Enquanto os humanos precisam ficar de quarentena em casa com o objetivo de frear a transmissão do novo coronavírus, para 300 periquitos de 12 espécies vítimas de maus-tratos, contrabando e tráfico de animais, o período é de liberdade.
Os pássaros ganharam novo lar no Parque das Aves de Foz do Iguaçu (Paraná), que inaugurou na última semana a primeira etapa de um viveiro com 5 mil m2 e 22 metros de altura em meio à mata atlântica. Batizado de Cecropia (em referência às árvores de embaúba), o espaço já é considerado um dos maiores do tipo no mundo e também abrigará em breve cerca de 30 tucanos de quatro espécies.
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Além de servir como ambiente de pesquisa e aprendizado, o lugar será um presente para o público, assim que o parque estiver novamente apto para visitação pós pandemia. "É um viveiro de imersão, que permite entrar e interagir com os animais. Não há uma barreira física. O diferencial é que será possível alimentá-los. As pessoas terão acesso à ração de sementes que faz parte da dieta convencional dos bichos e poderão oferecê-la através de uma colher. Daí, se eles quiserem, se aproximam voando", explica a diretora técnica do Parque das Aves, Paloma Bosso.
A veterinária, especialista em comportamento e bem-estar animal, conta que, da concepção do projeto à soltura dos periquitos, o novo viveiro levou cerca de três anos para ficar pronto e contou com a participação de praticamente todos os 250 funcionários do empreendimento. O investimento não foi revelado.
O trabalho envolveu desde a equipe responsável pelo acolhimento e monitoramento dos bichos até tratadores e profissionais de educação ambiental, que preparam os conteúdos educativos, placas e todo o storytelling do passeio.
Quando puderem voltar ao parque, os visitantes irão transitar por uma passarela suspensa concebida tanto para proteger o meio ambiente quanto para proporcionar melhor ângulo de visão. "Tudo foi estruturado com métodos sustentáveis, sem nenhum dano ao ecossistema, sem utilização de grandes máquinas nem derrubada de árvores", diz a diretora geral do Parque das Aves, Carmel Croukamp, acrescentando que as peças e colunas foram levadas pelos trabalhadores com as próprias mãos para evitar a entrada de caminhões que compactassem o solo.
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A maior parte dos pássaros que chega ao Parque das Aves é proveniente de centros de reabilitação e de triagem de animais silvestres. Muitos não têm condições de voltar aos respectivos ambientes de ocorrência natural. "Além dos resgatados do contrabando, alguns são vítimas do desmatamento, caça e atropelamento. Há os que chegam sem uma perninha, com o bico quebrado… Para regressar à natureza, precisariam saber buscar o alimento, ter condicionamento físico para voar. Tem aqueles tão traumatizados que nem saíram ainda do local intermediário em que estavam antes de abrirmos o viveiro", explica a veterinária, ressaltando a importância de um espaço como o Cecrópia para abrigar os pássaros.
Paloma chama a atenção para a necessidade de combate ao tráfico de animais silvestres. "A venda ilegal traz consequências desastrosas para todo o ecossistema, inclusive ao ser humano. O melhor a fazer é não estimulá-la direta ou indiretamente, nem por pena do animal. É recusar e denunciar", orienta. Ela lembra que algumas espécies de periquito podem ser criadas no ambiente doméstico, mas, para isso, é preciso fazer a compra em estabelecimentos autorizados, com nota fiscal. Neste caso, os bichos são monitorados através de uma anilha de identificação e/ou microchip.
Enquanto o Parque das Aves não é reaberto, turistas e amantes dos animais em geral podem acompanhar as atividades via redes sociais e lives transmitidas pelos poucos trabalhadores que permanecem se revezando para cuidar dos pássaros. "Foi a forma que encontramos de levar alegria e fazer um carinho no coração das pessoas."
Do sonho de uma veterinária alemã e um piloto do Zimbábue nasceu em Foz do Iguaçu um dos maiores centros de preservação de pássaros da América Latina. Aberto em 1994 pelo casal Anna-Sophie Helene e Dennis Croukamp, o Parque das Aves já é a segunda atração mais visitada da cidade, depois das Cataratas. Em média, são 830 mil turistas por ano.
Não é para menos. Em 16 hectares de área, o espaço abriga mais de 1.400 aves, de cerca de 150 espécies, quase metade delas resgatadas do tráfico de animais ou em risco de extinção. “Outra parte é resultado do trabalho de reprodução de espécies nativas que desenvolvemos aqui. Várias são reintroduzidas na mata”, conta Carmel Croukamp, atual administradora, que herdou dos pais e da vida na Namíbia, onde nasceu, o amor pela natureza.
Todos os detalhes do parque são pensados para promover essa integração. Logo na entrada, os visitantes são recepcionados por periquitos, pavões e papagaios. A cada passo na trilha de pouco mais de 1 km, são surpreendidos por elegantes flamingos, mutuns, faisões e até harpias, uma das maiores aves de rapina do mundo.
Na maioria dos viveiros, é permitida a entrada dos visitantes, que, não importa a idade, viram criança ao interagir com tucanos, araras e borboletas das mais diversas tonalidades. Cobras sucuri, jiboias e jacarés de papo-amarelo dividem a atenção com as aves, que em breve também ganharão a companhia de preguiças.
A entrada para o parque custa R$ 60 para brasileiros e estrangeiros, exceto moradores de Foz e arredores, que pagam R$ 10. Para crianças de até 8 anos, é grátis, e há meia entrada para estudantes e idosos. Vale lembrar que parte da renda obtida com o turismo, é revertida para o tratamento das aves, a manutenção do parque e as atividades de pesquisa. Mais: www.parquedasaves.com.br.