Notícias sobre segurança pública em Pernambuco, por Raphael Guerra

Segurança

Por Raphael Guerra e equipe
INSEGURANÇA

Em Pernambuco, 77% dos moradores dizem ter medo da violência em ruas e avenidas

Pesquisa revelou que mais de 24% dos entrevistados sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses no Estado

Cadastrado por

Raphael Guerra

Publicado em 03/12/2023 às 11:08 | Atualizado em 03/12/2023 às 11:49
População está com medo de sair pelas ruas por causa do aumento da violência - ALEX OLIVEIRA/JC IMAGEM

Os moradores de Pernambuco consideram as ruas e avenidas como os locais de maior risco de violência. Foi o que apontou a escuta popular realizada pelo governo do Estado para implementação do programa Juntos pela Segurança, cujas metas e principais projetos foram apresentados na semana passada.

O JC teve acesso aos detalhes da pesquisa que comprovou o forte sentimento de insegurança de quem vive em Pernambuco. No total, 7.304 pessoas de todos os municípios, além do Arquipélago de Fernando de Noronha, participaram da escuta espontaneamente pela internet. Desse total, 77,52% declararam que têm medo da violência, principalmente os assaltos, nas ruas e avenidas. 

O assessor parlamentar Gabriel Brasil, de 28 anos, foi vítima da violência recentemente. Ele andava pela Rua Princesa Isabel, no bairro da Boa Vista, área central do Recife, quando foi abordado por um assaltante que estava em uma moto. "Ele se aproximou portando uma arma e pediu meu celular. Tudo ocorrendo à luz do dia", contou.

O episódio aconteceu por volta das 11h40 e, segundo Gabriel, a rua estava bastante movimentada. Ele contou que não estava usando o celular no momento da abordagem, justamente por causa da insegurança. Chamou também a atenção dele o fato de não ter encontrado policiais militares perto do local onde houve o assalto. 

Gabriel faz parte da lista de 38.019 pessoas que foram vítimas de crimes violentos contra o patrimônio (roubos) em Pernambuco entre janeiro e outubro deste ano. 

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MEDO TAMBÉM NAS PRAÇAS E PARQUES

A escuta pública revelou também que 50,41% dos moradores de Pernambuco disseram que os espaços públicos (como parques e praças) são inseguros e, por isso, têm medo de estar nesses locais. 

A sensação de insegurança ocorre, principalmente, porque muitos desses espaços não contam com iluminação adequada e nem policiamento. 

Principalmente nos municípios da Região Metropolitana do Recife, os guardas civis municipais têm o papel de zelar e garantir a segurança nos parques e praças. Mas, sem armas de fogo, muitas vezes eles não conseguem inibir as ações criminosas. 

Na semana passada, o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho, afirmou ser favorável que os guardas municipais usem arma de fogo em serviço para ajudarem a evitar os crimes. 

"Não estou dizendo que a Guarda Municipal tem que fazer o papel de polícia, tem que investigar. Mas se o guarda vai tomar conta de uma área pública qualquer, e está armado, é mais do que é provado que um criminoso vai respeitar muito mais do que um guarda sem uma arma na cintura", disse.

Em Pernambuco, cidades como Ipojuca, Camaragibe, Petrolina e Santa Cruz do Capibaribe aderiram ao uso da arma de fogo pela Guarda Municipal. Recife é a única capital do Nordeste que não quis treinar e dar o equipamento ao efetivo.  

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INSEGURANÇA NOS CARROS E BICICLETAS

Na escuta pública, o entrevistado podia escolher mais de uma opção de local onde ele se sente inseguro. Em 3º lugar, com 28,23%, os moradores de Pernambuco disseram ter medo da violência nos meios de transporte próprio (carros, motos, bicicletas). 

Como mostram as estatísticas da Secretaria de Defesa Social (SDS), houve uma escalada dos roubos e furtos de veículos nos últimos anos no Estado, com concentração maior na capital.

De janeiro a outubro deste ano, 10.588 queixas de roubo de veículos foram registradas pela polícia em Pernambuco. Desse total, 28,9% (1.060) foram no Recife.

Comparando com o mesmo período de 2022, quando 8.936 boletins de ocorrência foram somados, o Estado já soma aumento de 18,4% nessa modalidade criminosa.

