O delegado aposentado Joaquim Braga Neto, que foi preso numa operação que investiga uma organização criminosa que atuava contra comerciantes que vendiam cigarros no Recife, já está no Centro de Observação Criminológica e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima. Além dele, três policiais civis foram presos preventivamente.
De acordo com a Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres), o delegado está em uma cela especial. Em geral, esses espaços são destinados às pessoas com diplomas de ensino superior ou que precisam estar isoladas por motivos de segurança.
Detalhes sobre a Operação Espórtula, como foi denominada, foram revelados em coletiva de imprensa pela Polícia Civil de Pernambuco nessa quarta-feira (26). Segundo as investigações, o grupo perseguia comerciantes, apreendia as cargas de cigarro deles e ainda revendia para outros vendedores do Recife.
O inquérito foi conduzido pelo Grupo de Operações Especiais (GOE), após uma denúncia feita em 2016.
"Esses policiais, à época lotados na Delegacia de Água Fria, passaram a perseguir comerciantes do ramo tabagista e a confiscar as cargas que eles comercializavam. Após selecionar a dedo suas possíveis vítimas, os agentes de segurança pública perseguiam as vítimas e arrebatavam as cargas sob pretexto de que elas seriam falsificadas", explicou o delegado Jorge Pinto.
"O que se deveria esperar em um caso desse é que o procedimento fosse conduzido até a delegacia, onde fosse formalizado. Mas, não. A carga era revendida para outros comerciantes. Os agentes públicos lucravam duas vezes, porque as vítimas posteriormente eram conduzidas às delegacias e eram constrangidas a pagar propina como forma de se evitar uma prisão em flagrante", pontuou o delegado.
Ainda segundo o delegado, as cargas apreendidas não eram contrabandeadas. Vários comerciantes chagaram a se mudar do bairro de Água Fria, na Zona Norte do Recife, porque não aguentavam mais as investidas dos policiais. Comerciantes do Mercado de São José, localizado na área central da capital pernambucana, também eram alvos do grupo.
"Era muito dinheiro que esses agentes de segurança conseguiam. A gente imagina uma média de R$ 30 mil por carga recolhida por eles", disse Pinto.
As investigações foram assessoradas pela Diretoria de Inteligência da Polícia Civil de Pernambuco (Dintel), contando ainda com o apoio operacional da Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social.
CRIMES ATRIBUÍDOS AO GRUPO
De acordo com a Polícia Civil, o grupo preso na operação deve responder pelos seguintes crimes:
Roubo;
Extorsão;
Concussão (se utilizar do cargo público para exigir vantagem indevida);
Abuso de autoridade.