O assassinato de um turista, na manhã desse domingo (12), é mais um episódio da violência que não para de crescer na praia de Porto de Galinhas, Litoral Sul de Pernambuco.
A praia estava lotada no momento em que o turista cearense de 31 anos, cujo nome não foi revelado, foi atingido por seis tiros - sendo três nas costas e três no rosto. Houve correria e pânico.
Uma guia de turismo foi vítima de bala perdida e precisou ser levada para o Hospital da Restauração, no Recife, devido à gravidade. Ela passou por cirurgia e segue internada, sem previsão de alta.
Horas depois do crime, três suspeitos (dois de 24 anos e um de 28) foram presos em flagrante em uma pousada, onde estavam hospedados.
"A esposa da vítima informou ao efetivo policial que, tanto seu esposo, quanto os suspeitos, faziam parte de uma facção criminosa do Ceará e que seu esposo havia pedido desligamento da facção, sendo jurado de morte por isso", alegou, em nota, a Polícia Militar.
A arma de fogo foi encontrada horas depois debaixo de um carrinho de comércio, próximo ao local do crime.
CRIMINALIDADE CRESCEU NOS ÚLTIMOS ANOS
Apesar de a polícia se apressar em dizer que o crime foi um "acerto de contas", dando a entender que se trata de um caso isolado, é preciso esclarecer que a violência em Porto de Galinhas não é novidade. E nem o recente reforço da Guarda Municipal armada tem interrompido o avanço da criminalidade.
Em novembro de 2020, um policial militar de Alagoas, que passava férias com a família no principal cartão-postal de Pernambuco, foi vítima de latrocínio (roubo seguido de morte). Johnson Bulhões da Rosa Silva, de 27 anos, foi atingido com um tiro na cabeça e teve a arma de fogo levada numa área bastante movimentada.
Há anos a facção Trem Bala, instalada em Porto de Galinhas, dita regras aos moradores e comerciantes, impõe medo e segue praticando crimes, mesmo com a prisão dos principais líderes - o que demonstra a falta de segurança no sistema prisional pernambucano para impedir a comunicação entre os criminosos presos e soltos.
O grupo é especializado em tráfico de drogas, comércio ilegal de armas de fogo, tortura, homicídios e lavagem de dinheiro. Também teria ligação com as maiores facções do País.
Para a polícia, o grupo é bem organizado, com estrutura hierárquica e divisão de tarefas entre os membros: há "olheiros", vendedores de drogas, gerentes do tráfico, homicidas, "laranjas" que emprestam contas bancárias para a lavagem de dinheiro, chefias e líderes da organização.
É conhecido ainda pela forma violenta com que agem contra rivais - praticando torturas e enterrando corpos em cemitérios clandestinos.
A facção tem forte atuação nos municípios de Ipojuca (onde Porto de Galinhas está localizado), Cabo de Santo Agostinho, Sirinhaém, Itamaracá, Escada, Jaboatão dos Guararapes, entre outros.
A Trem Bala consegue movimentar milhões de reais todo mês. Somente em uma operação de repressão qualificada, a polícia apreendeu R$ 2 milhões com os capturados.
PERSEGUIÇÃO, MORTE DE MENINA E DIAS DE TERROR
Em 30 de março de 2022, a menina Heloysa Gabrielle, de 6 anos, morreu após ser atingida por um tiro durante uma perseguição policial na comunidade de Salinas, em Porto. O PM que teria sido autor do disparo responde a processo em liberdade.
Nos dias seguintes, houve protestos, com pneus queimados e carros de turistas sendo parados na entrada da praia, além do fechamento de comércio. Um cenário de guerra nunca antes visto na praia.
Em 31 de outubro deste ano, a Polícia Civil fez uma operação e prendeu 13 integrantes da Trem Bala. A investigação apontou que eles teriam ordenado o terror em Porto de Galinhas.
ONDA DE ROUBOS EM POUSADAS
Mais recentemente, pousadas de Porto de Galinhas foram alvos de roubos. Um dos estabelecimentos chegou a ser invadido pelo menos três vezes no espaço de um mês e meio.
A situação estava tão grave, em plena chegada do período de alta estação, que donos de pousadas convocaram uma reunião com a polícia para cobrar medidas de segurança.
No final de outubro, um suspeito foi preso. Segundo a polícia, ele já vinha sendo monitorado desde 2020, por causa da suspeita de que ele seria contador da Trem Bala. Ele também seria responsável pelo transporte de armas, drogas e munições.
O nome do suspeito foi encontrado em cadernetas de anotações do tráfico de drogas, o que leva a crer que ele também comercializava entorpecentes. Ele chegou a ser predo em 2018 pelo crime de tráfico, mas foi solto pouco mais de um ano depois.