Na Avenida Agamenon Magalhães, uma das principais do Recife, houve uma onda de assaltos a motoristas de carros - principalmente mulheres - no primeiro semestre deste ano.

Segundo a SDS, 61 abordagens foram registradas pela polícia entre 12 de abril e 9 de maio. Com tantos casos, foi preciso um reforço de policiamento para inibir a ação dos criminosos e reduzir o medo da população. 

Outro caso de forte repercussão foi a morte do juiz Paulo Torres Pereira da Silva, de 69 anos, no bairro de Candeias, Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, na noite de 19 de outubro. 

As investigações apontam que ele levou um tiro na cabeça após supostamente reagir a um assalto, a cerca de 300 metros da casa dele. Suspeitos do crime estão presos. 

OUTROS LOCAIS ONDE A POPULAÇÃO TEM MEDO DE VIOLÊNCIA:

Residência - 26,48%

Transporte público (ônibus, metrô) - 26,46%

Comércio (lojas, mercados) - 15,05%

Ambiente de trabalho - 13,86%

Instituição bancária - 11,50%

Instituições educacionais (escolas, universidades) - 10,77%

24% DOS ENTREVISTADOS SOFRERAM VIOLÊNCIA NOS ÚLTIMOS 12 MESES

Um em cada quatro entrevistados disse ter sido vítima de algum tipo de violência nos últimos 12 meses - BETO DLC/JC IMAGEM

A pesquisa apontou que um em cada quatro entrevistados (24,12%) disse ter sido vítima de algum tipo de violência nos últimos 12 meses. Outras 70,58% afirmaram não ter sofrido violência. E 5,3% não quiseram responder ao questionamento.

No lançamento do Juntos pela Segurança, o governo estadual anunciou que a meta é reduzir os principais crimes do Estado em 30% até o final de 2026, tendo como base os números do ano de 2022.

Desta forma, a promessa é de queda nos roubos, nas mortes violentas intencionais (que englobam os homicídios, latrocínios, feminicídios, lesões corporais com resultado morte e óbitos em intervenções policiais) e nos casos de violência contra a mulher.

O grupo de entrevistados cobrou, na escuta pública, uma maior presença de policiais nas ruas para diminuir os crimes. Atualmente, há pouco mais de 16 mil PMs na ativa, quando o número ideal é de no mínimo 27 mil.

Outro pedido é de maior valorização dos profissionais da segurança pública, com melhores salários e condições de trabalho.

Policiais militares reforçam segurança na Avenida Agamemon Magalhães, no Recife - PMPE/DIVULGAÇÃO

TIPOS DE VIOLÊNCIA QUE A POPULAÇÃO TÊM MAIS MEDO:

68,51% - assalto

54,65% - assassinato

33,26% - estupro

30% - arrombamento de residência

PERFIL DOS ENTREVISTADOS NA ESCUTA POPULAR

A escuta popular ocorreu entre 31 de julho e 15 de setembro deste ano. Os resultados consolidados fazem parte de um documento de 101 páginas que será a base para as ações implementadas pelo governo estadual para tentar reduzir a violência, com promessa de foco na repressão qualificada e na prevenção social.

Das 7.304 pessoas que contribuíram com a pesquisa, 30% disseram ser moradoras do Recife (município com maior participação).

Do total de participantes no Estado, 53% têm entre 30 a 50 anos. Além disso, 56,46% afirmaram ser do sexo masculino. E 42,77 do sexo feminino. 

No total, 58,73% se definiram como pretos ou pardos. E 38,06% como brancos.

Outra informação relevante é que 25,4% (ou seja, um em cada quatro entrevistados) disseram ser profissionais da segurança pública, o que demonstra a motivação deles em contribuir com ideias para o combate à criminalidade. 

MAIS PROXIMIDADE COM MUNICÍPIOS

O novo plano estadual de segurança prevê uma maior proximidade com os municípios. No lançamento, a governadora Raquel Lyra prometeu ajudar as prefeituras, para que haja investimentos em ações de prevenção à violência - a exemplo da melhoria da iluminação pública em localidades mais perigosas.

A principal ação é a requalificação dos espaços públicos urbanos das áreas que concentram 80% dos crimes.

Serão ofertadas também capacitações para os guardas municipais, que podem contribuir com a segurança nos equipamentos públicos - como praças e parques.

Gestores municipais devem ser convocados para participarem de reuniões de monitoramento dos índices de violência, como forma de melhorar a integração.

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