Capa de Baionada, ilustração de Valeria Rey Soto
A autêntica poesia sertaneja, com poucas exceções, esteve até agora fora da música pop e do rock pernambucano. Lira recorria a ela, mais na época do Cordel do Fogo Encantado, consequência de sua formação, e convívio com declamadores, cantadores, glosadores. Siba Veloso se vale da métrica da poesia popular da Mata Norte em suas canções, que também destilam influência do repente. A dupla Vates & Violas explorou a poesia e a música do Sertão. Nascidoa em região rica em poesia e cantadores, os irmãos Luiz Homero e Miguel Marcondes levaram uma carreira inconstante, e não desenvolveram todo o seu potencial.
Este universo, ainda pouco badalado, à margem do mercado, quase sempre confundido com o cordel, é cantado agora por Adiel Luna. Filho de cantador, crescido em meio a cultura sertaneja, fez um dos mais bem resolvidos álbuns deste gênero híbrido do popular, com influências urbanas, do litoral, que lança domingo, em local que não poderia ser mais apropriado: próximo ao mar, no museu Cais do Sertão, no Marco Zero,
Baionada é o título do álbum, produzido por Juliano Holanda e Areia.
Basicamente um disco de forró, mas forró como o coletivo que abriga os diversos ritmos criados no Nordeste ou aqui adaptados. Podendo ir do baião de viola (
Legado, com participação do pai dele, o repentista Arnaldo Ferreira), o aboio (
Pega o boi), o samba de matuto (
Caco de vidro), e até uma morna, um dos ritmos do Cabo Verde, mesclada com uma mazurca de forte sotaque nordestino (
Eita saudade).
Adiel Luna canta com uma banda formada por Rubem França (violão de oito cordas), Eduardo Buarque (viola de 10 cordas e violão tenor), Thiago Martins, (rabeca), Uana Mahin (percussão e vocais), Johan Bremer (percussão) e Rodrigo Félix (percussão), que o ajudam a fazer um dos grandes discos da música pernambucana até o momento.
Luna segue à risca as métricas, bastante variadas, da cantoria de viola, os ritmos (coco, emboladas, sambas, baiões), mas adiciona a tudo isto o tempero da cultura urbana, e suas variantes, sem forçar barra. As doze faixas do álbum fluem leves e sem acidentes. Composições que, às vezes, lembram o grande Zé Marcolino, pela ausência de pretensão, e alta dosagem de diversão.
Baionada é poesia, e música dos sertões devidamente retrabalhadas, para agradar a sertanejos, ou gente de paladar pouco afeito a tais tipos de manifestações.
Confiram Adiel Luna em
Baionada: