Ferrari de R$ 7 milhões é apreendida em operação contra lavagem de dinheiro e prática de jogos ilegais

Polícia disse que veículo de luxo foi encontrado no Recife nesta sexta-feira (4), mas não informou a quem pertencia. Nove pessoas seguem foragidas

Publicado em 06/09/2024 às 13:57

Dois dias após a deflagração da Operação Integration, que apura crimes de lavagem de dinheiro e prática ilegal de jogos de azar, a Polícia Civil apreendeu um veículo de luxo de modelo Ferrari avaliado em R$ 7 milhões. A apreensão aconteceu no Recife, nesta sexta-feira (6), mas a corporação não informou quem é o dono dele. 

Outros cinco veículos avaliados em mais de R$ 24 milhões foram recolhidos pela polícia na última quarta-feira, quando a operação foi deflagrada pelo País. Dos 19 mandados de prisão preventiva expedidos pela Justiça, dez foram cumpridos - incluindo o da advogada, empresária e influenciadora digital Deolane Bezerra

Em decisão que decretou as prisões preventivas, a juíza Andréa Calado da Cruz afirmou que são fortes os indícios de cometimento de crimes. O JC teve acesso à íntegra da decisão. 

"O panorama financeiro revelado pela investigação indica a existência de uma rede organizada de ocultação de recursos, que parece ter origem em atividades ilícitas. As transações analisadas revelam um padrão sofisticado de lavagem de dinheiro, que compromete gravemente a transparência e a rastreabilidade dos recursos envolvidos", descreveu. 

De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, a investigação aponta uma movimentação de cerca de R$ 3 bilhões, de janeiro de 2019 a maio de 2023, em contas correntes, em aplicações financeiras e dinheiro em espécie, provenientes dos jogos ilegais.

Um dos alvos da operação é a casa de apostas Esportes da Sorte, que tem sede no Recife. 

O empresário Darwin Henrique da Silva Filho, dono da empresa, se entregou à polícia nessa quinta-feira (5), um dia após a operação. A esposa dele, Maria Eduarda Filizola, também se apresentou.

"A análise detalhada dos fluxos financeiros aponta para a presença de uma organização criminosa, denominada ORCRIM (organização criminosa), que está envolvida em diversas atividades ilegais. Entre essas atividades, destacam-se a lavagem de dinheiro, operações de jogo de azar, e a exploração tanto de jogos físicos quanto de jogos online. Essa rede criminosa utiliza métodos complexos e camuflados para disfarçar a origem ilícita dos fundos, mantendo um esquema que desafia os mecanismos convencionais de controle e fiscalização", continuou a magistrada. 

"A gravidade da situação demanda uma resposta robusta e coordenada das autoridades para desmantelar essa estrutura criminosa e restaurar a integridade do sistema financeiro e jurídico. Assim, diante das circunstâncias acima mencionadas deve o Poder Público lançar mão das medidas adequadas à restauração da paz social, a qual pode ser abalada pela conduta delitiva", completou. 

Na decisão, a magistrada ressaltou que houve manifestação do Ministério Público favorável à decretação das prisões, além de outras medidas cautelares, como as buscas e apreensões de bens dos investigados - além de bloqueio de valores milionários.

"Foram identificadas cerca de 34 empresas e pessoas físicas que realizaram transações e movimentações financeiras suspeitas com os investigados. Adicionalmente, os relatórios de informações financeiras enviados pelo COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) destacam movimentações atípicas, incluindo depósitos ou aportes em dinheiro vivo superiores ao limite de R$ 50.000,00 e demais documentos colacionados que demonstram transferências sucessivas atípicas realizada pelos representados, apontando fundados indícios de práticas reiteradas do crime de lavagem de dinheiro por parte dos investigados, ao longo dos últimos anos, indícios esses, mais do que suficientes, que o dinheiro sujo, esteja sendo lavado com aquisição de imóveis e carros de luxo, além de loterias", pontuou a juíza. 

APREENSÕES NA OPERAÇÃO

Na Operação Integration, a polícia já confirmou que conseguiu apreender uma quantia de mais de R$ 454 mil em dinheiro - somando reais, euros, dólares e libras esterlinas.

Duas aeronaves e dois helicópteros avaliados em R$ 127 milhões também estão entre as apreensões. Ainda fazem parte da lista, 37 bolsas femininas de luxo, 76 anéis e 17 joias de diversos modelos e 16 relógios de luxo.

A Polícia Civil de Pernambuco, que coordena as investigações, não detalhou o suposto envolvimento de cada um dos investigados no esquema criminoso.

DEOLANE E A MÃE ESTÃO EM CELA ISOLADA

Reprodução/Redes Sociais
Deolane Bezerra e a mãe, Solange Alves Bezerra, foram presas preventivamente por determinação da Justiça - Reprodução/Redes Sociais

Além de Deolane, a mãe dela, Solange Alves Bezerra, também foi presa preventivamente. Por causa da repercussão do caso, as duas estão em uma cela isolada das demais presas. 

Elas foram presas no Novotel Marina, localizado no Cais de Santa Rita, na área central do Recife. As duas chegaram à capital no fim da semana junto com a família. Apesar de serem pernambucanas, elas moram em São Paulo.

Na sede do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (Depatri), em Afogados, na Zona Oeste, ambas prestaram depoimento. 

A influenciadora digital negou envolvimento em crimes. Ela confirmou que teve contrato com a empresa Esportes da Sorte, com sede no Recife, e que o contrato foi encerrado em maio deste ano.

Deolane afirmou que possuía três contas bancárias para receber pagamentos por trabalhos realizados, mas que todas foram encerradas. E que atualmente tem uma conta digital.

A influenciadora declarou que não emprestou suas contas bancárias para terceiros, nem deixou que outras pessoas movimentassem as contas delas.

No depoimento, Deolane ressaltou que não teve envolvimento com lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores provenientes do crime.

O QUE DIZ O ESPORTES DA SORTE?

Em nota à imprensa, a empresa Esportes da Sorte declarou que "ainda não teve acesso à decisão judicial que autorizou busca e apreensão em sua sede".

"Ressalta, contudo, que, desde março de 2023, tem prestado todos os esclarecimentos necessários nos autos do inquérito policial em curso, através de diversas petições e documentos apresentados pelo escritório Rigueira, Amorim, Caribé e Leitão – Advocacia Criminal", disse.

"As atividades de aposta de cotas fixas da empresa cumprem rigorosamente a Lei n.º 13.756/2018 e Lei 14.790/2023 com excelência jurídico-regulatória e acompanhamento de auditoria independente e sistema de compliance", pontuou a nota.

"A operação policial será impugnada perante o Juízo competente, demonstrando-se que houve interpretação precipitada e equivocada dos fatos apurados, sem qualquer análise ou consideração dos argumentos já apresentados. Tanto é assim que a autoridade policial não apreendeu qualquer objeto, documento ou equipamento na sede da empresa", afirmou o texto.

"A Esportes da Sorte, como sempre esteve, permanece à disposição das autoridades", completou.

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