado e é liberado", explica Karla.
Os profissionais de saúde que tiveram contato com os três casos confirmados não precisam passar por essa vigilância porque, de acordo com a diretora-geral da Apevisa, eles seguem os protocolos de proteção individual e coletiva.
O infectologista Flávio de Queiroz Telles Filho, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que a Candida auris ocorre como infecção hospitalar, que pode causar casos graves de septicemia (condição de resposta exagerada a uma infecção, seja por bactérias, fungos ou vírus) ou apenas colonizar a pele de pacientes. "Mas ela facilmente se mantém dentro de hospitais onde é detectada. É muito difícil de ser erradicada", frisa.
O maior problema relacionado ao superfungo Candida auris, de acordo com o infectologista Filipe Prohaska, é que esse agente infeccioso é multirresistente a diversos medicamentos antifúngicos. "É um micro-organismo exclusivamente hospitalar", diz o médico, que se preocupa com o potencial agressivo desse fungo.
Estudos apontam que até 90% dos isolados de Candida auris são resistentes às seguintes medicações: fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas.
Outro motivo de preocupação é que a Candida auris pode permanecer viável por longos períodos no ambiente (semanas ou meses) e apresenta resistência a diversos desinfetantes, inclusive os que são à base de quaternário de amônio.
O infectologista Arnaldo Lopes Colombo, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e referência nacional em contaminação com fungos, informa que o tratamento da Candida auris é feito com antifúngico.
"O único problema é que é um micro-organismo com capacidade de persistir no ambiente hospitalar por muito tempo. Se não forem instituídas medidas de desinfecção adequada, o fungo pode colonizar esses pacientes por tempo prolongado e se tornar resistente a medicações", alerta o médico.
A Candida auris é um fungo emergente que representa uma séria ameaça à saúde pública. Ele pode causar infecção de corrente sanguínea e outras infecções invasivas.
Ele pode ser fatal, principalmente em pacientes imunodeprimidos ou com doenças crônicas.
A transmissão do superfungo Candida auris ocorre diretamente de equipamentos e materiais de assistência ao paciente com Candida auris (como estetoscópios e termômetros, além de outros), mas nada impede que essa transmissão também aconteça pelas mãos dos profissionais de saúde. Por isso, a higienização das mãos precisa ser respeitada.