Pouco após a confirmação oficial do feminicídio da técnica em enfermagem Maria do Carmo Oliveira, de 34 anos, que foi baleada várias vezes pelo ex-marido, o cabo da Polícia Militar Lindinaldo Severino da Silva, 39, a governadora Raquel Lyra se pronunciou sobre a violência contra a mulher. Em postagem na rede social X (antigo Twitter), na noite deste domingo (28), ela declarou que se trata de uma "realidade inaceitável".
"Mais um caso de feminicídio em Pernambuco. Essa é uma realidade inaceitável. E é uma realidade que estamos enfrentando todos os dias. A polícia agiu e prontamente prendeu os culpados. Mulher nenhuma deve viver com medo apenas pelo fato de ser mulher", disse.
"Não iremos aceitar atos de violência contra nenhuma mulher pernambucana. Todos os crimes serão investigados e punidos seguindo a letra da Lei", completou.
De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), 37 mulheres foram vítimas de feminicídio em Pernambuco no primeiro semestre de 2024. Houve aumento de 15,6% em relação ao mesmo período de 2023, quando 32 mulheres perderam a vida.
Além disso, de janeiro a junho deste ano, 26.646 queixas de violência doméstica/familiar foram registradas no Estado. A média diária foi de 148 denúncias.
FEMINICÍDIO NA BOATE
O crime aconteceu na madrugada deste domingo, na boate Lounge Music, localizada no bairro de Piedade, Jaboatão Guararapes, no Grande Recife.
De acordo com as investigações, Lindinaldo teria se apresentado na entrada da casa noturna como policial, não pagou ingresso e foi até o camarote open bar, onde estava a ex-mulher. Lá, encontrou a vítima com duas amigas e um rapaz.
Maria do Carmo e Lindinaldo passaram 14 anos casados, mas estavam separados havia cerca de um ano e meio. O cabo não aceitava o fim da relação. Ao encontrar a ex-mulher, por volta das 3h, houve um desentendimento e ele efetuou os tiros. Ainda teria tentado atirar contra as amigas da vítima, mas a arma não funcionou.
Uma câmera de segurança filmou o momento em que os clientes percebem os tiros e começam a correr desesperados, durante a apresentação de MC Tocha. Nas imagens, a vítima aparece caída. Também foi registrado o momento em que um homem consegue tirar a arma do policial militar. Outras pessoas se aproximaram a começam a espancar o autor o crime.
A mulher foi atingida por tiros no tórax, barriga e na perna. Ela foi socorrida e encaminhada para o Hospital e Policlínica Jaboatão Prazeres, em Cajueiro Seco. Depois transferida para o Hospital da Restauração, onde faleceu.
Já o policial foi levado para fora da boate e continuou sendo agredido até a chegada de equipes do 6º Batalhão da Polícia Militar. Por causa dos ferimentos, ele foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Imbiribeira, na Zona Sul do Recife. Depois, também foi encaminhado para a Restauração, onde está sob custódia policial.
Maria do Carmo deixa dois filhos, de 14 e 3 anos, frutos da relação com o policial.
INVESTIGAÇÃO
Em nota, a Polícia Civil de Pernambuco informou que o cabo da PM foi autuado em flagrante por tentativa de feminicídio. No entanto, com a confirmação do óbito, o indiciamento do suspeito será por feminicídio.
A pistola 380 dele foi apreendida e encaminhada ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), responsável pela investigação.
Já a Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS) registrou a ocorrência e, após receber a documentação do flagrante, vai instaurar um processo disciplinar contra o militar.
A Polícia Militar não esclareceu se a arma de fogo era do próprio policial ou do batalhão onde ele está lotado.
OUTRA TÉCNICA EM ENFERMAGEM FOI MORTA NA SEMANA PASSADA
A Polícia Civil segue investigando o assassinato da técnica em enfermagem Maria Clara Adolfo de Souza, de 21 anos, ocorrido na noite da última quarta-feira (24). A vítima havia acabado de sair de casa, na Rua Belo Jardim, no bairro do Socorro, também Jaboatão, quando foi surpreendida pelos tiros.
O caso está sendo apurado como feminicídio. Parentes contaram à polícia que a vítima estava grávida de quatro meses, mas que o pai do bebê - um policial militar - não aceitava a gestação. O casal se relacionava havia dois anos.
Pouco antes do crime, Maria Clara recebeu um telefonema do namorado informando que iria mandar um dinheiro para ela por um amigo. Ela mandou um áudio para a família dizendo que iria até esse encontro e, poucos minutos depois, os tiros foram disparados.
Os criminosos levaram o celular da vítima. A polícia acredita que essa foi uma estratégia para tentar atrapalhar a investigação.
A Polícia Civil chegou a ir até a casa do policial militar, mas ele não foi encontrado. No dia seguinte, o suspeito se apresentou na sede do DHPP. Acompanhado de uma advogada, ele negou envolvimento no crime. Depois de prestar depoimento, ele foi liberado.