Após o lançamento, em meados de 2015, do relatório oficial da Organização Mundial da Saúde (OMS) classificando a carne processada, como bacon, linguiça, salsicha, carne seca, entre outras, como alimento "sabidamente carcinogênico", gerou uma ampla reação na internet. Perguntas como "preciso parar de comer carne processada para sempre?" ou "um pouco faz mal?" tornaram-se comuns.
Comer salsicha causa câncer?
Para compreender o tema, é essencial esclarecer que a carne processada passa por um longo processo de conservação para aumentar sua vida útil e realçar o sabor. Isso significa que é um produto fresco de origem animal transformado, sofrendo alterações como cor e textura. É importante ressaltar que não há método de conservação (salmoura, defumação, etc.) que ofereça menos riscos.
Essas carnes podem conter aditivos, como nitrato, além do sal, prejudiciais à saúde. Até mesmo linguiças feitas artesanalmente estão sob a avaliação da OMS.
Em entrevista ao portal Drauzio Varella, Samuel Aguiar Junior, cirurgião oncologista e diretor do Núcleo de Tumores Colorretais do A. C. Camargo Cancer Center em São Paulo, explica que o processamento da carne pode formar compostos químicos cancerígenos, como N-nitrosos e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, prejudiciais ao organismo. Esses aditivos causam danos às células da mucosa intestinal e afetam a estrutura do DNA, possibilitando a multiplicação desordenada das células.
Quanto ao consumo moderado, a OMS indica que 50 gramas de carne processada por dia aumentam o risco de câncer colorretal em 18%. Este risco foi avaliado pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (Iarc), ligada à OMS, que colocou a carne processada no Grupo 1, ao lado do tabaco e outras substâncias.
O médico ressalta que a carne processada entrou na mesma categoria do cigarro devido a estudos que demonstram seu potencial carcinogênico em humanos. No entanto, o risco de desenvolver câncer ao fumar cigarro é mais de 2000%, muito superior aos 18% da carne processada.
Mesmo assim, o médico aconselha cautela na interpretação desses dados. Embora não exista um consumo aceitável de carne processada, não é necessário excluir totalmente esse alimento da dieta imediatamente. A sugestão é eliminá-lo gradualmente, priorizando opções mais saudáveis. O objetivo é não tornar a carne processada a única fonte de proteína.
"Se o consumo recomendado de carne vermelha é de cerca de 70 gramas por dia, representando um pequeno bife, a carne processada deveria ser consumida apenas uma vez por mês, no máximo. O ideal seria evitá-la e não incluí-la na dieta diária", enfatiza o oncologista. Ele observa que os efeitos das carnes processadas de frango e peru não foram analisados, portanto, permanecem desconhecidos.
Fonte: Drauzio Varella