Parque das Aves libera 300 periquitos em novo viveiro e se prepara para presentear visitantes após crise do coronavírus

Para os animais vítimas de maus-tratos, contrabando e tráfico, é tempo de liberdade. Espaço conta com passarela suspensa e permitirá interação dos visitantes com os pássaros
Mona Lisa Dourado
Publicado em 05/04/2020 às 15:36
Viveiro Cecropia tem passarela suspensa, onde os pássaros podem pousar para interagir quando houver visitantes Foto: DIVULGAÇÃO


Enquanto os humanos precisam ficar de quarentena em casa com o objetivo de frear a transmissão do novo coronavírus, para 300 periquitos de 12 espécies vítimas de maus-tratos, contrabando e tráfico de animais, o período é de liberdade. 

Os pássaros ganharam novo lar no Parque das Aves de Foz do Iguaçu (Paraná), que inaugurou na última semana a primeira etapa de um viveiro com 5 mil m2 e 22 metros de altura em meio à mata atlântica. Batizado de Cecropia (em referência às árvores de embaúba), o espaço já é considerado um dos maiores do tipo no mundo e também abrigará em breve cerca de 30 tucanos de quatro espécies.

>> Um roteiro para desbravar Foz do Iguaçu

>> São José da Coroa Grande revela praia quase deserta no Litoral Sul de Pernambuco

>> Só daqui a um ano consumidor vai receber reembolso total de ingresso, diária de hotel e pacote de turismo cancelados por causa do coronavírus

>> Parte dos brasileiros espera viajar dentro e fora do País ainda este ano, apesar do coronavírus

DIVULGAÇÃO - Catorze espécies de periquitos conviverão no Cecropia

Além de servir como ambiente de pesquisa e aprendizado, o lugar será um presente para o público, assim que o parque estiver novamente apto para visitação pós pandemia. "É um viveiro de imersão, que permite entrar e interagir com os animais. Não há uma barreira física. O diferencial é que será possível alimentá-los. As pessoas terão acesso à ração de sementes que faz parte da dieta convencional dos bichos e poderão oferecê-la através de uma colher. Daí, se eles quiserem, se aproximam voando", explica a diretora técnica do Parque das Aves, Paloma Bosso. 

DIVULGAÇÃO - Periquito comendo sementes no novo lar

A veterinária, especialista em comportamento e bem-estar animal, conta que, da concepção do projeto à soltura dos periquitos, o novo viveiro levou cerca de três anos para ficar pronto e contou com a participação de praticamente todos os 250 funcionários do empreendimento. O investimento não foi revelado.

O trabalho envolveu desde a equipe responsável pelo acolhimento e monitoramento dos bichos até tratadores e profissionais de educação ambiental, que preparam os conteúdos educativos, placas e todo o storytelling do passeio.

DIVULGAÇÃO - A diretora técnica do Parque das Aves, Paloma Bosso, destaca necessidade de combater tráfico de animais

Quando puderem voltar ao parque, os visitantes irão transitar por uma passarela suspensa concebida tanto para proteger o meio ambiente quanto para proporcionar melhor ângulo de visão. "Tudo foi estruturado com métodos sustentáveis, sem nenhum dano ao ecossistema, sem utilização de grandes máquinas nem derrubada de árvores", diz a diretora geral do Parque das Aves, Carmel Croukamp, acrescentando que as peças e colunas foram levadas pelos trabalhadores com as próprias mãos para evitar a entrada de caminhões que compactassem o solo.

