Mais de 40 dias após as mortes de dois homens durante ação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na comunidade do Detran, na Iputinga, Zona Oeste do Recife, as investigações ainda não têm prazo para conclusão.
Por determinação da chefia da Polícia Civil de Pernambuco, uma força-tarefa, formada por três delegados, foi criada para dar seguimento ao inquérito. O delegado Roberto Lobo, designado inicialmente para o caso, está em férias. Promotores do Ministério Público também acompanham com atenção o andamento da investigação.
A operação dos PMs do Bope ocorreu na noite de 20 de novembro de 2023. Uma câmera de segurança filmou o momento em que eles invadiram residência e atiraram várias vezes. Depois, dois corpos enrolados em lençóis são retirados e levados nas viaturas.
Os homens foram identificados como Bruno Henrique Vicente da Silva, de 28 anos, e Rhaldney Fernandes da Silva Caluete, 32. Ambos já chegaram mortos à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Caxangá.
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Os investigadores querem a perícia das imagens brutas da câmera de segurança para esclarecer toda a dinâmica das mortes.
O inquérito da Polícia Civil vai determinar se os PMs devem responder pelo crime de homicídio doloso (com intenção de matar), ou se houve uma legítima defesa (que pode resultar no arquivamento do caso). Após o resultado, caberá ao Ministério Público decidir se denuncia os policiais à Justiça.
VERSÃO NÃO SE SUSTENTOU
Logo após as mortes, os militares do Bope se apresentaram na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no bairro do Cordeiro, e relataram que os homens foram mortos porque reagiram à abordagem.
Os PMs disseram que, na ação, foram apreendidos 527 gramas e mais 28 pequenas porções de maconha, 150 pedras de crack, uma balança de precisão, dois revólveres calibre 38 e 12 munições - sendo nove deflagradas.
Eles chegaram a ser liberados após os depoimentos no DHPP. Mas, após análise das imagens da câmera de segurança, a Delegacia de Polícia Judiciária Militar identificou que a versão dos militares não se sustentava e determinou que os PMs fossem autuados em flagrante pelo crime militar de violação de domicílio.
Em audiência de custódia, a Justiça determinou que seis PMs fossem presos preventivamente. Eles foram filmados entrando na casa. Outros três tiveram a liberdade provisória concedida.
Em dezembro, o grupo foi denunciado à Vara da Justiça Militar pelos crimes de descumprimento de missão e violação de domicílio. Durante audiência para ouvida de testemunhas, a defesa dos seis PMs solicitou a liberdade provisória. O pedido foi concedido.
Estavam presos preventivamente os PMs Carlos Alberto de Amorim Júnior, Ítalo José de Lucena Souza, Josias Andrade Silva Júnior, Brunno Matteus Berto Lacerda, Rafael de Alencar Sampaio e Lucas de Almeida Freire Albuquerque Oliveira. Os seis teriam entrado na casa onde os homens foram mortos.
A Justiça determinou que os policiais estão proibidos de voltar ao local do fato. Também devem cumprir atividades internas no batalhão, ou seja, não podem trabalhar nas ruas.
Os outros três PMs, que já estavam em liberdade, foram identificados como Jonathan de Souza e Silva, Carlos Fonseca Avelino de Albuquerque e Valdecio Francisco da Silva Júnior. Eles também cumprem medidas cautelares.
PROCESSO ADMINISTRATIVO
A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) também apura a conduta dos policiais militares no âmbito administrativo. Ao final, a depender da gravidade, os acusados podem até ser expulsos da Polícia Militar.