Com três surtos de Candida auris (ao todo, eles somam nove casos de colonização), Pernambuco confirma a morte de paciente idoso colonizado pelo superfungo.
É o primeiro óbito do ano de um caso de superfungo no Brasil.
A Candida auris é um superfungo resistente a medicamentos e responsável por infecções hospitalares que se tornou um dos mais temidos do mundo.
"A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) informa que um homem, de 63 anos, que estava no Hospital Miguel Arraes (em Paulista, no Grande Recife), evoluiu a óbito, em virtude das comorbidades associadas à internação. Portanto, são causas não relacionadas ao fungo", disse a SES-PE, em nota à coluna Saúde e Bem-Estar, do JC.
Questionada sobre quais são essas "causas não relacionadas ao fungo", a SES-PE informou que foi um óbito por choque séptico.
A assessoria de comunicação do Hospital Miguel Arraes (HMA) garantiu que a causa da morte do paciente de 63 anos foi "choque séptico provocado por infecção prévia de partes moles e que nada teve a ver com a Candida auris".
A sepse, que pode afetar qualquer órgão, é comum em pacientes internados em hospitais.
A infecção de origem da sepse pode ser bacteriana, fúngica, viral, parasitária ou por protozoários. A reportagem do JC perguntou à assessoria do HMA qual foi a infecção prévia do paciente e se paciente chegou a fazer tratamento com medicação antifúngica, mas não recebeu retorno até o momento.
O paciente de 63 anos que foi a óbito havia dado entrada na unidade de terapia intensiva (UTI) da Miguel Arraes por complicações de problemas ortopédicos. Ele estava isolado no setor. A confirmação do superfungo Candida auris no paciente foi dada no dia 29 de maio.
No dia 18 de maio, a SES-PE divulgou a notificação dos dois primeiros casos confirmados do superfungo Candida auris deste ano no Estado. Entre eles, um paciente de 48 anos no Miguel Arraes e que teve o diagnóstico de Candida auris no dia 11 de maio.
O segundo caso notificado é de um paciente que está no Hospital do Tricentenário, localizado em Olinda, também no Grande Recife. O diagnóstico dele foi dado no dia 14 de maio.
Atualmente, segundo a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE), cinco pacientes com Candida auris seguem isolados nos hospitais de origem.
Um homem, de 48 anos, continua no Hospital Miguel Arraes, em Paulista, no Grande Recife.
Outros quatro homens, com 77 anos, 51 anos, 69 anos e 54 anos, estão no Tricentenário, em Olinda, também no Grande Recife.
"Todos continuam recebendo cuidados relativos às doenças de base. Por fim, a SES-PE reforça, mais uma vez, que todos os casos citados são de colonização, e não de infecção."
Os pacientes com Candida auris podem não apresentar sinais relacionados à infecção pelo superfungo, mas ter um quadro de colonização.
A diferença entre ambas as condições é que a colonização indica que o paciente está com o fungo, mas não apresenta infecção - e esta ocorre quando há presença de Candida auris na corrente sanguínea.
Segundo a SES-PE, os casos de Candida auris detectados este ano (ao todo, nove) são de colonização: eles não têm sinais de doença infecciosa, e sim sintomas das doenças ou condições que levaram ao internamento, como uma quadro de doença renal crônica ou sequelas neurológicas por AVC (acidente vascular cerebral).
A pasta acrescenta que continua com as ações de controle e monitoramento do fungo, com a realização dos testes biológicos nas 163 pessoas que tiveram algum tipo de contato com os primeiros positivados para Candida auris.
A Candida auris é um fungo emergente que representa uma séria ameaça à saúde pública.
O superfungo Candida auris pode causar infecção de corrente sanguínea e outras infecções invasivas.
Ele pode ser fatal, principalmente em pacientes imunodeprimidos ou com doenças crônicas.
O infectologista Danylo Palmeira, presidente da Sociedade Pernambucana de Infectologia (SPEI), explica que a Candida auris ocorre como infecção hospitalar. "Não há diagnóstico clínico baseado em sinais e sintomas de Candida auris", diz.
As infecções por Candida auris, segundo Danylo, estão relacionadas ao uso de dispositivos chamados invasivos, como um cateter venoso central, uma sonda vesical e um ventilador mecânico. "São casos em que há um maior risco de ocorrência de infecção hospitalar, incluindo por Candida auris", explica Danylo.
Ele frisa que o superfungo Candida auris se mantém facilmente nos hospitais onde há pacientes colonizados ou infectados. "É um fungo que, no ambiente hospitalar, consegue sobreviver sem estar no organismo humano." Ou seja, a Candida auris pode estar em superfícies ou equipamentos da unidade de saúde. Por isso, é muito difícil de ser erradicada.
A transmissão do superfungo Candida auris ocorre em ambiente hospitalar, diretamente de equipamentos, superfícies e materiais de assistência ao paciente com Candida auris (como estetoscópios e termômetros, além de outros), mas nada impede que essa transmissão também aconteça pelas mãos dos profissionais de saúde. Por isso, a higienização das mãos precisa ser respeitada.
Quando tem alta da unidade de saúde, o paciente pode seguir para casa, já que é um superfungo de ambiente hospitalar (ocorre dentro de hospital).
"Não é na comunidade (pelas ruas, em casa, na feira, no supermercado...) que uma pessoa vai ser colonizada por Candida auris. E o paciente que foi diagnosticado com o superfungo, foi controlado e teve alta, não vai transmitir. No entanto, quando ele precisar ir a um serviço de emergência ou qualquer outra unidade de saúde, ele precisa sinalizar que já teve cultura positiva para Candida auris, pois cuidados precisam ser seguidos, pelo menos, por dois anos", orienta Danylo.
O maior problema relacionado ao superfungo Candida auris, de acordo com o infectologista Filipe Prohaska, é que esse agente infeccioso é multirresistente a diversos medicamentos antifúngicos. "É um micro-organismo exclusivamente hospitalar", diz o médico, que se preocupa com o potencial agressivo desse fungo.
Estudos apontam que até 90% dos isolados de Candida auris são resistentes às seguintes medicações: fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas.
Outro motivo de preocupação é que a Candida auris pode permanecer viável por longos períodos no ambiente (semanas ou meses) e apresenta resistência a diversos desinfetantes, inclusive os que são à base de quaternário de amônio.
Para detecção de possíveis novos casos, profissionais continuam a busca e a investigação diagnóstica de todos os pacientes que foram expostos aos mesmos ambientes de internamento dos doentes.
Com a identificação do atual surto de Candida auris em Pernambuco, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) informa que monitora atualmente 163 pacientes que tiveram contato com ambientes por onde passaram as pessoas com diagnóstico confirmado do superfungo desde maio.
O monitoramento é de pessoas que passaram pelas mesmas áreas dos hospitais percorridas pelos pacientes com diagnóstico de Candida auris. São pacientes das unidades de saúde que estiveram no mesmo ambiente ou tiveram contato com as mesmas superfícies.
É importante explicar que esses 163 pacientes não têm atualmente diagnóstico de Candida auris, mas passam pelo monitoramento para vigilância, prevenção e controle de uma possível infecção pelo superfungo.
"Estão sendo realizadas coletas de cultura com swab. O protocolo pede que sejam feitos três testes, com intervalo de 72 horas entre eles. No terceiro resultado negativo, o paciente não precisa mais ser monitorado e é liberado", explica a sanitarista Karla Baêta, da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa).
Os profissionais de saúde que tiveram contato com os quatro casos confirmados não precisam passar por essa vigilância porque, de acordo com a diretora-geral da Apevisa, eles seguem os protocolos de proteção individual e coletiva.