>> Hotéis de Pernambuco confirmam suspensão de atividades por causa do coronavírus. Prejuízo em Porto de Galinhas é de quase R$ 1 bilhão

>> Igarassu tem atrações por terra, céu e mar no Litoral Norte

A maior parte dos pássaros que chega ao Parque das Aves é proveniente de centros de reabilitação e de triagem de animais silvestres. Muitos não têm condições de voltar aos respectivos ambientes de ocorrência natural. "Além dos resgatados do contrabando, alguns são vítimas do desmatamento, caça e atropelamento. Há os que chegam sem uma perninha, com o bico quebrado… Para regressar à natureza, precisariam saber buscar o alimento, ter condicionamento físico para voar. Tem aqueles tão traumatizados que nem saíram ainda do local intermediário em que estavam antes de abrirmos o viveiro", explica a veterinária, ressaltando a importância de um espaço como o Cecrópia para abrigar os pássaros.

"Talvez os filhotes deles possam ser reintroduzidos em um processo de conservação no futuro " - Paloma Bosso
DIVULGAÇÃO - Alguns periquitos ficam mais ressabiados e demoram a sair para novo viveiro

Paloma chama a atenção para a necessidade de combate ao tráfico de animais silvestres. "A venda ilegal traz consequências desastrosas para todo o ecossistema, inclusive ao ser humano. O melhor a fazer é não estimulá-la direta ou indiretamente, nem por pena do animal. É recusar e denunciar", orienta. Ela lembra que algumas espécies de periquito podem ser criadas no ambiente doméstico, mas, para isso, é preciso fazer a compra em estabelecimentos autorizados, com nota fiscal. Neste caso, os bichos são monitorados através de uma anilha de identificação e/ou microchip.

DIVULGAÇÃO - Aos poucos, ganham coragem para conhecer a nova casa

Enquanto o Parque das Aves não é reaberto, turistas e amantes dos animais em geral podem acompanhar as atividades via redes sociais e lives transmitidas pelos poucos trabalhadores que permanecem se revezando para cuidar dos pássaros. "Foi a forma que encontramos de levar alegria e fazer um carinho no coração das pessoas." 

CONHEÇA A HISTÓRIA DO PARQUE DAS AVES 

Do sonho de uma veterinária alemã e um piloto do Zimbábue nasceu em Foz do Iguaçu um dos maiores centros de preservação de pássaros da América Latina. Aberto em 1994 pelo casal Anna-Sophie Helene e Dennis Croukamp, o Parque das Aves já é a segunda atração mais visitada da cidade, depois das Cataratas. Em média, são 830 mil turistas por ano.

Não é para menos. Em 16 hectares de área, o espaço abriga mais de 1.400 aves, de cerca de 150 espécies, quase metade delas resgatadas do tráfico de animais ou em risco de extinção. “Outra parte é resultado do trabalho de reprodução de espécies nativas que desenvolvemos aqui. Várias são reintroduzidas na mata”, conta Carmel Croukamp, atual administradora, que herdou dos pais e da vida na Namíbia, onde nasceu, o amor pela natureza.

DIVULGAÇÃO - Carmel Croukamp destaca sustentabilidade do Parque das Aves

Todos os detalhes do parque são pensados para promover essa integração. Logo na entrada, os visitantes são recepcionados por periquitos, pavões e papagaios. A cada passo na trilha de pouco mais de 1 km, são surpreendidos por elegantes flamingos, mutuns, faisões e até harpias, uma das maiores aves de rapina do mundo.

Na maioria dos viveiros, é permitida a entrada dos visitantes, que, não importa a idade, viram criança ao interagir com tucanos, araras e borboletas das mais diversas tonalidades. Cobras sucuri, jiboias e jacarés de papo-amarelo dividem a atenção com as aves, que em breve também ganharão a companhia de preguiças.

INFORMAÇÕES GERAIS

A entrada para o parque custa R$ 60 para brasileiros e estrangeiros, exceto moradores de Foz e arredores, que pagam R$ 10. Para crianças de até 8 anos, é grátis, e há meia entrada para estudantes e idosos. Vale lembrar que parte da renda obtida com o turismo, é revertida para o tratamento das aves, a manutenção do parque e as atividades de pesquisa. Mais: www.parquedasaves.com.br.

TAGS
parques animais sustentabilidade passeio
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory